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Clima tenso entre Moscou e ocidentais após eleições russas

Especialistas alertam que críticas americanas e europeias ao pleito no país piorou ainda mais a relação entre Putin e os líderes da região

A vitória do Rússia Unida, de Vladimir Putin, sob suspeitas de fraude aumentou a tensão entre Moscou e ocidentais (Vittorio Zunino Celotto/Getty Images)

A vitória do Rússia Unida, de Vladimir Putin, sob suspeitas de fraude aumentou a tensão entre Moscou e ocidentais (Vittorio Zunino Celotto/Getty Images)

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Da Redação

Publicado em 7 de dezembro de 2011 às 18h30.

Moscou - As relações entre a Rússia e os países ocidentais, já complicadas por diversos temas internacionais, se deterioraram ainda mais após a chuva de críticas europeias e americanas às eleições legislativas russas e à repressão às manifestações da oposição.

Bloqueios russos na ONU em questões relacionadas à violência cometida pelas autoridades na Síria e ao projeto nuclear iraniano e ameaças do Kremlin de mobilizar mísseis em resposta ao escudo antimísseis da Otan na Europa são alguns dos contenciosos entre Moscou e as grandes capitais ocidentais que mostram como os conflitos se intensificaram nos últimos meses.

Desde domingo, a polêmica vitória do partido governista na Rússia vem aumentando estas tensões e os discursos de ambos os lados lembram o caráter tenso das relações entre o homem forte da Rússia, Vladimir Putin, e o ex-presidente americano George W. Bush.

"Podemos esperar nos próximos meses (até a eleição presidencial de março) declarações firmes dos russos em relação ao Ocidente", afirma o cientista político Evgueni Volk, que considera que "isso quer dizer que Moscou não cede às pressões estrangeiras".

"Não se pode esperar nenhum avanço em casos" como o do Irã e o da Síria, acrescentou.

Quando esperava-se que a chefe da diplomacia americana, Hillary Clinton, fosse falar sobre o "relançamento" das relações Washington-Moscou prometida pelos presidentes Dmitri Medvedev e Barack Obama, não foi bem isso o que aconteceu.

"O povo russo, como todos os povos, tem o direito de fazer com que sua voz seja ouvida (...). Isso quer dizer que ele tem o direito a eleições justas, livres, transparentes e a dirigentes que sejam responsáveis perante ele", disse Hillary ao lado de seu colega russo, Serguei Lavrov.

Ela não deixou de lembrar o exemplo das revoltas árabes contra regimes surdos aos anseios populares, tema que Moscou não gosta de abordar em nome do princípio da não-ingerência.


A Europa não ficou para trás, e Paris insistiu no "respeito ao direito a se manifestar pacificamente" após as detenções de centenas de opositores efetuadas nos últimos dias.

A chefe da diplomacia da UE, Catherine Ashton, martelou a mesma mensagem nesta quarta-feira, lembrando a Moscou "a necessidade de respeitar a liberdade de reunião e de expressão" e se disse preocupada com as informações sobre "a violência policial contra militantes, jornalistas e passantes".

A resposta russa foi forte: "Cuidem de seus assuntos". Discursando na tribuna da OSCE, Serguei Lavrov ressaltou a seus colegas europeus que eles tinham outras coisas com que se preocupar.

"O peso das contradições financeiras, econômico-sociais, interétnicas e interculturais só aumenta na Europa", frisou.

As críticas americanas são "inaceitáveis" e Washington fará bem em "evitar no futuro formular críticas hostis", considerou na terça-feira seu Ministério em um comunicado.

Os diplomatas russos também criticaram as missões da OSCE de monitoramento das eleições, que constataram "violações de urnas" durante as eleições legislativas russas.

Um diplomata explicou ao jornal russo Kommersant que Moscou exigia "novas regras do jogo" e isso a três meses das eleições presidenciais, que Vladimir Putin quer vencer no primeiro turno.

Segundo essa fonte, a Rússia considera que a OSCE "se preocupa demais com as eleições a leste de Viena". O chefe do escritório de instituições democráticas e dos direitos humanos dessa organização, Janez Lenarcic, rejeitou a acusação.

"Nós monitoramos as eleições em 53 de nossos 56 países (membros da OSCE). As exceções são Mônaco, San Marino e o Vaticano", afirmou.

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