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Chineses na Venezuela "voltam às origens" para fugir da crise

A crise política, econômica e social que assola o país caribenho também afeta milhares de imigrantes há duas ou três décadas tentam uma nova vida

Imigrantes na Venezuela: o povo fugia de uma China mergulhada no ostracismo e da depressão econômica (VCG/Getty Images)

Imigrantes na Venezuela: o povo fugia de uma China mergulhada no ostracismo e da depressão econômica (VCG/Getty Images)

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EFE

Publicado em 23 de agosto de 2017 às 10h42.

Xangai - Após mais de 20 anos perseguindo "o sonho latino-americano" na Venezuela, Zheng Yun decidiu há alguns meses deixar o país, proteger sua família da violência e dos saques e retornar à China, opção que, segundo conta, está sendo tomada por muitos de seus compatriotas.

A crise política, econômica e social que assola o país caribenho também afeta milhares de imigrantes que desembarcaram em terras venezuelanas há duas ou três décadas, fugindo de uma China mergulhada no ostracismo e da depressão econômica em busca de um futuro melhor na então próspera Venezuela.

"Creio que 90% das pessoas chinesas que conheço, sobretudo os que não têm o próprio negócio e trabalham para outros, estão indo para a China ou outros lugares porque não ganham nem US$ 150 hoje", contou à Agência Efe por telefone um jovem chinês que preferiu não revelar seu verdadeiro nome e se identificou como Zheng Yun.

Embora a situação na China não seja muito favorável, pelo menos "você ganha um salário mínimo de US$ 400 ou US$ 500 mensais" e não é preciso enfrentar complexos problemas como a inflação, a desvalorização e as revoltas sociais.

Zheng tem 36 anos e chegou à Venezuela aos 14. Retornou à China há quatro meses com suas duas filhas e sua esposa, após viver no final do ano passado um dos momentos mais complicados de sua vida, quando o presidente Nicolás Maduro anunciou uma série de medidas econômicas, entre elas a retirada de circulação das notas de 100 bolívares (decisão que depois foi adiada).

"Nesse tempo nós vivíamos em Ciudad Bolívar e as pessoas começaram a depositar dinheiro no banco, mas o tempo (o prazo dado por Maduro) não foi suficiente e começaram os saques às lojas na cidade, por isso decidi sair e procurar uma maneira de levar minha família para a China", explicou.

Nesse período, Zheng dirigia uma mercearia que escapou dos saques, sorte que os armazéns que estavam nos arredores da cidade não tiveram.

O jovem é originário do município de Enping, na província de Gangzhou, assim como a maioria das pessoas que emigraram à Venezuela nos anos 80 e 90 levando posteriormente seus familiares.

Embora não deem detalhes a respeito, fontes da câmara municipal de Enping confirmaram à Efe que este fenômeno vem acontecendo nos últimos anos: os chineses estão voltando para casa.

Zheng lembra sua infância na China como "uma época muito dura", pois foi criado no campo e "não tínhamos o que comer", por isso seu pai teve "que buscar um meio de sobreviver" e decidiu partir rumo à América.

Após toda uma vida trabalhando, Zheng tem aproveitado os últimos meses para descansar, pensando no que pode trabalhar e, sobretudo, esperando que a situação "se acalme" na Venezuela, onde continua mantendo seus negócios e propriedades.

"Tenho toda a minha vida investida na Venezuela. Se eu for para lá, não vou morrer de fome, mas a questão da segurança é muito preocupante", comentou.

Além disso, voltar para casa não está sendo tão simples, pois "os salários não são bons" na China.

Segundo um artigo publicado pelo jornal independente "South China Morning Post", antes de a Venezuela entrar em profunda crise, 400 mil chineses viviam no país, mas "dezenas de milhares retornaram à China nos últimos três anos".

O jornal reúne vários testemunhos de pessoas que voltaram à sua terra natal, como é o caso de Mey Hou, uma mulher de 39 anos, também de Enping, que fugiu da Venezuela com seus filhos em dezembro de 2015, após 15 anos no país.

Quando chegou a Caracas com visto de turista, em 2000, Mey ficou impressionada com economia em expansão e as perspectivas do país e viveu seu sonho particular.

Casou-se com um imigrante chinês, teve três filhos, abriu duas lojas, obteve residência permanente e conseguiu levar seus irmãos. Porém, tudo mudou quando começou a onda de violência e distúrbios sociais.

"Minhas lojas foram roubadas", lembrou Mey. Por esse motivo, decidiu voltar ao seu país e começar de novo.

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