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Com planos de preservação, número de tigres aumenta na Índia

Após 40 anos de programas de governo, forte investimento de recursos e uma luta implacável contra caçadores, o rugido do tigre volta a ser ouvido na Índia

Tigre de bengala: Índia conseguiu aumentar em 30% os espécimes do felino (Getty Images)
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Da Redação

Publicado em 2 de fevereiro de 2015 às 06h14.

Nova Deli - Após 40 anos de programas de governo , forte investimento de recursos e uma luta implacável contra os caçadores, o rugido do tigre volta a ser ouvido na Índia , um país que conseguiu aumentar em 30% os espécimes do felino e já é seu principal lar no mundo.

Em 2006, o tigre de bengala lutava contra um destino que praticamente condenava sua existência ao confinamento nas páginas das centenas de obras literárias que havia inspirado e menos de 1.400 exemplares lutavam para escapar das garras de um inimigo nada imaginário: os caçadores.

O censo feito em 2010 mostrou um aumento de aproximadamente 300 tigres, 20% a mais. Já o último, divulgado na semana passada, revelou um aumento de quase 500 animais, quantidade 30,5% maior e que chegou ao total de 2.226 espécimes.

Não foram as garras que devolveram os tigres a seu espaço, mas um grande investimento de recursos do governo da Índia através do Projeto Tigre.

O programa, iniciado em 1973, movimentou 24,6 milhões de euros (R$ 71,4 milhões), só no último ano, para garantir "grande proteção" nas 47 reservas do felino no país, disse à Agência Efe Prakash Yadav, representante da Autoridade Nacional para a Conservação do Tigre.

O programa de conservação inclui patrulhas contra os caçadores ilegais, mas, apesar disso, associações conservacionistas consideram que as medidas ainda são insuficientes para lutar contra os que costumam andar fortemente armados.

São poucos os dados sobre esta atividade ilegal e muitos casos nunca são descobertos, mas a Sociedade para a Proteção da Vida Selvagem na Índia (WPSI, em inglês) calcula que pelo menos 923 tigres foram abatidos ilegalmente entre 1994 e 2010.

No entanto, os dados do último censo encorajam, e muito, já que a população do animal na Índia cresce em um momento que "nos outros países demonstra uma queda", contou Yadav.

Os tigres indianos representam praticamente metade dos cerca de 4.500 de sua espécie em toda a Ásia, continente onde esse mamífero vive em uma área que vai de norte a sul, da Sibéria à Indonésia, e de leste a oeste, da China à Índia.

Segundo Yadav, a administração do habitat "com critérios puramente científicos" é apenas uma parte de um programa de conservação "integral, que protege não só o tigre, mas todo o seu entorno e inclusive gera serviços e emprego para as comunidades locais" que convivem com o animal.

No entanto, esse êxito também leva a um novo desafio, já que a expansão da espécie traz a necessidade de também protegê-la fora das reservas, onde o mamífero fica à mercê de uma praga que o programa não conseguiu erradicar: a caça ilegal.

A Autoridade Nacional que dirige esse plano ainda deverá criar três novas áreas protegidas e ampliar várias das que já existem.

Os 378.118 quilômetros quadrados dessas reservas contam com 9.735 câmeras de vigilância contra a caça ilegal, espécimes em zonas habitadas e outros perigos que ameaçam à espécie, ainda mais quando ela se expande fora das áreas de proteção.

"Os caçadores ilegais são um grande problema, principalmente fora das reservas", disse à Efe o presidente da organização conservacionista Wildlife SOS, Kartick Satyanarayan.

O tigre é muito valorizado em países como a China para elaborar remédios tradicionais e seu tráfico ilegal na Ásia é uma das maiores ameaças para preservar a espécie.

A recuperação do felino na Índia "é muito positiva, sem dúvida, mas este aumento de população eleva alguns riscos e agora temos muitos mais tigres que podem ser alvos dos caçadores ilegais, pois ficarão desprotegidos se saírem das reservas", alertou o especialista.

Satyanarayan também alertou que uma espécie em expansão favorece um maior risco de conflitos com os humanos, ainda mais em um país como Índia, o segundo mais populoso do mundo, onde são frequentes os ataques mortais de tigres, leopardos e até mesmo elefantes a gado e pessoas, principalmente crianças.

"Uma das soluções são os corredores naturais para animais em liberdade, não só para tigres", que permitam conectar as reservas, defende Tito Joseph, da WPSI.

Joseph ressaltou à Efe a necessidade de preservar áreas florestais não apenas dentro dos espaços protegidos, mas "principalmente fora deles, onde continua sendo preocupante a conservação" do tigre.

Os projetos de mineração, a construção de represas e o desmatamento para criar cultivos são algumas das maiores ameaças ao felino.

Mas os resultados do programa são tão animadores que o ministro do Meio Ambiente indiano, Prakash Javadekar, propôs à comunidade internacional a doação de filhotes para preservar a espécie em outros países.

"Nossas medidas de sucesso poderiam ser adotadas pela comunidade internacional" ao terem alcançado "um papel fundamental na conservação mundial do tigre", disse o ministro na apresentação do censo na semana passada.

São Paulo - O apetite insaciável do mundo por recursos naturais tem levado muitas espécies à beira da extinção,mostra a mais recente atualização da Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas da IUCN, divulgada nesta segunda (17). Em seu 50º ano, o catálogo mais completo que existe sobre o assunto, inclui 76.199 espécies, das quais 22.413 são classificadas como ameaçadas de extinção. As pressões sobre a biodiversidade do planeta não dão sinal de trégua. Na lista entram a perda de habitats, a caça e pesca ilegais, a expansão agrícola, o uso intensivo de pesticidas e também as mudanças climáticas. Felizmente, dá para mudar esse quadro. Cerca de metade das espécies recentemente avaliadas estão dentro de áreas protegidas, como parques e reservas nacionais. Por isso, a IUCN defende uma melhor gestão dessas áreas, a fim de reverter a perda da biodiversidade. Para isso, é preciso reforçar as ações de proteção. “Cada atualização da Lista Vermelha da IUCN nos torna mais conscientes de que nosso planeta está perdendo a sua incrível diversidade de vida, principalmente por causa das nossas ações destrutivas para saciar nosso apetite crescente por recursos", disse, em nota, a diretora geral da IUCN, Julia Marton-Lefèvre. "Mas nós temos evidências de que as áreas protegidas podem desempenhar um papel central na reversão desta tendência. Especialistas alertam que as espécies ameaçadas que são mal representados nas áreas protegidas estão diminuindo duas vezes mais rápido que os que estão bem representados. Nossa responsabilidade é a de aumentar o número de áreas protegidas e garantir uma gestão eficaz que possa ajudar a salvar a biodiversidade do nosso planeta", acrescentou. As espécies listadas a seguir são apenas uma pequena amostra de um vasto universo de seres vivos que vêm sendo ameaçados pelas atividades humanas >
  • 2. Atum de barbatana azul (Thunnus orientalis)

    2 /11(Wikimedia Commons)

  • Veja também

    Espécie de peixe mais apreciada no mundo para o preparo de sushi e sashimi, o atum rabilho do Pacífico (Thunnus orientalis) passou da categoria “pouco preocupante para vulnerável”, o que significa que, agora, ele está ameaçado de extinção. A pesca abusiva é o principal vilão para o declínio da espécie: a maior parte dos peixes são capturados em fase juvenil, sem terem tempo de reproduzir. Em 2013, o Comitê Científico Internacional, um grupo independente de cientistas do governo de países como Estados Unidos e Japão, revelou que décadas de sobrepesca e má gestão resultaram em uma redução de 96,4 por cento da população do atum rabilho do Pacífico desde o século 19.
  • 3. Camaleão gigante de Usambara (Kinyongia matschiei)

    3 /11(IUCN/ Stephen Zozaya)

  • A nova atualização da Lista Vermelha também destaca várias espécies que foram afetadas pela destruição do habitat. O Camaleão oriental gigante Usambara Blade-chifres (Kinyongia matschiei), endêmico das montanhas do leste Usambara da Tanzânia, é um dos listados como "ameaçado". Apesar de se concentrar na Reserva Natural de Amani, este réptil sofre pressões constantes pelo desmatamento das florestas para a agricultura, produção de carvão e extração de madeira.
  • 4. Lêmure Aye-aye (Daubentonia madagascariensis)

    4 /11(Getty Images)

    Este lêmure de pelos negros e olhos esbugalhados vive em árvores da floresta de Madagascar e tem hábitos noturnos. Além da visão otimizada, o aye-aye (Daubentonia madagascariensis) possui um dedo maior que os demais, que é usado para caçar larvas nos buracos das árvores. Esta espécie é perseguida em algumas áreas, sendo associada a um símbolo de má sorte ou praga agrícola. Outras ameaças incluem a destruição do habitat e a derrubada de árvores para produção de madeira. Devido aos riscos crescentes, a espécie passou do status de “quase ameaçada” para a “ameaçada de extinção” na lista da IUCN.
  • 5. Baiacu chinês (Takifugu chinensis)

    5 /11(Wikimedia Commons)

    O baiacu Chinês (Takifugu chinensis) entrou na Lista Vermelha da IUCN como “Criticamente em Perigo”. Estima-se que sua população mundial caiu 99,9% nos últimos 40 anos devido à superexploração. Extremamente popular no Japão, o peixe está entre as quatro espécies de baiacu mais consumidas no mundo. E também entre os mais venenosos – eles devem ser habilmente preparados antes do consumo. Segundo a IUCN, o baiacu chinês ocorre em diversas áreas marinhas protegidas nas águas costeiras da China. No entanto, a captura ainda precisa ser controlada para evitar a extinção da espécie.
  • 6. Black Grass-dart Butterfly (Ocybadistes knightorum)

    6 /11(Shane Ruming)

    Encontrada apenas na região do litoral norte da Nova Gales do Sul, na Austrália, a borboleta “Black Grass-dart Butterfly” (Ocybadistes knightorum) entrou na Lista Vermelha da IUCN como “ameaçada”. Seu principal inimigo é a invasão de ervas daninhas que destroem seu habitat, em áreas protegidas, como o Parque Nacional Bongil Bongil e o Gaagal Wonggan. Segundo a IUCN, a gestão maias eficaz destas áreas pode assegurar o futuro da espécie.
  • 7. Gafanhoto árvore do inverno (Brinckiella arboricola)

    7 /11(P. Naskrecki)

    O gafanhoto árvore do inverno (Brinckiella arboricola) é encontrado em biomas de biodiversiade notáveis na África do Sul. Eles vivem em baixo de arbustos e árvores herbáceas. Mas seu habitat está constantemente ameaçado pelo desenvolvimento agrícola e urbano e invasão de espécies exóticas. Com base nessas ameaças e na distribuição restrita, o gafanhoto entra na Lista Vermelha como “ameaçado”.
  • 8. Abelha Bombus fraternus

    8 /11(Paul H. Williams)

    A Bombus fraternus, uma espécie de abelha norteamericana, também entrou na Lista Vermelha da IUCN como “ameaçada”. Estima-se que, nos últimos 10 anos, sua população tenha caído entre 29% e 86% em relação aos registros históricos (1805-2001). A perda de habitat devido à conversão de áreas para a agricultura é provavelmente a maior ameaça a esta espécie. Exposição a pesticidas também pode estar por trás das quedas.
  • 9. Enguia americana (Anguilla rostrata)

    9 /11(Clinton & Charles Robertson CC BY 2.0)

    Listada como espécie ameaçada de extinção, a enguia americana (Anguilla rostrata) sofre com as mudanças climáticas, parasitas, poluição, perda de habitat e sobrepesca. Segundo a IUCN, devido ao declínio da enguia japonesa (Anguilla japonica), também ameaçada, a indústria de criação intensiva de enguias na Ásia tenta repor o estoque com outras espécies, como a enguia americana. Isto levou a um aumento das denúncias de caça ilegal da enguia americana nos Estados Unidos.
  • 10. Planta Cordiformis Warneckea

    10 /11(ohn E Burrows)

    A Cordiformis Warneckea, uma planta encontrada em Moçambique, foi listada como “criticamente em perigo” devido ao desmatamento para a agricultura de subsistência e expansão de pólos industriais. Seu principal habitat, a floresta Namacubi, corre risco de ser atravessada por uma estrada nova para a indústria de petróleo e gás. Atualmente, segundo a IUCN, não há ações de conservação registradas para esta espécie.
  • 11. Cobra chinesa (Naja atra)

    11 /11(Skink Chen)

    A Cobra Chinesa (Naja atra) é outro animal classificado como vulnerável. Sua população diminuiu de 30 a 50% ao longo dos últimos 20 anos. Elas são encontradas no sudeste da China, Taiwan, norte do Vietnã e Laos, e estão entre as principais espécies de animais exportados da China para Hong Kong para abastecer o mercado de alimentos. Embora o comércio internacional de espécies seja regulamentado, há uma necessidade urgente de reforçar as iniciativas nacionais de conservação para garantir a sua sobrevivência, diz a IUCN.
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