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Chanceler alemão visita Ucrânia e diz que Rússia não deve ‘impor a paz’ sem negociar

Presença de Olaf Scholz à Ucrânia ocorre poucas semanas após líder ser criticado pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por ter ligado para Putin

Scholz reafirma apoio à Ucrânia contra agressão russa (Tobias SCHWARZ/AFP)

Scholz reafirma apoio à Ucrânia contra agressão russa (Tobias SCHWARZ/AFP)

Agência o Globo
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Publicado em 2 de dezembro de 2024 às 16h34.

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Em visita à Ucrânia pela primeira vez em dois anos e meio, o chanceler alemão, Olaf Scholz, afirmou nesta segunda-feira, 2, que os ataques russos contra a infraestrutura energética do território ucraniano demonstram que o presidente russo, Vladimir Putin, “quer que as pessoas congelem durante o inverno” e que a economia do país seja prejudicada, algo que garantiu que não permitirá. O chanceler aproveitou para afirmar que a Rússia não deve ser autorizada a “impor uma paz ditada à Ucrânia” em nenhuma negociação.

“A Rússia continua a atacar a infraestrutura energética da Ucrânia de maneira direcionada e implacável. Putin quer que as pessoas congelem, mas não vamos permitir que seu cálculo cínico dê certo”, disse o chanceler. “Nos esforços para alcançar uma paz justa, equitativa e duradoura, nenhuma decisão deve ser tomada sem o envolvimento de Kiev, seguindo o princípio de ‘nada sobre a Ucrânia sem a Ucrânia’”.

A visita de Scholz à Ucrânia ocorre poucas semanas após o chanceler alemão ser criticado pelo presidente ucraniano, Volodymyr Zelensky, por ter feito uma ligação telefônica com Putin. O contato de Scholz com o líder russo ocorreu num momento de especulação generalizada sobre o que a nova administração do presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, deverá significar para Kiev, já que o republicano prometeu encerrar o conflito sem dar detalhes de como pretende fazer isso.

O encontro de Scholz e Zelensky também ocorre antes de uma eleição antecipada na Alemanha, prevista para fevereiro. À medida que a campanha começa, Scholz tem destacado o status da Alemanha como o segundo maior fornecedor de armas da Ucrânia, ao mesmo tempo em que enfatiza sua “prudência” ao trabalhar para evitar a escalada da guerra e recusar a entrega de mísseis de cruzeiro de longo alcance Taurus — algo que Zelensky disse nesta segunda-feira estar em discussão.

“Trabalhamos constantemente para encontrar um maior consenso sobre a questão dos Taurus”, disse o mandatário ucraniano durante entrevista coletiva com o líder alemão, argumentando que as armas ajudariam a Ucrânia a “atingir mais alvos militares na Rússia”.

Apoio militar

Na sexta-feira, Zelensky sinalizou que uma oferta de adesão à Otan poderia encerrar a “fase quente da guerra” na Ucrânia. E, no domingo, admitiu que poderia desistir, pelo menos temporariamente, dos territórios ocupados pela Rússia em troca de algum tipo de trégua e garantias de segurança para o restante do país. Ele, no entanto, disse que a Otan teria de estender a proposta de entrada da Ucrânia na organização a todas as partes do território, mesmo aquelas sob domínio russo. O restante, disse, deveria ser recuperado depois por meio de negociação.

Scholz, contudo, tem sido cauteloso em relação à ideia de acelerar a adesão ucraniana à aliança militar ocidental. O alemão disse que novas entregas militares a serem feitas ainda este mês serão anunciadas, mencionando um apoio militar no valor de 650 milhões de euros (R$ 4 bilhões) a ser entregue até o final do ano. Autoridades em Berlim, porém, admitiram posteriormente que essa ajuda já havia sido anunciada. Scholz ressaltou que, no total, a Alemanha gastou 28 bilhões de euros (R$ 178 bilhões) em apoio militar à Ucrânia desde a invasão russa em 2022, incluindo sistemas de defesa aérea, tanques, obuses, helicópteros, drones, munições e peças de reposição.

“Não vamos recuar nos próximos anos em mobilizar o apoio necessário. Há mais de 1.000 dias, a Ucrânia se defende heroicamente contra a guerra de agressão implacável da Rússia”, declarou Scholz à imprensa, acrescentando que a Alemanha continuará sendo “o maior apoiador da Ucrânia na Europa” e prometendo entregas rápidas de armas.

Crítica à ligação com Putin

Apesar disso, o chanceler alemão foi criticado pelo presidente ucraniano por falar com Putin no telefone, no que teria sido a primeira conversa do russo com o líder de uma grande potência ocidental em quase dois anos. Na ligação, Scholz teria pedido a Putin para estar aberto a negociações com a Ucrânia, embora o russo tenha destacado que qualquer acordo de paz deveria reconhecer as conquistas territoriais da Rússia e suas demandas de segurança, incluindo que Kiev renunciasse à adesão à Otan.

Na avaliação de Zelensky, a ligação com Putin corria o risco de abrir “uma caixa de Pandora” e só serviria para tornar a Rússia menos isolada.

Enquanto Scholz visitava Kiev, a ministra das relações exteriores alemã, Annalena Baerbock, visitou Pequim, onde disse a seu homólogo chinês, Wang Yi, que o apoio da China a Moscou estava contribuindo para a intensificação da guerra contra os próprios interesses de Pequim. A China nega que faça parte de uma aliança militar com Rússia, Irã e Coreia do Norte. Mas, para analistas, o fato é que sua presença é fundamental para fortalecer essa relação.

“O presidente russo não está apenas destruindo nossa ordem de paz europeia com sua guerra contra a Ucrânia, mas agora está arrastando a Ásia para isso via Coreia do Norte”, disse ela em uma entrevista coletiva, referindo-se ao recente envio de tropas norte-coreanas e ao uso de drones fabricados na China.

Em outubro, o ucraniano viajou para Berlim para se reunir com Scholz e debater sobre seu “plano de vitória”, uma série de diretrizes que a cúpula militar e do governo ucraniano traçaram para pôr fim à guerra na Ucrânia. O projeto inclui a sugestão de que a Ucrânia recebesse um convite formal para aderir à Otan e um pedido para que Kiev fosse autorizado a usar mísseis de longo alcance ocidentais para atacar alvos militares dentro da Rússia.

Com a atenção internacional dividida entre diferentes frentes de conflito pelo mundo, a Ucrânia luta para que seus aliados ocidentais mantenham o apoio continuado que vêm oferecendo há quase três anos — em um momento em que a situação no front apresenta dificuldades, com um aumento no número de deserções e avanços das tropas russas, agora com ajuda de soldados norte-coreanos.

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