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China e Vaticano anunciam acordo histórico para retomar laços após 67 anos

O primeiro passo foi o reconhecimento de bispos nomeados pelo governo chinês

Papa Francisco: Igreja clandestina na China reconhece a autoridade do papa (Max Rossi/Reuters)

Papa Francisco: Igreja clandestina na China reconhece a autoridade do papa (Max Rossi/Reuters)

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AFP

Publicado em 22 de setembro de 2018 às 17h19.

O Vaticano assinou, neste sábado (22), um acordo preliminar histórico com o regime comunista de Pequim sobre a nomeação de bispos na China.

O acordo trata apenas do tema religioso, e não inclui o restabelecimento das relações diplomáticas entre Pequim e a Santa Sé, interrompidas desde 1951, dois anos após a chegada dos comunistas ao poder.

Minoritários em um país com 1,5 bilhão de habitantes, os 12 milhões de católicos chineses professam sua fé divididos há décadas entre uma Igreja "patriótica" controlada pelo regime comunista e outra, clandestina, que reconhece a autoridade do papa.

Após o anúncio, o papa Francisco reconheceu, neste sábado, sete bispos chineses que foram nomeados sem seu aval pelo regime comunista, alguns dos quais haviam sido excomungados. Um oitavo bispo, já falecido, foi reconhecido a título póstumo.

Há mais de três anos, a Santa Sé relançou as intermináveis negociações iniciadas nos anos 1980 para unificar a Igreja na China.

O acordo preliminar foi assinado hoje, em Pequim, entre os dois chefes negociadores: o subsecretário de Estado da Santa Sé, Antoine Camilleri, e o vice-ministro chinês das Relações Exteriores, Wang Chao.

Acordo "pastoral", e não político

Ambas as partes esperam que o acordo possa "favorecer um processo frutífero e progressivo de diálogo institucional e que possa contribuir positivamente para a vida da Igreja católica na China, para o bem comum do povo chinês e para a paz no mundo".

"Este não é o fim do processo. É o começo", para "permitir aos fiéis ter bispos em comunhão com Roma, mas, ao mesmo tempo, reconhecidos pelas autoridades chinesas", disse o porta-voz do Vaticano, Greg Burke, de Vilnius, onde o sumo pontífice desembarcou neste sábado para uma viagem de quatro dias pelos países bálticos.

"O objetivo do acordo não é político, mas pastoral", frisou.

Desde que foi nomeado em 2013, Francisco busca aproximar o Vaticano do governo chinês, em um momento de auge do cristianismo no país.

O acordo pode ser criticado, já que coincide, paradoxalmente, com uma brutal campanha de destruição de igrejas cristãs em algumas regiões chinesas.

Na China, por exemplo, retirou-se a Bíblia dos sites de venda na Internet, e os padres católicos da Igreja "clandestina", reconhecida pela Santa Sé, foram há pouco detidos e depois liberados.

O acordo também pode ser criticado por um de seus principais opositores, o bispo emérito de Hong Kong, Joseph Zen. O cardeal, de 86 anos, repete há meses que os católicos chineses fiéis ao Vaticano, vítimas há anos da repressão das autoridades chinesas, seriam os grandes perdedores desta aproximação.

Um "passo ingênuo" do Vaticano

"Durante décadas, o governo tornou a vida deles dura, mas permaneceram leais ao papa. E agora eles pede a eles que se rendam?", lamentou, em declarações à AFP.

Para Francesco Sisci, pesquisador italiano que trabalha em Pequim por conta do governo chinês, a liberdade religiosa não é comparável com a da Europa, mas "a normalização entre o Vaticano e a China deveria contribuir para melhorá-la". Ele lembra que a Igreja "clandestina" seguirá a decisão de Francisco.

O diretor do China Programs, instituto de pesquisa sobre Ásia da Universidade de Nottingham (Inglaterra), Jonathan Sullivan, mostra-se muito mais crítico.

"É um passo estratégico para a China, e um passo ingênuo, para o Vaticano. O Partido Comunista usará o acordo como um cheque em branco do Vaticano para a Igreja controlada pelo Estado, no momento em que os fiéis são severamente reprimidos por suas crenças e práticas religiosas", sentenciou.

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