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Classe política grega em crise após décadas de erros

"Os resultados de domingo foram uma grande surpresa, o colapso do sistema político bipolar é uma prova do descrédito da classe política dominante"

Homem vota em Atenas. As eleições legislativas aconteceram no domingo (©AFP / Angelos Tzortzinis)

Homem vota em Atenas. As eleições legislativas aconteceram no domingo (©AFP / Angelos Tzortzinis)

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Da Redação

Publicado em 7 de maio de 2012 às 16h40.

Atenas - A surra histórica sofrida no último domingo pelos dois partidos tradicionais gregos foi causada pela forte queda nos padrões de vida dos gregos após dois anos de crise, pelo impasse político e por uma flexibilização das condições estabelecidas pela zona do euro, de acordo com analistas.

No controle do sistema político grego desde 1974, os socialistas do Pasok e a Nova Democracia (direita), enfraquecidos pelo clientelismo e pela corrupção, sofreram "um colapso histórico" durante a eleição de domingo, abrindo o caminho para a entrada no Parlamento de três novos partidos, incluindo o neonazista Chryssi Avghi.

"Os resultados de domingo foram uma grande surpresa, o colapso do sistema político bipolar é uma prova do descrédito da classe política dominante que começou antes da crise", disse à AFP Vassiliki Georgiadou, professora de Ciência Política na Universidade Pantion de Atenas.

Pesquisas realizadas desde 2007 mostram "uma confiança reduzida" em ambos os partidos e "a perda de legitimidade", devido a um sistema eleitoral que favorece a maior formação de forma desproporcional, ressalta Georgiadou.

Com este sistema, um 'prêmio' de 40 cadeiras, e agora 50, é dado ao partido vencedor, que assim pode formar um governo apoiado pelo Parlamento, mesmo que ele tenha obtido apenas entre 35 e 40% dos votos inicialmente. Isso leva a "um jogo político enviesado", de acordo com a pesquisadora.

Pasok e ND obtiveram juntos 32% dos votos nas eleições parlamentares de domingo, contra os 77% das eleições anteriores, em 2009, o que indica que apenas um em cada três eleitores votou novamente em um dos dois partidos, observa Thomas Gérakis, diretor do instituto de pesquisa Marc.


Em contrapartida, os pequenos partidos viram sua pontuação subir para 48,7%.

"É preciso acrescentar que os partidos que não conseguiram atingir o limiar necessário de 3% para entrar no Parlamento representam 19% dos votos, de modo que quase um em cada cinco eleitores não está representado", disse Gérakis .

À Corrupção e ao clientelismo, "problemas endêmicos do país, que geraram um sistema de proteção e impunidade para os políticos", somou-se "a crise, que atingiu os padrões de vida da classe média e foi a gota d'água", acredita Georgiadou.

No entanto, essa rejeição total do sistema pode causar o "caos" no país, ainda dependente de empréstimos internacionais para evitar a falência e uma saída forçada do euro, adverte o cientista político Thanassis Diamantopoulos.

Depois dos cortes drásticos em receita nos últimos dois anos, o que desferiu um golpe fatal para o consumo, sustentáculo da economia grega baseada principalmente no setor de serviços, a Grécia mergulhou em seu quinto ano de recessão, com um desemprego que duplicou em dois anos e alcançou 21% da população ativa.

"O voto de revolta serviu de libertação para a opinião pública frente aos anos de uma gestão patética das finanças públicas e de uma mentalidade de clientelismo que alimentou a sociedade grega, mas, infelizmente, não vejo nenhuma maneira fácil de sair deste caos", acrescenta.

Abandonar a "fantasia" alemã de "prosperidade na dor"

O líder da direita Antonis Samaras, cujo partido liderou a votação com 18,8% dos votos, tem agora três dias para tentar formar um governo de coalizão, conforme estipulado pela Constituição.


A tarefa é difícil: ele reiterou em várias ocasiões durante sua campanha que desejava governar "sozinho" antes de, finalmente, fazer um apelo à formação de um "governo de salvação nacional", domingo à noite.

Para Gérakis, "a era de governos de um partido único terminou", a Grécia será "forçada a aprender a formar governos de coalizão em tempos de crise".

Recordando os compromissos da Grécia para pagar sua taxa de entrada na zona do euro e prosseguindo com a consolidação de sua economia para continuar a beneficiar dos empréstimos europeus, Georgiadou enfatiza a necessidade de um governo de unidade "o mais cedo possível", a fim de alcançar "respostas para os seus compromissos".

"Os gregos continuam a ser europeístas (...), o resultado das eleições gregas e francesas é uma mensagem para a Europa por menos austeridade e, especialmente para a Alemanha, que agora deve considerar o pedido da Grécia por um prolongamento do período de ajuste fiscal, para três anos em vez de dois", disse Georgiadou.

Para o Prêmio Nobel de Economia Paul Krugman, que escreveu domingo no site do International Herald Tribune, os alemães precisam desistir de sua "fantasia" de "prosperidade na dor" que, segundo ele, resulta no "fracasso" dos países do sul da Europa, incluindo a Grécia.

"Parece que eles (os alemães) não têm mais o apoio incondicional do Palácio do Eliseu" (desde a eleição do socialista François Hollande, domingo, NDR), "o que, pode acreditar ou não, significa que o euro e o projeto europeu têm agora uma chance maior de sobreviver", escreveu.

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