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Com Dilma, PT segue no poder mais afastado da esquerda

Coligação de 10 partidos que elegeu a petista tem ampla gama de representantes de centro-direita

Comemoração por Dilma: históricos dirigentes do aliado PMDB são adversários do socialismo (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)

Comemoração por Dilma: históricos dirigentes do aliado PMDB são adversários do socialismo (Wilson Dias/AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2010 às 21h14.

Brasília - O Partido dos Trabalhadores (PT), nascido como força operária e marxista, e que chegou ao Governo em 2003 com Luiz Inácio Lula da Silva, seguirá no poder por mais quatro anos, agora com Dilma Rousseff na presidência da República, mas ainda mais afastado da esquerda.

Dilma, que venceu a disputa contra José Serra (PSDB), participou de uma eleição pela primeira vez, e teve como grande trunfo o apoio do presidente.

A primeira mulher escolhida para governar o Brasil teve também o respaldo de uma ampla e variada coalizão de dez partidos liderada pelo PT, mas que tem como principal força o PMDB, que conta com o vice-presidente eleito, Michel Temer, e uma ampla gama de nomes de centro-direita.

No PMDB, convivem diversas tendências ideológicas, mas seus mais representativos dirigentes são históricos e ferrenhos adversários do ideário socialista que guiou os militantes e intelectuais que, convocados por Lula, fundaram o PT em 1980.

Em seus primeiros estatutos, fiel aos princípios marxistas, o PT se definia como um "partido sem patrões" e como "adversário" de "banqueiros", "latifundiários" e "multinacionais".

Em 1989, quando Lula concorreu pela primeira vez à Presidência, os estatutos foram suavizados, e um ano depois foi expulsa a facção trotskista Causa Operária, que fundou seu próprio partido.

Então, toda referência à "ditadura do proletariado" foi eliminada dos documentos do PT, e substituída pela "busca de uma revolução democrática". Os expurgos continuaram, com a expulsão do grupo marxista Convergência Socialista, em 1992.

A última depuração foi em 2003, quando quatro parlamentares que votaram contra uma reforma do regime de aposentadorias proposto pelo Governo Lula foram sumariamente expulsos e fundaram o Partido Socialismo e Liberdade (PSOL).


Em 2005, o PT perdeu outros oito deputados, que renunciaram a sua militância em protesto pela linha econômica liberal adotada por Lula e por escândalos de corrupção que naquele ano fizeram cambalear o Governo e levaram a quase toda a cúpula do partido aos tribunais.

Perante a debandada em sua formação, Lula se apoiou no PMDB, ao qual ofereceu vários ministérios e no qual encontrou aliados no Congresso para concluir seu primeiro mandato.

Na campanha de Lula a reeleição, em 2006, o PMDB optou pela neutralidade, embora tenha se aliado ao Governo posteriormente.

Apesar de ser o maior partido do Brasil desde sua fundação, em 1980, o PMDB só apresentou um candidato presidencial em 1989, e nas eleições de 1994, 1998, 2002 e 2006 se declarou "neutro", embora sempre tenha se unido ao Governo após os pleitos.

Neste ano, pela primeira vez, decidiu se incorporar a uma fórmula e apresentou Temer como candidato a vice-presidente de Dilma.

O PMDB tem como principal dirigente o ex-presidente José Sarney (1985-1990), uma figura controvertida que apoiou o governo militar, entre 1964 e 1985, mas que nos últimos cinco anos esteve ao lado de Lula.

Também forma a coalizão com a qual governará Dilma o Partido Trabalhista Brasileiro (PTB), integrado por Fernando Collor de Mello, outro histórico adversário do PT.

Tanto Sarney como Collor, assim como outros influentes líderes do centro e da direita, apoiaram Lula nos últimos anos, e o presidente se valeu de seu carisma, seu pragmatismo e sua habilidade política para mantê-los em harmonia com os setores mais radicais do PT.

Mas a dúvida dos analistas agora, em relação ao futuro próximo, é se Dilma, que filiou-se ao PT em 1999 e jamais fez vida dentro do partido, terá a habilidade de Lula para manter unida uma base política com tão profundas diferenças ideológicas.

Em seu futuro Governo, Dilma dependerá dessa unidade, pois assim como o PT conseguiu pela primeira vez montar a maior bancada na Câmara dos Deputados, o PMDB terá nos próximos quatro anos a maior bancada no Senado.

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