Mundo

Como comissária de direitos humanos, Bachelet enfrentará aumento do "ódio"

Primeira mulher a se eleger presidente do Chile e torturada pela ditadura de Pinochet, ela foi confirmada no cargo pela Assembleia Geral da ONU

Michelle Bachelet: "Cumprirei com toda a minha força, com toda a minha energia e minhas convicções esta grande tarefa que busca dar dignidade e bem-estar a todas as pessoas" (Rodrigo Garrido/Reuters)

Michelle Bachelet: "Cumprirei com toda a minha força, com toda a minha energia e minhas convicções esta grande tarefa que busca dar dignidade e bem-estar a todas as pessoas" (Rodrigo Garrido/Reuters)

A

AFP

Publicado em 10 de agosto de 2018 às 18h54.

A ex-presidente chilena Michelle Bachelet deverá enfrentar, como a nova alta comissária de direitos humanos na ONU, o aumento do "ódio e da desigualdade" no mundo, alertou nesta sexta-feira o diretor da organização.

Bachelet, de 66 anos, a primeira mulher a se eleger presidente do Chile, torturada pela ditadura de Pinochet nos anos 1970 e enérgica defensora dos direitos humanos, foi confirmada no cargo esta sexta-feira (10) pela Assembleia Geral da ONU.

Duas vezes presidente do Chile, ela substituirá a partir de 1º de setembro o príncipe jordaniano Zeid Ra'ad Al Hussein, um vigoroso crítico dos abusos dos direitos humanos em vários países, como Rússia e China, e os Estados Unidos sob o governo do presidente Donald Trump.

"Não posso pensar em ninguém mais bem qualificado para o cargo", disse à imprensa o secretário-geral da ONU, o português António Guterres, que a apresentou como "uma pioneira" e "uma sobrevivente da brutalidade das autoridades (...) que viveu sob a escuridão da ditadura".

Mas, alertou que Bachelet enfrenta um tremendo desafio, ao assumir o mandato em um momento no qual "o ódio e a desigualdade aumentam, que o respeito pelas leis humanitárias e dos direitos humanos declina, que o espaço para a sociedade civil se reduz, e a liberdade de imprensa está sob pressão".

"Sinto-me muito honrada", reagiu Bachelet, em um vídeo gravado em Santiago e publicado em sua conta no Twitter.

"Cumprirei com toda a minha força, com toda a minha energia e minhas convicções esta grande tarefa que busca dar dignidade e bem-estar a todas as pessoas", afirmou.

De vítima a defensora dos direitos humanos

Filha de um militar que se opôs à derrubada do presidente socialista Salvador Allende e morreu após ser torturado na ditadura de Augusto Pinochet, Bachelet foi presa e torturada em 1975, antes de partir para o exílio - primeiro na Austrália e, depois, na Alemanha Oriental.

Pediatra de profissão e especialista em Saúde Pública, após o retorno da democracia no Chile, em 1990, Bachelet foi ministra da Saúde, depois da Defesa e, finalmente, duas vezes presidente. Esteve no cargo até março passado, quando, pela segunda vez, entregou o governo ao conservador Sebastián Piñera.

Bachelet também foi a primeira diretora da ONU Mulheres de 2010 a 2013, a agência da organização que promove a igualdade de gênero.

O jordaniano, que deixa o cargo em 31 de agosto, disse estar "realmente encantado" com a escolha de Bachelet.

"Tem todos os atributos para se tornar uma alta comissária bem-sucedida: coragem, perseverança, paixão e um profundo compromisso com os direitos humanos", afirmou Zeid em um comunicado.

Zeid decidiu que não disputaria um segundo mandato de quatro anos após perder o apoio de países poderosos. Além dos EUA, enfrentou duramente Rússia e China.

Recentemente, disse que permanecer em seu posto "no atual contexto geopolítico (...) implicaria implorar de joelhos".

Os Estados Unidos, que se retiraram do Conselho de Direitos Humanos da ONU em junho, trocou declarações duras com Cuba e a Venezuela durante a Assembleia Geral.

A diplomata americana Stefanie Amadeo leu um comunicado emitido na quarta-feira pela embaixadora dos EUA na ONU, Nikki Haley, que pede a Bachelet para "evitar os fracassos do passado" e lembra que "os Estados Unidos se retiraram do Conselho dos Direitos Humanos da ONU em parte pelo fracasso constante do Conselho de enfrentar abusos dos direitos humanos extremos na América Latina, em particular na Venezuela e em Cuba".

"A ONU não abordou adequadamente as grandes crises de direitos humanos em Irã, Coreia do Norte, República Democrática do Congo e outros lugares, bem freou sua obsessão crônica e desproporcional com Israel. Depende da senhora Bachelet falar claro sobre estes fracassos ao invés de aceitar o status quo. Esperamos que o faça", disse Amadeo.

A embaixadora adjunta de Cuba, Ana Silvia Rodríguez Abascal, denunciou a violência policial nos Estados Unidos, sobretudo contra afro-americanos, assim como seu tratamento a imigrantes e refugiados, e afirmou que "os Estados Unidos não estão em condições de dar lições a Cuba, nem a ninguém", já que não têm "a menor autoridade moral".

O embaixador da Venezuela, Samuel Moncada, afirmou que os Estados Unidos têm "o governo mais racista e cruel de sua história recente", e denunciou a política de separar filhos de imigrantes de seus pais na fronteira com o México ou a escassa ajuda dada a Porto Rico, estado associado americano, após a devastação provocada pelo furacão Maria.

Durante sua última gestão como presidente do Chile, Bachelet impulsionou ambiciosas reformas da educação, das leis trabalhistas e tributárias. Mas também enfrentou um escândalo de corrupção, protagonizado por seu filho mais velho e sua nora, condenada recentemente por fraude fiscal.

Acompanhe tudo sobre:Direitos HumanosMichelle BacheletONU

Mais de Mundo

Donald Trump nomeia Susie Wiles como chefe de gabinete

Milei terá encontro com Trump na semana que vem nos Estados Unidos

Setores democratas atribuem derrota de Kamala à demora de Biden para desistir da disputa

Pelúcias inspiradas na cultura chinesa viralizam e conquistam o público jovem