António Guterres e Greta Thunberg: no sábado 21, a ativista sueca abriu a Cúpula do Clima dos jovens em Nova York; ela deve discursar também nesta segunda-feira, 23 (Carlo Allegri/Reuters)
Da Redação
Publicado em 23 de setembro de 2019 às 05h50.
Última atualização em 23 de setembro de 2019 às 06h30.
São Paulo — Esta semana, em Nova York, representantes de quase 200 países se reúnem para discutir suas agendas políticas no maior encontro diplomático do ano. A partir desta terça-feira 24 começa a Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas (ONU), que será liderada por Tijjani Muhammad-Bande, enviado da Nigéria. O diplomata estabeleceu como suas prioridades para o encontro discutir pobreza, educação e inclusão.
A Assembleia acontece em meio aos lançamentos de mísseis norte-coreanos, às tensões crescentes entre Estados Unidos e Irã depois do ataque à petroleira saudita, aos protestos na Caxemira e em Hong Kong, à piora nas negociações de paz entre EUA e Afeganistão, ao fim do diálogo entre governo e oposição na Venezuela, ao Brexit no Reino Unido e à guerra comercial sino-americana.
Por questões internas, líderes importantes como o presidente chinês Xi Jinping, o russo Vladimir Putin, o venezuelano Nicolás Maduro, o primeiro-ministro de Israel Benjamin Netanyahu e o canadense Justin Trudeau não comparecerão pessoalmente, mas devem enviar representantes.
O presidente brasileiro Jair Bolsonaro, por sua vez, garantiu que irá ao evento, ainda que esteja se recuperando de um procedimento cirúrgico. Ele embarca nesta segunda para os Estados Unidos.
Seguindo a tradição, o discurso inaugural da Assembleia será do líder brasileiro. Há muita apreensão para ver como o presidente irá se posicionar, especialmente após seu discurso em Davos, em janeiro, quando falou por somente seis dos 45 minutos que dispunha.
Bolsonaro indicou que deve falar principalmente sobre o meio ambiente, por causa do escândalo internacional provocado pelo número crescente de focos de incêndios na Amazônia. O presidente disse que irá defender a “soberania brasileira sobre o território”.
Para além do discurso de Bolsonaro, o meio ambiente e as mudanças climáticas devem dominar os holofotes ao longo da semana. A pauta é cara ao Secretário-Geral da ONU, António Guterres, que organizou nesta segunda-feira 23, a Cúpula do Clima da ONU.
Nos últimos meses, ele tem trabalhado para garantir que líderes ao redor do globo adotem compromissos mais concretos que os feitos em 2015 durante a assinatura do Acordo de Paris para reduzir as emissões de gases do efeito-estufa. “Não venha com belos discursos, venha com planos concretos e estratégias para atingir neutralidade na emissão de carbono até 2050”, disse o secretário em agosto.
Há muita pressão sobre os governantes sobre o tema depois das manifestações pelo clima que aconteceram em massa na última sexta-feira 20, puxados pela adolescente sueca Greta Thunberg. Mas nem todos poderão discursar na Cúpula.
A ONU negou tempo de fala para países que estão trabalhando com novas fontes de combustíveis fósseis ou que não estão cumprindo seus compromissos a respeito da emissão de carbono. Brasil, Estados Unidos, Arábia Saudita, África do Sul e Japão não vão poder discursar, por exemplo. O primeiro-ministro indiano Narendra Modi e o presidente francês Emmanuel Macron, por outro lado, estão entre os 50 líderes que vão falar.
Na véspera do evento, um grupo de 59 empresas multinacionais, como Danone, Ikea, Klabin e L’Oréal, se comprometeu a cortar drasticamente as emissões de gases do efeito-estufa. Com isso, agora já são 87 empresas — com um mercado de mais de 2,3 trilhões de dólares e emissões diretas equivalentes a 73 usinas de energia e carvão — que participam da iniciativa liderada pela ONU com a sociedade civil para limitar o aumento da temperatura global a 1,5 graus Celsius e alcançar emissões zero de carbono até no máximo 2050.
Ontem, 130 bancos também assumiram compromissos com ações sustentáveis — entre eles, o Itaú, o Bradesco e o Santander. Ainda ontem, a Estação Meteorológica Mundial divulgou relatório mostrando que o período de 2015 a 2019 está caminhando para ser o mais quente da história, com 1,1 grau acima da média. Para mudar a rota, a ONU espera encerrar a semana com planos concretos de ação, e não apenas com discursos.