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Covid-19 lota hospitais no Sul dos EUA, com recorde de mortes

“Temos discutido colocar pessoas em salas de fluoroscopia e radiologia ou até em tendas”, diz médico. “Estamos reposicionando as cadeiras no Titanic”

Empregado do lado de fora de um hotel em Miami Beach, na Flórida (Jayme Gershen/Bloomberg/Getty Images)

Empregado do lado de fora de um hotel em Miami Beach, na Flórida (Jayme Gershen/Bloomberg/Getty Images)

João Pedro Caleiro

João Pedro Caleiro

Publicado em 10 de julho de 2020 às 13h44.

Última atualização em 10 de julho de 2020 às 13h45.

A impiedosa marcha do coronavírus por toda a faixa sul dos EUA está matando gente em níveis recordes, lotando hospitais e esgotando recursos. E embora alguns governantes tenham contraído a doença, eles não foram capazes de conter sua disseminação.

Na quinta-feira, o governador Ron DeSantis não propôs novas restrições após a Flórida se juntar ao Texas e à Califórnia no registro de um número sem precedentes de óbitos.

O governador do Arizona, Doug Ducey, prometeu mais testes e limitou a capacidade dos restaurantes depois que o estado contabilizou o maior número de casos em seis dias.

No Mississippi, onde muitos parlamentares tinham se recusado a usar máscaras nas dependências da assembleia, 26 deles testaram positivo, incluindo os líderes das duas câmaras legislativas estaduais.

Pela primeira vez na quinta-feira, o número de novos casos do coronavírus nos EUA passou de 60.000 em um dia. E nos estados onde a doença se espalha, as instalações médicas estão lotadas e não conseguem lidar com tanta gente doente ou perto da morte.

Quinn Snyder, médico especializado em emergências em Mesa, perto de Phoenix, conta que os pacientes estão chegando de outras partes do Arizona e até do Novo México, uma vez que os hospitais menores estão com capacidade praticamente esgotada.

“Temos discutido colocar pessoas em salas de fluoroscopia, salas de radiologia, até abrigar as pessoas em tendas”, disse Snyder. “Estamos reposicionando as cadeiras no Titanic agora mesmo.”

Os números assustadores e a falta de recursos mostram que os governos estaduais e federal não se prepararam para o avanço da pandemia, iniciado há quatro meses.

Imagens e relatos agonizantes na região Nordeste do país na chegada da pandemia não foram suficientes para convencer estados do Sul — muitos deles comandados por republicanos que apoiam o presidente Donald Trump — a se preparar adequadamente.

Mesmo quando as autoridades estaduais tomam medidas para conter a propagação da doença, seus efeitos demoram. Por isso, o número de casos e óbitos provavelmente continuará aumentando.

“Não estamos em uma boa situação. Talvez isso seja um eufemismo. O que eu penso de verdade provavelmente não pode ser publicado”, disse Jaline Gerardin, especialista em modelagem de doenças e professora assistente de medicina preventiva em epidemiologia na Faculdade de Medicina Feinberg, da Universidade Northwestern, em Chicago. “Estou muito preocupada.”

Recorde de óbitos

Na Flórida, o recorde diário de 120 óbitos contabilizados na quinta-feira não foi mencionado durante a entrevista coletiva de DeSantis, em Jacksonville.

Em vez disso, ele usou a entrevista para insistir que a economia estadual teve de avançar e que as escolas serão reabertas no mês que vem, como exigiu Trump.

“No fim das contas, precisamos que nossa sociedade funcione”, disse o governador. “Precisamos que nossa sociedade continue avançando. Podemos tomar medidas para minimizar o risco em se tratando do coronavírus, mas não podemos simplesmente deixar a sociedade derrubada.”

O número de internações e testes positivos também disparou. O total de pacientes que necessitam de ventiladores continuou a subir no condado mais populoso do estado, Miami-Dade.

“Estamos sem palavras para descrever nossa situação agora”, disse Jill Roberts, professora associada da Faculdade de Saúde Pública da Universidade do Sul da Flórida e especialista em doenças emergentes. “Estamos em péssimas condições aqui.”

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