O presidente do Brasil, Jair Bolsonaro, e o agora ex-ministro da Justiça, Sérgio Moro: saída de Moro foi motivada por troca na cúpula da Polícia Federal (Adriano Machado/Reuters)
Gabriela Ruic
Publicado em 24 de abril de 2020 às 13h10.
Última atualização em 24 de abril de 2020 às 16h03.
O pedido de demissão de Sergio Moro do posto de ministro da Justiça se tornou realidade nesta sexta-feira, 24. Em coletiva de imprensa, o ex-magistrado anunciou a sua saída, motivada pela troca da direção da Polícia Federal pelo governo de Jair Bolsonaro.
Abaixo, veja como os principais jornais do mundo estão repercutindo o fato.
O jornal britânico chamou Sergio Moro de “ministro estrela” e “herói para muitos da direita e alguns da esquerda, colocando a sua saída como um duro golpe no presidente Jair Bolsonaro. “Saída do ex-juiz poderoso enfraquece o presidente, com panelaços acontecendo segundos depois do seu anúncio”, descreveu a publicação. Ainda para o The Guardian, o discurso de saída de Moro foi “explosivo”.
De acordo com o jornal americano, há “tumulto no governo brasileiro depois da demissão do chefe da Polícia Federal e pedido de demissão do ministro da Justiça”. Colocando Moro como “o rosto da poderosa operação anticorrupção no Brasil”, o jornal notou que o ex-magistrado deixou em protesto contra o presidente Bolsonaro, após a demissão de Maurício Valeixo do comando da PF.
“Em um discurso extraordinário, Moro acusou o presidente de ter erodido a autonomia da Polícia Federal e te tê-la colocado à serviço das suas ambições políticas”, escreveu o NYT.
O jornal argentino Clarín também repercutiu o pedido de demissão de Moro do Ministério da Justiça. “Sim, Sergio Moro renunciou ao cargo nesta sexta-feira, logo depois de o presidente Jair Bolsonaro ter despedido um dos seus homens de confiança, o chefe da Polícia Federal, Maurício Valeixo”, escreveu a publicação. O jornal lembrou, ainda, que a notícia mexeu com os mercados no Brasil e que foi acompanhada de panelaços em várias grandes cidades do país.
A Bloomberg é outro veículo que chamou a saída de Moro do cargo de "golpe" no governo Bolsonaro. "Sua saída provavelmente custará parte do apoio a Bolsonaro, de pessoas que apoiam o ex-ministro incondicionalmente", notou a publicação. "E isso também pode ser visto como uma tentativa de ele (Bolsonaro) reformar o seu gabinete com pessoas que pensem como ele, assim como foi na decisão do ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta", escreveu a Bloomberg.
A publicação da Alemanha Der Spiegel acompanhou os desdobramentos da demissão de Sergio Moro. Lembrando que esta é a segunda saída de peso do governo Bolsonaro, o veículo destacou a fala de Moro na coletiva de imprensa em que ele dizia que não via mais como seria possível "preservar a independência da Polícia Federal" e acusava Bolsonaro de "interferência política em assuntos da Justiça".
Ian Bremmer, presidente da maior consultoria de riscos políticos do mundo, Eurasia, também tocou no assunto da demissão de Moro nas redes sociais. Após mencionar as circunstâncias por trás da saída do agora ex-ministro, Bremmer adicionou o seguinte comentário: "Curva perigosa no meio de uma pandemia mal gerenciada."
Brazil Minister of Justice Sergio Moro quits...after Bolsonaro fires the federal police chief...because investigations were getting too close to President’s family.
Moro provided anti-corruption credibility to Administration. Dangerous turn in middle of badly managed pandemic.
— ian bremmer (@ianbremmer) April 24, 2020