Urumqi, capital da região de Xinjiang: moradores da cidade estão confinados desde agosto. (China/Exame)
Da redação, com agências
Publicado em 27 de novembro de 2022 às 09h29.
Autoridades de Urumqi, capital da região de Xinjiang, no noroeste da China, anunciaram neste sábado, 26, que vão começar a afrouxar as restrições anticovid em alguns pontos da cidade após a polêmica nas redes sobre a morte de 10 pessoas em um incêndio. Moradores da cidade estão confinados desde agosto.
Relatos apontam que o incêndio começou no décimo quinto andar de um edifício residencial na noite de quinta-feira, mas somente três horas depois os bombeiros terminaram de apagar as chamas e resgatar os feridos, que tiveram de ser transferidos para centros hospitalares para serem tratados por inalação de fumaça.
Pelas redes sociais, censuradas no país asiático, inúmeros usuários expressaram indignação com incidente. Um vídeo compartilhado pelos moradores mostram o que parece ser um caminhão de bombeiros direcionando um jato de água contra o prédio a distância porque não podia se aproximar em razão do confinamento imposto pelas autoridades em virtude da covid-19.
A onda de revolta aumentou quando autoridades deram declarações públicas culpando os moradores pela tragédia. "Alguns moradores não tiveram capacidade para se salvar", disse Li Wensheng, chefe do corpo de bombeiros de Urumqi, em uma entrevista coletiva.
No dia seguinte, moradores marcharam em silêncio pelas ruas da cidade. Autoridades disseram que uma mulher de 24 anos foi presa "por divulgação de informações falsas".
Após o incêndio e a onda de indignação, o governo de Urumqi anunciou que a cidade conseguiu interromper a transmissão do coronavírus em nível comunitário e que "gradualmente restaurará a ordem na vida dos cidadãos".
Centenas de pessoas se manifestaram neste domingo (27) em Xangai, em universidades de Pequim e em outras cidades da China, onde cresce a indignação contra a política draconiana de “zero covid” imposta pelas autoridades há quase três anos.
Em Xangai, uma cidade de mais de 25 milhões de pessoas que sofreu um confinamento de dois meses este ano que causou escassez de alimentos, centenas de pessoas marcharam em silêncio pelo centro da megalópole.
Uma testemunha explicou à AFP que os manifestantes mostraram folhas de papel em branco - um gesto que se tornou um símbolo de protesto contra a censura na China - e flores brancas.
A polícia chegou mais tarde e os dispersou, disse a testemunha, que pediu anonimato.
Horas antes, uma multidão se reuniu perto da rua Wulumuqi - o nome em mandarim da cidade de Urumqi - com pessoas gritando "Xi Jinping, renuncie, renuncie!" em uma rara demonstração de rejeição ao presidente chinês, de acordo com um vídeo divulgado nas redes sociais e geolocalizado pela AFP.
Em Urumqi, na região de Xinjiang (oeste), dez pessoas morreram em um incêndio na quinta-feira. O incidente gerou indignação nas redes sociais por considerar que os confinamentos prejudicaram o resgate das vítimas.
Um participante dos protestos de Xangai, que pediu para não ser identificado, disse à AFP que chegou a uma manifestação às 02h00 quando "um grupo de pessoas prestou homenagem e deixou flores na calçada, enquanto outro grupo gritava palavras de ordem".
Houve pequenos confrontos, mas em geral a polícia se comportou de maneira "civilizada", disse ele.
"É emocionante ver tantas pessoas com a mesma opinião se unindo", acrescentou. "É incrível que, nas circunstâncias atuais, ainda existam pessoas corajosas de pé."
As autoridades rapidamente removeram as postagens nas redes sociais sobre os protestos assim que os vídeos começaram a circular.
Em Pequim, centenas de estudantes da prestigiosa Universidade Tsinghua manifestaram-se no campus neste domingo, de acordo com uma testemunha ocular contatada pela AFP e vídeos postados online.
"Isso não é uma vida normal, estamos fartos. Nossas vidas não eram assim antes", exclamou um palestrante.
Na Universidade de Pequim, perto da Universidade de Tsinghua, também foi realizada uma vigília em memória das vítimas do incêndio de Urumqi. De acordo com um estudante que participou, os protestos começaram na noite de sábado e entre 100 e 200 pessoas se reuniram.
"Ouvi gritarem: 'não aos testes de covid, sim à liberdade'", explicou à AFP com imagens e vídeos que corroboravam os fatos.
De acordo com outras gravações, houve manifestações em Nanjing (leste), bem como em Xian, Wuhan (centro) e Cantão (sul), mas a AFP não conseguiu autenticar as imagens.
Os protestos acontecem em meio ao cansaço da população devido à estratégia do governo de tolerância zero com a covid.
A China é a última grande economia a manter a estratégia "zero covid", com confinamentos, quarentenas extensas e testes em massa para erradicar as fontes de contágio assim que elas aparecerem.
Neste domingo, a China registou 39.506 infeções locais de covid-19, um número recorde para este país de 1,4 bilhão de habitantes.
(Com Estadão Conteúdo e AFP)