Com tensão e ameaças, EUA e Rússia se reúnem em Genebra
A Rússia tem 100 mil soldados posicionados na fronteira com a Ucrânia e um número semelhante deve ser mobilizado em curto prazo
Estadão Conteúdo
Publicado em 10 de janeiro de 2022 às 09h55.
Última atualização em 10 de janeiro de 2022 às 09h55.
Os Estados Unidos disseram a Vladimir Putin para escolher entre o diálogo e o confronto na véspera de uma semana crítica de encontros diplomáticos sobre a Ucrânia,e enquanto as tropas russas continuavam concentradas ao longo de suas fronteiras.
Diplomatas de alto escalão dos EUA e da Rússia se reuniram em Genebra neste domingo, 9, à noite e vão continuar suas conversas hoje, 10, para discutir as demandas de Moscou, estabelecidas no mês passado em dois projetos de tratado, um com os EUA e outro com a Otan. Muito de seu conteúdo é considerado inaceitável para Washington e para a aliança, principalmente a promessa de que a Ucrânia nunca será membro da Otan.
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A Rússia tem 100 mil soldados posicionados na fronteira com a Ucrânia e um número semelhante deve ser mobilizado em curto prazo, segundo o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken. "Há dois caminhos diante de nós", disse ele à CNN. "Existe um caminho de diálogo e diplomacia para tentar resolver algumas dessas diferenças e evitar um confronto. O outro caminho é o confronto e consequências em massa para a Rússia."
Ontem a Otan alertou Moscou para abandonar sua política externa beligerante e cooperar com o Ocidente. Jens Stoltenberg, secretário-geral da Otan, disse que o pacto de defesa está preparado para "um novo conflito armado na Europa".
Diálogo
Os dois lados em Genebra serão liderados por negociadores veteranos, a vice-secretária de Estado dos EUA, Wendy Sherman, e seu homólogo russo, Sergei Ryabkov, acompanhados por altos funcionários de seus respectivos departamentos de defesa e militares. Negociadores americanos estão planejando apresentar aos seus colegas russos propostas para discutir posicionamentos de mísseis e amplitudes de exercícios militares na Europa nas negociações de hoje. A Casa Branca busca testar Moscou, para aferir se os russos falam sério a respeito de sua intenção de pôr fim à crise da Ucrânia por meio de diplomacia ou fazem exigências impraticáveis como tática de procrastinação ou pretexto para uma nova invasão.
Os encontros multilaterais são prioridade para a Casa Branca, que tem garantido aos seus aliados e parceiros europeus, incluindo a Ucrânia, que não negociará "sobre eles sem eles". Mas as negociações em Genebra carregam a expectativa de serem mais substantivas e serão assistidas de perto, como um indicador a respeito da possibilidade de haver ou não um acordo diplomático a ser alcançado para evitar uma nova guerra na Europa.
Invasão
Autoridades americanas não estão certas se o presidente russo, Vladimir Putin, acredita que este é o momento certo de invadir a Ucrânia e tentar colocar o país de volta sob a esfera russa de influência por meio da força, ou se, ao ameaçar a Ucrânia, ele está se valendo de um estratagema nebuloso para arrancar concessões de segurança dos EUA e seus aliados. Em Genebra, autoridades americanas verão se seus colegas russos enfatizarão exigências que o Kremlin sabe ser inexequíveis - como garantias vinculantes de que a Otan não se expandirá ao leste para incluir a Ucrânia.
"Se os russos aparecerem hoje querendo falar apenas da expansão da Otan, a negociação chegará a um impasse. Os americanos estão preparados para reagir afirmando que isso não está em discussão" disse Andrea Kendall-Taylor, especialista em Rússia do Centro para uma Nova Segurança Americana. "Mas se os russos quiserem discutir de assuntos convencionais de controle de armas, então haverá negociação, e isso poderia indicar um prospecto de uma possível solução diplomática para a crise."
O secretário de Estado americano, Anthony Blinken, disse estar cético. "Não acho que veremos avanços na próxima semana. Vamos ouvir suas preocupações; eles ouvirão nossas preocupações e veremos se há motivos para progresso", disse. "Mas é muito difícil fazer um progresso real quando há uma escalada em curso, quando a Rússia tem uma arma apontada para a Ucrânia".