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Chile define novo presidente neste domingo em segundo turno polarizado

Nos últimos dias, os dois candidatos tentaram fazer discursos mais ao centro e mudaram os pontos mais radicais de seus programas

Chile: ambos os candidatos tiveram que "modificar seus programas de governo, levando os dois até a valorizar os últimos 30 anos de governos democráticos" (MARTIN BERNETTI/AFP/Getty Images)
Drc

Da redação, com agências

Publicado em 19 de dezembro de 2021 às 12h54.

O Chile escolhe neste domingo, 19, entre duas visões opostas: a do deputado esquerdista Gabriel Boric, que propõe um estado que garanta direitos universais básicos, e a do advogado de extrema direita José Antonio Kast, que busca restaurar a ordem sem tocar no modelo de livre mercado.

Boric, de 35 anos, e Kast, de 55 anos, apresentam propostas antagônicas para os 19 milhões de habitantes do Chile, um país com forte desigualdade social.

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Os dois candidatos não poderiam ser mais opostos polares. Kast, um devoto católico romano e pai de nove filhos, emergiu da margem direita depois de ter conquistado menos de 8% dos votos em 2017. O nome dele foi crescendo pouco a pouco nas pesquisas, desta vez com um discurso divisionista enfatizando valores familiares conservadores e jogando com os temores dos chilenos de que um aumento da migração, do Haiti e da Venezuela, está levando o crime ao país. Ele tem um histórico de ataques à comunidade LGBTQ do Chile e defendendo leis de aborto mais restritivas. Ele também acusou o presidente Sebastian Pinera, um colega conservador, de trair o legado econômico de General Augusto Pinochet, ex-líder militar do país. Irmão de Kast, Miguel foi um dos principais conselheiros de Pinochet.

Já Boric, caso vença o pleito, se tornaria o presidente mais jovem do Chile. Ele estava entre vários ativistas eleitos para o Congresso em 2014, após liderar protestos por educação de qualidade superior. Se eleito, disse ele, vai "enterrar" o neoliberal modelo econômico deixado por Pinochet e aumentar os impostos sobre os "super-ricos" para expandir os serviços sociais, combater a desigualdade e aumentar as proteções do ambiente.

Nos últimos dias, os dois candidatos tentaram fazer discursos mais ao centro e mudaram os pontos mais radicais de seus programas em política fiscal, fundos de pensão e igualdade de gênero.

"Eu não sou um extremista" proclamou Kast na reta final da campanha, mesmo sendo perseguido por revelações de que seu pai, nascido na Alemanha, tinha sido um membro de carteirinha do partido nazista de Adolf Hitler.

Enquanto isso, Boric, que é apoiado por uma coalizão de partidos de esquerda que inclui o Partido Comunista do Chile, trouxe mais conselheiros centristas para sua equipe e prometeu que quaisquer mudanças seriam graduais e responsáveis do ponto de vista fiscal.

No primeiro turno de 21 de novembro, "ambos os candidatos somaram 54% dos votos, mas 46% dos eleitores votaram nos demais candidatos, portanto [Boric e Kast] foram forçados a se deslocar na direção dos eleitores muito mais moderados ou do centro", explicou à AFP o analista Mauricio Morales, professor da Universidade de Talca.

Na campanha eleitoral, ocorreu o que Morales ironicamente chamou de "milagre". Ambos os candidatos tiveram que "modificar seus programas de governo, levando os dois até a valorizar os últimos 30 anos de governos democráticos".

Chilenos indecisos

O clamor por uma mudança de rumo político, econômico e social mobilizou os chilenos, principalmente desde os protestos de outubro de 2019. Desde então, popularizou-se o lema "não eram 30 pesos, eram 30 anos", referindo-se ao fato de que não foi o aumento das passagens que desencadeou os protestos, mas sim as três décadas em que a desigualdade social aumentou acompanhando o crescimento econômico.

As manifestações - também chamadas de "Revolta de Outubro" ou "Primavera chilena"- só pararam com a pandemia, cinco meses depois. Nos anos que se seguiram, porém, deixaram como herança, de um lado, a aprovação popular para escrever uma nova Constituição e, de outro, uma reorganização completa das forças políticas, da esquerda à direita.

50% dos eleitores chilenos afirmam estar indecisos, praticamente o mesmo percentual (53%) de pessoas que não exerceram seu direito de voto no primeiro turno, que deixou de ser obrigatório em 2012.

"Isso é a grande incógnita para o próximo domingo. Quantos indecisos que não votaram no primeiro turno vão fazê-lo desta vez? Isso nos deixa diante de um fim imprevisível", avisa Claudio Fuentes, cientista político e professor da Universidade Diego Portales.

Segundo turno sem coalizões tradicionais

Kast, da Frente Social Cristã, venceu o primeiro turno de novembro com 27,91% dos votos; Boric, da coalizão Aprovo Dignidade, do qual o Partido Comunista faz parte, obteve 25,83%.

Há dois anos, ter essa configuração em um segundo turno pareceria impossível: nos 30 anos de democracia desde o fim da ditadura de Augusto Pinochet (1973-90), se revezaram no poder no Chile grupos de direita ou centro-direita (como o atual presidenteSebastián Piñera ) e de centro-esquerda (com nomes como a ex-presidente Michelle Bachelet ). Pois nem Kast, nem Boric, vêm dessas coalizões.

A votação presidencial será encerrada às 18h (horário local, também 18h no Brasil). Os resultados preliminares são esperados algumas horas depois. Quem vencer deverá encontrar muitos desafios pela frente. O próximo presidente, que assumirá em março de 2022, precisará lidar com a recuperação econômica pós-pandemia, a inflação e a implementação das regras da nova Constituição chilena, que começou a ser elaborada este ano e pode entrar em vigor em 2022.

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