Como os negócios com petróleo viraram poço de corrupção na Venezuela
Produção venezuelana, que ultrapassava os 3 milhões de barris diários há 15 anos, despencou para cerca de 800.000
Agência de notícias
Publicado em 27 de abril de 2024 às 06h01.
Politização, negócios escusos, malversação de fundos, auditorias maquiadas: a corrupção na indústria petroleira da Venezuela é um monstro que devorou bilhões de dólares nos últimos 20 anos.
A imagem do ex-ministro do Petróleo Tareck El Aissami algemado é o exemplo mais recente da corrupção na estatal Petróleos de Venezuela (Pdvsa): o desvio de receitas pela venda de petróleo por meio de criptoativos, em um mecanismo fracassado idealizado para driblar as sanções dos Estados Unidos.
O rombo nesse caso chega a quase 17 bilhões de dólares, estima a ONG Transparência Venezuela, e já há cerca de 60 presos, incluindo El Aissami, colaborador próximo do presidente Nicolás Maduro, de quem chegou a ser vice-presidente, e de seu antecessor, Hugo Chávez (1999-2013).
Não é um caso isolado. Rafael Ramírez, ministro de Petróleo entre 2002 e 2014 e ex-presidente da Pdvsa de 2004 a 2014, é fugitivo na Itália, enquanto Eulogio del Pino e Nelson Martínez, que também ocuparam esses dois cargos, foram presos. Martínez morreu na prisão.
Maduro designou El Aissami ministro do Petróleo em 2020 para "reestruturar" a Pdvsa e limpá-la após as acusações contra Ramírez, mas acabou preso por uma das 31 investigações vinculadas à indústria petroleira realizadas pelo Ministério Público desde 2017. Desde então, já foram efetuadas 308 prisões.
A produção venezuelana de petróleo, que ultrapassava os 3 milhões de barris diários há 15 anos, despencou para os cerca de 800.000 atuais.
"Infelizmente a Pdvsa foi durante muito tempo a mãe da corrupção, porque era a único entidade no país que gerava divisas e gerava muitos dólares... era a grande exportadora", disse à AFP Mercedes de Freitas, diretora-executiva da Transparência Venezuela.
A Venezuela está entre os quatro países mais corruptos do mundo ao lado do Sudão do Sul, Síria e Somália, segundo o Índice de Percepção da Corrupção (IPC) da Transparência Internacional.
A corrupção na Pdvsa tem sido onipresente: desde o roubo de televisões, computadores e até mesmo retirar veículos oficiais para passeios até subornos milionários e contratos inflacionados.
Maduro, que está buscando a reeleição em 28 de julho, propôs reformar a Constituição para aumentar a pena máxima de prisão de 30 anos para prisão perpétua e aplicá-la a crimes de corrupção. "Temos que ser implacáveis, seja quem for que caia", disse ele após a prisão de El Aissami.
Pedro Tellechea, responsável pela Pdvsa desde janeiro de 2023 e ministro do petróleo após a renúncia de El Aissami, diz que um dos pilares de sua administração é "limpar" o setor com auditorias e até mesmo câmeras para monitorar as negociações de petróleo bruto.
Ele disse em uma reunião com jornalistas que "nenhum dinheiro é pedido" aos empresários e "todos os desvios que encontramos em uma auditoria vão diretamente para o Ministério Público".