Donald Trump: "Estas são as notícias reais" é o slogan de uma série de boletins semanais (Kevin Lamarque/Reuters)
EFE
Publicado em 7 de agosto de 2017 às 20h27.
Última atualização em 7 de agosto de 2017 às 20h36.
Washington - A campanha do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deu um passo além em seu desdém pelos meios de comunicação tradicionais ao lançar no Facebook uma série de vídeos de notícias favoráveis ao governante que os seus críticos compararam com os produtos de propaganda em países autoritários.
"Estas são as notícias reais" é o slogan de uma série de boletins semanais que neste domingo transmitiu seu segundo capítulo na página pessoal do Facebook do governante americano, com fundos proporcionados pela campanha de reeleição de Trump.
Durante meses, Trump corroeu a confiança de milhões de americanos nos meios de comunicação tradicionais, acusando-os de dar "notícias falsas" (as famosas "Fake News"), e buscou preencher esse vazio com seus tweets, que transmitem sua mensagem diretamente à sua base eleitoral.
Convencido de que os meios não lhe dão o crédito que merece, o presidente costuma chamar a atenção no Twitter sobre os temas que, em seu julgamento, não receberam uma cobertura midiática suficientemente favorável, como fez hoje com as sanções recém impostas à Coreia do Norte pelo Conselho de Segurança da ONU.
A nova série de "notícias reais" dá um passo a mais, ao apresentar a seus eleitores uma alternativa à informação que consumem por televisão ou internet, e garantir que com esses vídeos semanais, de pouco mais de um minuto, poderão estar em dia com o rumo do país.
"Aposto que vocês não souberam de tudo o que o presidente conseguiu nesta semana, porque há muitas notícias falsas aí fora", disse a nora do presidente, Lara Trump, no primeiro vídeo da série, divulgado no último dia 30 de julho.
A esposa de Eric Trump, o terceiro filho do governante, passou a citar os bons dados econômicos do país, os contatos do presidente com veteranos de guerra e a sua decisão de doar seu salário do segundo trimestre ao Departamento de Educação.
"Este é um presidente que está pondo os Estados Unidos na frente de si mesmo. Estou tão orgulhosa disso", afirmou Lara Trump.
Na segunda parte da série, divulgada neste domingo, uma ex-comentarista da emissora de televisão "CNN", Kayleigh McEnany, substituiu a nora do governante.
"O presidente Trump claramente devolveu a economia à direção adequada", disse no vídeo McEnany, que atribuiu diretamente às políticas do governante os bons dados de criação de emprego e confiança dos consumidores em julho.
McEnany, que hoje foi nomeada como nova porta-voz do Comitê Nacional Republicano (RNC, secretariado do partido), destacou também o respaldo de Trump a um projeto de lei para diminuir a imigração legal aos EUA, algo que definiu como uma decisão de "dar prioridade ao trabalhador americano".
Usar as redes sociais para divulgar diretamente mensagens políticas não é uma prática nova nos Estados Unidos e a Casa Branca do ex-presidente Barack Obama costumava produzir vídeos que resumiam as atividades de cada semana e eram transmitidas em distintas plataformas.
O que preocupou vários analistas é o uso da frase "notícias reais" para promover o esforço propagandístico, em contraste com o rótulo de "falsos" que Trump aplica regularmente aos principais jornais e canais de televisão do país.
"O que fazem é acentuar o positivo, mas para ter uma ideia mais completa das coisas é preciso recorrer aos meios de comunicação livres", disse à emissora "NBC' o professor de política na Universidade de Columbia, Robert Shapiro.
Nesse sentido, o uso da marca "notícias reais" para descrever os vídeos "lembra à Alemanha nazista", opinou Shapiro.
No mesmo sentido, Michael McFaul, que foi embaixador americano na Rússia entre 2012 e 2014, escreveu recentemente no Twitter que a série de notícias de Trump lhe lembra "de forma horrível vários canais de notícias de propriedade do Estado" que viu "em outros países".
No ano passado, a campanha de Trump já flertou com a ideia de lançar o seu próprio canal de televisão se o magnata perdesse as eleições e alguns viram na nova série, que por enquanto tem uma audiência muito limitada, o embrião de uma possível nova empresa.
"Eu adoro. Deveriam transmiti-lo na televisão, com o seu próprio canal, para tirar do negócio os corruptos meios de comunicação", escreveu uma seguidora de Trump chamada Kay Jones em um comentário na segunda parte da série no Facebook.