Exame logo 55 anos
Remy Sharp
Acompanhe:

Controversa, "caixa para abandonar bebês" salva vidas no Japão

O hospital católico de Kumamoto, na ilha de Kyushu, criou em 2007 este sistema que permite que um bebê seja abandonado anonimamente

Modo escuro

Continua após a publicidade
A "caixa para bebês" do hospital Jikei de Kumamoto, no sudoeste do Japão, em 10 de junho de 2022

 (AFP/AFP)

A "caixa para bebês" do hospital Jikei de Kumamoto, no sudoeste do Japão, em 10 de junho de 2022 (AFP/AFP)

A
AFP

Publicado em 22 de julho de 2022 às, 16h05.

Última atualização em 22 de julho de 2022 às, 16h18.

Quando o alarme soa no hospital Jikei, no sudoeste do Japão, as enfermeiras sobem uma escada em espiral para recolher o mais rápido possível os recém-nascidos abandonados na "caixa de bebês" do centro médico, a única no país.

Este hospital católico de Kumamoto, na ilha de Kyushu, criou em 2007 este sistema que permite que um bebê seja abandonado anonimamente. E oferece outros serviços, como um programa de parto sem identificação, também único no Japão.

Essas iniciativas valeram críticas ao centro médico, mas seu responsável médico, Takeshi Hasuda, argumenta que funcionam como uma rede de segurança vital. "Há mulheres que têm vergonha e muito medo" pelo sentimento de "ter feito algo horrível" por terem engravidado, explica à AFP.  "Um lugar como o nosso, que não rejeita ninguém, (...), é muito importante" para essas jovens mães angustiadas.

Ao ouvirem o alarme, as enfermeiras tentam chegar em menos de 1 minuto à "caixa para bebês", decorada com um par de cegonhas e equipada com uma pequena cama cuidadosamente preparada. "Se as mães ainda estiverem por perto, sugerimos que compartilhem sua história", conta Saori Taminaga, funcionária do hospital.

LEIA TAMBÉM: Conheça o azeite de oliva feito para crianças e bebês (e os benefícios)

A equipe procura garantir a saúde das mães, ouvindo-as e orientando-as, e as incentiva a deixar informações que permitirão à criança conhecer suas origens posteriormente.

Há caixas para bebês abandonados espalhadas pelo mundo há séculos e sobrevivem hoje, por exemplo, na Alemanha, Bélgica, Coreia do Sul e Estados Unidos. Seu retorno em alguns países europeus no início dos anos 2000 foi criticado pela ONU, que considerou que ia "contra o direito da criança de ser conhecida e cuidada por seus pais".

O Hospital Jikei estima, no entanto, que sua caixa é um meio de prevenir os maus-tratos à criança no Japão. No país, a polícia registrou 27 abandonos de crianças em 2020, e 57 crianças morreram vítimas de abusos em 2019. De acordo com o dr. Hasuda, algumas crianças acolhidas são "frutos de prostituição, estupro, ou incesto", e suas mães não têm a quem recorrer.  Ao todo, 161 bebês e crianças pequenas foram deixadas em Jikei desde 2007.

O sistema continua, porém, a ter problemas para ser aceito no Japão, principalmente por causa de uma visão tradicional da família, de acordo com Chiaki Shirai, professora da Universidade de Shizuoka e especialista em questões reprodutivas e adoção. O país usa um sistema de registro familiar que inclui os nascimentos, óbitos e casamentos de uma família por gerações. Esse pilar do aparato administrativo também molda visões sobre a estrutura familiar.

A "caixa para bebês" do hospital Jikei

A "caixa para bebês" do hospital Jikei

Isso "fixou na sociedade japonesa a ideia de que quem deu à luz um filho deve criá-lo", a ponto de os filhos serem considerados quase "propriedade" dos pais, explica Shirai. "As crianças abandonadas, cujo registro indica que não têm família, são fortemente estigmatizadas", acrescenta.

Apesar do anonimato oferecido pelo sistema, os serviços de proteção à criança geralmente tentam encontrar a família de crianças abandonadas em Jikei. Dessa forma, cerca de 80% deles descobriram a identidade de sua família, e 20% encontraram seus pais, ou parentes.

O hospital também propõe um serviço de atendimento telefônico à maternidade, que recebe milhares de ligações por ano, e um programa de parto não identificado, visando a evitar partos domiciliares não assistidos.

Embora quase não tenha sido usado até agora (apenas dois partos ocorreram dessa maneira), esse sistema também não é aprovado por unanimidade, e o governo, sem declará-lo ilegal, não quis regularizá-lo.

Chiaki Shirai ressalta que as mulheres que usam a caixa para bebês, ou dão à luz sem identificação, são muitas vezes criticadas por não terem escolhido outras alternativas como o aborto, que é legal no Japão, mas muito caro.

A sociedade prefere culpar as mulheres, e sua "motivação" para simpatizar com elas, ou ajudá-las, "é baixa, ou totalmente inexistente", lamenta o dr. Hasuda.

LEIA TAMBÉM: 

Dormir em pé: empresas se unem para criar cama vertical no Japão

Últimas Notícias

Ver mais
Lula coversa com Maduro sobre crise com a Guiana

Mundo

Lula coversa com Maduro sobre crise com a Guiana

Há 5 horas

Navio chinês dispara canhões d'água contra barcos filipinos em área em disputa; veja vídeo

Mundo

Navio chinês dispara canhões d'água contra barcos filipinos em área em disputa; veja vídeo

Há 6 horas

Em meio à crise com a Guiana, Venezuela vê inflação chegar a 182% em 2023

Mundo

Em meio à crise com a Guiana, Venezuela vê inflação chegar a 182% em 2023

Há 6 horas

Por que um conflito entre Guiana e Venezuela parece improvável?

Mundo

Por que um conflito entre Guiana e Venezuela parece improvável?

Há 7 horas

Continua após a publicidade
icon

Branded contents

Ver mais

Conteúdos de marca produzidos pelo time de EXAME Solutions

Lead Energy quer reduzir R$ 1 bi na conta de luz dos brasileiros até 2027

Lead Energy quer reduzir R$ 1 bi na conta de luz dos brasileiros até 2027

Ceará deve se tornar um dos maiores produtores do combustível do futuro

Ceará deve se tornar um dos maiores produtores do combustível do futuro

“O número de ciberataques tem crescido 20% ao ano”, diz a Huawei

“O número de ciberataques tem crescido 20% ao ano”, diz a Huawei

“A geração de energia caminha lado a lado com o desenvolvimento econômico”, diz Paulo Câmara

“A geração de energia caminha lado a lado com o desenvolvimento econômico”, diz Paulo Câmara

Exame.com

Acompanhe as últimas notícias e atualizações, aqui na Exame.

Leia mais