Lápide do poeta chileno e prêmio Nobel Pablo Neruda é vista antes da exumação de seus restos mortais na cidade de Isla Negra, cerca de 106 km a noroeste de Santiago (REUTERS / Eliseo Fernandez)
Da Redação
Publicado em 8 de abril de 2013 às 06h30.
Santiago do Chile - Os trabalhos de retirada de terras do túmulo de Pablo Neruda começaram no domingo no Chile a fim de que possam ser exumados nesta segunda-feira os restos mortais do poeta e esclarecer se ele morreu de câncer ou se foi envenenado por agentes da ditadura de Augusto Pinochet (1973-1990).
Os preparativos foram iniciados na tarde de domingo na cidade litorânea de Isla Negra, a cem quilômetros a oeste de Santiago, onde fica a casa-museu em cujo pátio estão os restos do poeta junto aos de sua terceira esposa, Matilde Urrutia.
A casa-museu fechou suas portas ao público antes do horário habitual, e a polícia bloqueou o acesso à sua rua.
"Esta diligência é transcendental, é muito importante para estabelecer o objetivo que nós temos", disse o juiz responsável pelo caso, Mario Carroza, à imprensa.
O diretor do SML, Patrício Bustos, explicou por sua vez que os preparativos se centram em retirar toda a terra que cobre o túmulo a fim de descobrir a lápide, sobre a qual além disso foi colocada uma tenda protetora.
Nesse local se apresentou a equipe que participará da exumação do corpo, e que é composta por cinco peritos do Serviço Médico Legal, quatro da Universidad do Chile e quatro especialistas internacionais.
Entre eles estão a toxicóloga americana Ruth Winecker e três espanhóis, o também toxicólogo Guillermo Repetto, o cirurgião Aurelio Luna e o médico legista Francisco Etxeberría, que também participou, em 2011, da exumação do presidente chileno Salvador Allende.
Segundo Bustos, a diligência será realizada nesta segunda-feira a partir das 8h locais (mesmo horário em Brasília).
No procedimento estarão presentes três observadores internacionais, além do presidente do Partido Comunista (PC), Guillermo Teillier; o advogado da legenda, Eduardo Contreras; um sobrinho do poeta, Rodolfo Reyes, e o antigo motorista de Neruda, Manuel Araya.
Depois, os restos mortais serão levados a um laboratório de antropologia do SML em Santiago, que contará com vigilância permanente e medidas de segurança especiais, para serem submetidos a diversas análises.
Bustos acrescentou que nesta semana os especialistas estabelecerão um cronograma de trabalho que será remitido ao juiz.
Consultado sobre se será necessário enviar amostras para serem analisadas em laboratórios estrangeiros, Carroça afirmou que "não será descartado nenhum tipo de possibilidade".
Os exames visam determinar se é certa ou não a versão oficial, segundo a qual o autor de "Os versos do capitão" faleceu em um hospital particular de Santiago em 23 de setembro de 1973, apenas 12 dias depois do golpe de Estado de Pinochet. A causa oficial da morte foi câncer de próstata.
As dúvidas surgiram em 2011, quando seu antigo motorista, Manuel Araya, defendeu em entrevista a uma revista mexicana que Neruda tinha morrido por uma injeção recebeu naquele mesmo dia.
Todas as testemunhas da época concordam que ele recebeu essa injeção, mas o fator chave está em saber se era um calmante, como se disse então, ou se continha outro tipo de substância.