Aniversário de 70 anos da Revolução Comunista na China: inspirados por celebridades patrióticas, jovens inundam redes sociais com postagens defendendo a China (Monika Deupala)
Gabriela Ruic
Publicado em 14 de outubro de 2019 às 15h00.
Última atualização em 14 de outubro de 2019 às 15h00.
Para Linda Li, apoiar sua boy band favorita vai além de apenas comprar músicas e assistir a shows: ela também publica regularmente slogans nacionalistas pró-China nas redes sociais.
A estudante de 19 anos é fã da sensação pop chinesa TFBOYS. Em 2015, um integrante do grupo participou de uma conferência com jovens organizada pela Liga da Juventude Comunista - uma organização partidária de onde surgiram líderes importantes como o ex-presidente Hu Jintao. Desde então, a banda participa regularmente de eventos do partido, é destaque na mídia estatal e lançou um remake pop do hino “Nós Somos os Herdeiros do Comunismo”, que incluiu uma participação especial da estrela do basquete Yao Ming.
“A Liga da Juventude Comunista tem usado ídolos para atrair jovens e sabemos disso”, disse Li, que estuda em Sydney, na Austrália. “Mas, para meus ídolos sobreviverem no mercado e prosperarem, é isso que precisam fazer. Então, comentaremos de forma patriótica sob seus posts.”
O sucesso do Partido Comunista em fomentar o nacionalismo entre os jovens é resultado, em parte, de anos de esforços para encontrar maneiras de cooptar a obsessiva cultura de celebridades do país.
A estratégia é uma entre as várias que o governo chinês tem usado para doutrinar jovens, fortalecendo uma das ferramentas mais úteis na formação da opinião pública: um exército de guerreiros on-line que ajudam a estimular o nacionalismo no país e atravessam a Grande Muralha para postar mensagens pró-China em plataformas proibidas no continente.
Agora, esses esforços dão resultados, já que a China está sob escrutínio internacional diante dos protestos pró-democracia em Hong Kong, detenção em massa de muçulmanos em Xinjiang e medidas para punir a Associação Nacional de Basquete dos EUA, além de empresas que não aderem à visão de mundo de Pequim. Mas, para a China, a estratégia pode sair pela culatra se não for aplicada adequadamente.
“O partido trabalhou duro para equiparar o patriotismo ao apoio ao PCC, mas sempre existe o risco de a raiva nacionalista se voltar contra o governo por não servir aos interesses do povo de maneira eficaz”, afirmou Jessica Chen Weiss, professora associada da Universidade Cornell e autora de “Powerful Patriots: Nationalist Protest in China’s Foreign Relations” (Poderosos Patriotas: Protesto Nacionalista nas Relações Exteriores da China).
Pesquisas mostram que as gerações mais jovens são mais militantes, mas não necessariamente mais nacionalistas: “Há uma menor tendência em dizer que a China é superior a outros países, mas uma maior probabilidade de apoiar medidas duras para combater a pressão estrangeira”, disse a professora.
Inspirados por celebridades patrióticas, jovens chineses como Li inundam o Facebook, Twitter e Instagram com postagens defendendo a China contra ataques e apoiando famosos como o dono do Brooklyn Nets, Joe Tsai, que escreveu uma carta aberta classificando os protestos de Hong Kong de “movimento separatista”. Alguns alunos chineses organizaram demonstrações pró-China em campi nos Estados Unidos, Reino Unido, Nova Zelândia, Austrália e Alemanha.
“Posso sentir o entusiasmo patriótico do povo chinês no Weibo“, disse Crystal Wang, 24 anos, sobre microblog chinês, que voltou a Pequim depois de estudar seis anos nos EUA. O Instagram bloqueou sua conta com quase 35 mil seguidores alegando que suas postagens pró-China iam contra as diretrizes da plataforma. A conta foi restaurada depois que a imprensa pediu informações sobre a decisão. “Pelo menos me sinto seguro em casa. Eu me sentia nervosa todos os dias no exterior.”