Crianças imigrantes são separadas dos pais nos EUA após decisão judicial
A partir de 21 de junho, um dia após Trump assinar o decreto, 76 adultos foram separados das crianças
Estadão Conteúdo
Publicado em 6 de dezembro de 2018 às 15h57.
Washington - O governo de Donald Trump separou desde junho deste ano 81 crianças imigrantes dos seus pais na fronteira entre os Estados Unidos e o México. A prática havia sido proibida por Trump e validada pela Justiça americana em junho deste ano, após pressão internacional.
Autoridades de imigração podem separar a criança do parente somente em certos casos: sérias acusações criminais contra o pai ou mãe ou preocupações sobre a saúde e o bem-estar da criança, além de questões médicas. Esses avisos já estavam em vigência antes da política de tolerância zero que causou as primeiras separações na fronteira.
A partir de 21 de junho, um dia após Trump assinar o decreto, 76 adultos foram separados das crianças, segundo os dados do relatório. Desses, 51 foram criminalmente acusados (31 com histórico criminal e 20 por razões não especificadas), 9 foram hospitalizados, 10 tinham ligações com gangues, 4 tinham mandados de extradição e 2 foram separados por causa de violações de imigração e de ordens de remoção.
"O bem-estar das crianças em custódia é crucial", disse a porta-voz do departamento de Segurança Nacional, Katie Waldman, que supervisiona a polícia de imigração. "Como nós já dissemos, e os números mostram, as separações são raras. Enquanto há um breve aumento durante o período de tolerância zero, com mais adultos acusados, os números retornaram aos níveis anteriores."
Separações na fronteira
Durante o verão americano, mais de 2.400 crianças foram separadas. A prática levantou uma pressão global de grupos políticos, humanitários e religiosos que a consideraram cruel e impiedosa. Imagens de crianças chorando e de pais angustiados e confusos foram transmitidas na televisão e publicadas nos jornais.
De acordo com os dados do governo, de 19 de abril a 30 de setembro, 170 famílias foram separadas porque não havia parentesco entre os membros, o que incluiu 197 adultos e 139 menores de idade. Isso pode incluir avós ou outros parentes caso não haja provas da relação.
No ano fiscal de 2017, que começou em outubro de 2016 e terminou em setembro seguinte, 1.065 famílias foram separadas, o que significa uma criança e um parente. No total, 46 foram devido a fraude e o restante devido a preocupações médicas ou de segurança.
Waldman disse que os dados mostram "inequivocamente que contrabandistas, traficantes de pessoas e agentes nefastos estão tentando usar centenas de crianças para tirar proveito das leis de imigração, na esperança de ganhar entrada para os Estados Unidos".
Milhares de imigrantes chegaram da América Central nas últimas semanas em caravanas. O republicano Trump usou os poderes de segurança nacional para regularizar os pedidos negados de asilo a qualquer um que tentar cruzar a fronteira ilegalmente, mas um juiz interrompeu o pedido enquanto hoje a ação judicial está em andamento.
A política de zero tolerância adotada neste ano foi feita para deter as famílias de cruzar a fronteira ilegalmente. Mas a medida pegou algumas agências federais desprevenidas. Não houve rastreamento dos pais com as crianças, muito porque, depois de 72 horas, as crianças iam para uma agência diferente, o Departamento de Saúde e Serviços Humanos, que foi encarregado de cuidar do assunto.
Um relatório de outubro do departamento de Segurança Nacional descobriu que funcionários de imigração não estavam preparados para lidar com as consequências da política. A confusão na fronteira levou a desinformação entre os pais separados que não tinham como saber por que as crianças foram tiradas deles ou como chegar a elas. Uma detenção maior das crianças significa, no curto prazo, dificuldades em identificar e reunir as famílias.