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Chile barra ambições dos chineses para construção de trem-bala

Apesar do apoio do presidente chileno Piñera, a parceria de US$ 2,4 bi para construir o trem-bala da região está estagnada no limbo regulatório

Passageira tira foto em frente a um trem bala estacionado na estação sul de Pequim, na China (Jason Lee/Reuters)

Victor Sena

Publicado em 17 de abril de 2019 às 05h50.

Última atualização em 17 de abril de 2019 às 05h50.

O presidente chileno, Sebastián Piñera, pegou um porta-retrato de sua mesa no Palácio de La Moneda, em Santiago, e perguntou a repórteres se eles reconheciam quem estava na foto. Era o presidente chinês, Xi Jinping, conversando com Piñera, que segurava uma taça de vinho. Toda essa intimidade presidencial não ajudou a trazer a gigantesca iniciativa chinesa de infraestrutura “Um Cinturão, Uma Estrada” para o país.

Apesar do apoio de Piñera, a parceria público-privada para construir o primeiro trem-bala da região está estagnada no limbo regulatório.

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Mais de um ano após a estatal China Railway Group e a chilena Sigdo Koppers formarem o consórcio Tren Valparaíso Santiago (TVS), as autoridades ainda estão avaliando se o projeto de US$ 2,4 bilhões é de interesse público, viável e ambientalmente adequado. Os chilenos têm observado que projetos da iniciativa “Um Cinturão, Uma Estada” entram em colapso em países em desenvolvimento por causa de dívidas e propinas.

“Onde há instabilidade e corrupção, é frequente haver aberturas mais fáceis para desenvolvimento de infraestrutura", disse Ariel Armony, diretor do Centro de Estudos Internacionais da Universidade de Pittsburgh e coautor de um livro sobre a evolução do papel da China na América Latina. “O envolvimento com infraestrutura no Chile é um novo nível de maturidade e experiência em desenvolvimento para os chineses."

A iniciativa “Um Cinturão, Uma Estada”, lançada por Xi há cinco anos, tenta ser a versão moderna da Rota da Seda, ancestral malha de rotas comerciais. A China despejou trilhões de dólares – a quantia exata é desconhecida – em obras de infraestrutura na Ásia, Oriente Médio, Europa, América Latina e ilhas do Pacífico. Nos países mais pobres, os projetos têm sido marcados por corrupção e atrito com autoridades locais e moradores, segundo o Centro para uma Nova Segurança Americana. Além disso, ganha-se menos dinheiro nesses países.

A China intensificou esforços em nações mais ricas, porém leis mais rigorosas e a classe média mais engajada politicamente trouxeram novas dificuldades. Um acordo celebrado no mês passado para trazer a Itália para “Um Cinturão, Uma Estada” desencadeou brigas entre o Movimento Cinco Estrelas (de caráter populista e com um ministro que defendeu o acordo) e correligionários de direita (que alertaram para ameaças à segurança). A União Europeia e os EUA foram contra o acordo.

Costa marítima

A China já é a maior parceira comercial do Chile, com US$ 45 bilhões em mercadorias trocadas no ano passado, e deseja maior presença no país que oferece prosperidade econômica e estabilidade política.

O projeto proposto pelo consórcio TVS – e que seria aberto a outros via licitação – ligaria Santiago a Valparaíso e San Antonio, na costa do Pacífico. O trem-bala atingiria 200 quilômetros por hora e baixaria o tempo de percurso pela metade, para 45 minutos, chegando a transportar 25.000 pessoas por dia. Autoridades do Poder Executivo, em Santiago, poderiam chegar rapidamente até o Congresso, em Valparaíso, e a população teria acesso fácil a praias e atrações turísticas. O trem também transportaria cobre e produtos agrícolas, principalmente para exportação para a China.

Apesar da retaguarda de Piñera, a proposta precisa sobreviver a uma análise que sequer começou formalmente.

Ferrovias problemáticas

O rigor no processo de análise também torna o Chile atraente. Na Venezuela, um projeto ferroviário de US$ 7,5 bilhões foi abandonado antes do término e ganhou o apelido de “elefante vermelho”. No Equador, o ex-presidente Rafael Correa tomou bilhões de dólares em empréstimos da China para acelerar projetos e deixou o país bastante endividado. Uma represa construída em 2016 com US$ 1,7 bilhão financiados pelos chineses envolveu autoridades em um escândalo de propina e a obra tem danos estruturais.

Já o Chile é considerado o segundo país menos corrupto da América Latina, atrás do Uruguai, no ranking da Transparência Internacional.

Alguns chilenos não concordam com a chegada dos chineses. O parlamentar Pablo Vidal, do partido de oposição Revolução Democrática, de esquerda, afirma que o Chile precisa urgentemente fazer obras que conectem regiões remotas do país.

“Construir um trem entre dois centros de desenvolvimento urbano só continuará alimentando a lógica centralizada do país, que precisa mesmo é conectar cidades menores ao sul e ao norte para impulsionar o crescimento", disse ele.

Vidal acredita que uma pequena elite urbana se beneficiaria com o projeto. O Chile é o país com a maior renda per capita da região, mas sua desigualdade de renda é 65 por cento maior do que a média dos integrantes da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

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