Míssil: lançamento aconteceu durante o desfile militar que comemorou os 75 anos da fundação do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que comanda o país (Reuters/Reprodução)
Mariana Martucci
Publicado em 10 de outubro de 2020 às 10h47.
A Coreia do Norte apresentou novas armas neste sábado, incluindo a nova geração do seu míssil balístico intercontinental (ICBM) capaz de carregar ogivas nucleares, durante o desfile militar que comemorou os 75 anos da fundação do Partido dos Trabalhadores da Coreia, que comanda o país.
Em discurso, o líder norte-coreano Kim Jong Un disse que pode mobilizar seu exército e aparato nuclear em caso de ameaças ao país.
Kim evitou criticar os Estados Unidos diretamente, focando em questões internas, agradecendo os esforços que a população do país vem fazendo para superar os desafios enormes causados pela pandemia do novo coronavírus e as sanções norte-americanas que virtualmente bloqueiam a economia local para o resto do mundo.
O líder norte-coreano também fez um aceno à vizinha Coreia do Sul, dizendo que tem esperança que os dois países retomem as negociações bilaterais após o fim da pandemia. As conversas estão suspensas desde o impasse com os EUA sobre o projeto nuclear de Pyongyang.
A agência de notícias estatal KCNA informou que o presidente da China, Xi Jinping, enviou uma carta à Kim parabenizando o aniversário do partido e também se comprometendo a continuar a "defender, consolidar e desenvolver" as relações bilaterais entre os dois países.
Acredita-se que a Coreia do Norte continue desenvolvendo seu arsenal, supostamente para se proteger dos Estados Unidos, após o fracasso da cúpula de Hanói com o presidente americano Donald Trump em fevereiro do ano passado.
Analistas apostam que o país está desenvolvendo um novo míssil balístico submarino (SLBM) ou míssil balístico intercontinental (ICBM) capaz de atingir os Estados Unidos e escapar dos sistemas de defesa americanos.
A comemoração do aniversário do Partido dos Trabalhadores significa que a Coreia do Norte "tem uma necessidade política e estratégica de exibir algo grande", interpretou Sung-yoon Lee, um professor coreano da Universidade Tufts, nos Estados Unidos.
A demonstração de armas mais avançadas "marcará um grande passo à frente na capacidade real de ameaça de Pyongyang", assegurou.
Ao contrário de outras ocasiões, a imprensa estrangeira não foi autorizada a assistir ao desfile e, como muitas embaixadas estão fechadas por causa do coronavírus, quase não havia observadores estrangeiros na cidade.
A embaixada russa em Pyongyang postou uma mensagem em sua página do Facebook pedindo aos diplomatas e outros representantes internacionais que não "se aproximem ou tirem fotos" das comemorações.
No final de dezembro, Kim ameaçou revelar uma "nova arma estratégica", mas analistas acreditam que Pyongyang tentará não arriscar suas chances com Washington antes da próxima eleição presidencial americana em novembro.
Ostentar suas armas estratégicas em um desfile militar "seria consistente com a promessa de Kim Jong Un", embora, por outro lado, não seja do interesse de "provocar os Estados Unidos testando uma arma estratégica", apontou Rachel Lee, ex-conselheira do governo americano sobre a Coreia do Norte.
Por sua vez, Harry Kazianis, do Centro de Interesses Nacionais, alertou para o risco de que a presença de milhares de pessoas se torne um "grande propagador" do coronavírus, se não forem tomadas "precauções extremas".
O precário sistema de saúde neste país empobrecido teria dificuldade em lidar com um surto massivo, embora acredite que as medidas de prevenção pareçam improváveis.
A Rússia é, ainda, o país com o maior número de armas nucleares segundo a Campanha Internacional para Banir Armas Nucleares (ICAN, na sigla em inglês), com um arsenal que conta com mais de 6 mil armas do tipo. Em seguida, vem os Estados Unidos. Ambos os países, mesmo após o final da Guerra Fria, se mantiveram firmes e fortes na produção de arsenal bélico.
O Japão, mesmo sem aparecer na lista de países com um arsenal nuclear, tem tentado encontrar formas de fortalecer seu poder militar ao mesmo tempo em que relembra um dos maiores acidentes de sua história.