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Chegada de refugiados desafia alunos e professores na Alemanha

Os obstáculos são consideráveis, já que a maior parte dos novos alunos não falava uma só palavra de alemão

Refugiados: para facilitar esta transição, os refugiados da escola Brentano passam várias horas por semana com os estudantes alemães (DANIEL ROLAND/AFP)

Refugiados: para facilitar esta transição, os refugiados da escola Brentano passam várias horas por semana com os estudantes alemães (DANIEL ROLAND/AFP)

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AFP

Publicado em 23 de novembro de 2016 às 17h09.

Última atualização em 24 de novembro de 2016 às 11h15.

Para Mustafá, o mais difícil do alemão é saber quando usar o artigo masculino, o feminino e o neutro. Para Majd, é o trema. Mas após ter fugido da guerra, esses dois adolescentes sírios estão, acima de tudo, felizes de voltar à escola.

Mustafa, Majd e suas famílias fazem parte dos cerca de 890.000 refugiados chegados no ano passado à Alemanha, dos quais um terço são menores de idade. Eles sobreviveram aos conflitos em seus países e à difícil travessia até a Europa.

Agora, seu país de acolhida enfrenta o imenso desafio de integrar essas crianças em seu sistema educacional, um processo que terá um custo estimado de 2,3 bilhões de euros por ano.

Os obstáculos são consideráveis, já que a maior parte dos novos alunos não falava uma só palavra de alemão quando chegou e muitos haviam perdido meses, ou até anos, de escolarização devido ao conflito. Inúmeras crianças também continuam sofrendo os traumas de terem vivido na guerra.

"É um desafio enorme", assegurou Ilka Hoffmann, membro do conselho administrativo do GEW, a maior associação de professores da Alemanha.

Para ela, o país deveria empregar cerca de 24.000 professores para receber os novos alunos, isso sem mencionar que necessitam de psicólogos e conselheiros nas escolas.

"Os traumas são expressos de diferentes formas", explicou. "E estamos mal preparados", indicou.

"Intenso"

Mustafa e Majd estão matriculados na escola Heinrich von Brentano, em Hochheim, uma pitoresca localidade perto de Frankfurt.

Este local realizou aulas "intensivas" de alemão para os 22 refugiados escolarizados - a grande maioria procedente de Síria, Iraque e Afeganistão.

Nesta escola, como em outras do país, a frase da chanceler Angela Merkel "Wir schaffen das" (Vamos conseguir) não é simplesmente algo eleitoral, é uma missão de todos os dias.

Na escola de Mustafá, a atmosfera é jovial, mas para o professor Michael Smiraglia, os desafios são diversos. Um deles é a diferença de níveis, já que enquanto alguns alunos estão mais adiantados, enquanto outros ainda não conhecem o alfabeto latino. A isso se soma a dificuldade de trabalhar com adolescentes traumatizados que, às vezes, têm comportamentos difíceis.

"Me dei conta de que o curso 'intensivo' seria igualmente intenso para mim, como professor", admitiu Smiraglia, enquanto seus alunos leem um texto em um alemão entrecortado e hesitante.

Antes ele era conselheiro familiar e já havia trabalhado com jovens que sofreram traumas, uma experiência que sem dúvida o ajudou.

"Tenho alunos com idade entre 12 e 15 anos que temem por sua vida", explicou o professor. "Para mim é um presente quando se abrem, me permitem compreendê-los melhor e gerir os comportamentos inadequados", acrescentou.

Quebrar o gelo

Para os alunos, o verdadeiro desafio ainda está por vir, quando deixarem este ambiente protegido das aulas intensivas para integrar as aulas com o resto dos estudantes, onde os professores têm uma pauta para cumprir e não têm tempo nem as ferramentas para ajudá-los de maneira individual.

Para facilitar esta transição, os refugiados da escola Brentano passam várias horas por semana com os estudantes alemães nos cursos de inglês, matemática e esportes.

Mas a língua continua sendo uma barreira. "Os professores falam muito rápido e eu entendo muito pouco", lamentou Mustafá.

Entretanto, isto ajuda a quebrar o gelo e nesse sentido os jogos de futebol durante o recreio são uma forma de integração.

"Jogamos juntos e assim melhoramos nosso alemão", disse Mustafá.

Os adolescentes estrangeiros reconhecem que devem se misturar aos colegas de qualquer forma.

"Não tenho muito contato com as crianças alemãs", disse Marjan, uma jovem de 14 anos nascida no Afeganistão. "Mas todo mundo é muito simpático", assegurou.

Uma das principais diferenças em relação à sua antiga escola é que se trata de um local misto. "Isso é muito bom", opinou a menina. "Nos entendemos melhor quando aprendemos todos juntos", disse.

Mustafá, ao contrário, não parece tão convencido. Quando os meninos e as meninas estão juntos, "eles só pensam em dizer 'gosto de você' e não estudam. Não tenho razão?", questiona com um sorriso tímido, enquanto seus amigos morrem de rir.

Voltar à escola permite que esses alunos voltem a ter planos para o futuro. Mustafá quer ser piloto, pois acredita ser impossível seguir a carreira que realmente o apaixona: o caratê. Marjan está em dúvida entre ser advogada ou maquiadora e Majd quer ser policial.

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