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Centro-direita, e suas tentações, levam a melhor na Itália

ÀS SETE - O Movimento 5 Estrelas (M5S) se tornou nas eleições deste domingo o maior partido da Itália

LUIGI DI MAIO: seu partido, o movimento 5 Estrelas, foi o grande vencedor das eleições deste domingo  (Ciro De Luca/Reuters)

LUIGI DI MAIO: seu partido, o movimento 5 Estrelas, foi o grande vencedor das eleições deste domingo (Ciro De Luca/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 5 de março de 2018 às 07h21.

Última atualização em 5 de março de 2018 às 11h33.

Roma - O Movimento 5 Estrelas (M5S) se tornou nas eleições deste domingo o maior partido da Itália. O país, no entanto, poderá ser governado pela Liga, formada em dezembro a partir do partido separatista Liga do Norte.

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Tanto um quanto o outro são hostis ao euro e às reformas introduzidas nos últimos seis anos de governos “técnico” e de centro-esquerda.

A coalizão de centro-direita, da qual faz parte a Liga, obteve o maior número de cadeiras tanto na Câmara dos Deputados quanto no Senado, segundo projeções com base na metade da contagem dos votos.

As urnas se fecharam às 23 horas de domingo (19 horas em Brasília), a contagem ainda está em andamento, e as projeções são dificultadas pelo novo sistema misto de votação, pelo qual um pouco mais de um terço dos votos é dado pelo sistema majoritário e o restante, proporcional.

De acordo com o Consórcio Opinião Itália, contratado pela emissora pública Rai, a aliança de centro-direita elegeu entre 247 e 257 dos 618 deputados. Portanto, não governará com maioria absoluta, se for mesmo convocada pelo presidente Sergio Mattarella a formar coalizão.

O M5S obteve, segundo esses cálculos, entre 230 e 240 cadeiras na Câmara, chegando portanto muito perto da centro-direita. Fundado em 2009, sob a liderança do comediante Beppe Grillo, como um movimento contrário aos partidos tradicionais, o grupo veio crescendo, e conquistou a prefeitura de Roma no ano passado.

Eles reivindicam serem escolhidos por Mattarella para tentar formar governo, como o partido individualmente mais votado. E de fato pelo sistema italiano o presidente tem bastante autonomia para indicar quem deve articular a composição de um governo. Ele pode chamar até mesmo alguém de fora do Parlamento, o que introduz mais uma pitada de imprevisibilidade.

O candidato a primeiro-ministro do M5S é Luigi Di Maio, atual vice-presidente da Câmara, com apenas 31 anos. Ele é considerado mais moderado e pragmático do que Grillo. Nessa campanha, o M5S não incluiu no seu programa a saída da Itália da zona do euro, por exemplo.

A coalizão de centro-esquerda, liderada pelo Partido Democrático, no governo, foi a grande derrotada nas urnas. Na Câmara, as projeções indicam que ela terá entre 104 e 110 cadeiras.

Nas eleições de 2013, a coalizão elegeu 344 deputados, contra 124 da centro-direita e 108 do M5S. O partido social-democrata Livres e Iguais (LeU), que poderia se aliar à centro-esquerda, obteve entre 11 e 19 cadeiras.

No interior da aliança de centro-direita, a Liga foi a vencedora, com 115 a 123 cadeiras, de acordo com as projeções. Com uma bancada de 99 a 105 deputados, a Força Itália, do ex-primeiro-ministro Silvio Berlusconi, ficou pela primeira vez em segundo lugar dentro dessa coalizão, que antes liderava.

O partido nacionalista Irmãos pela Itália (FdI), que tem atualmente 12 deputados, também cresceu, passando para 24 a 32, e o cristão-democrata Nós com a Itália (NcI) terá de 2 a 4 cadeiras.

No Senado, a centro-direita deve ficar com 128 a 140 das 309 cadeiras, também não atingindo a maioria absoluta. Aqui também a Liga lidera a contagem dos votos, com 18%, enquanto a Força Itália tem 15%, o FdI, 4% e o NcI, 1%. O M5S deve eleger entre 109 e 119 senadores e a centro-esquerda, entre 47 e 55. O LeU obteve de 7 e 11 senadores.

A aliança de centro-direita tem um acordo, pelo qual o mais votado indicaria o primeiro-ministro. A vitória da Liga aponta para a indicação de seu líder, Matteo Salvini.

O partido também não incluiu no seu programa a realização de um referendo sobre a retirada da Itália da zona do euro, mas abriga economistas que defendem essa saída.

A Liga prometeu a eliminação do gatilho que prevê a elevação da idade mínima de aposentadoria (atualmente 65 anos) conforme aumenta a expectativa de vida dos italianos.

No lugar disso, propõe um mínimo de 100 anos da soma da idade e dos anos de contribuição. De maneira que alguém com 60 anos de idade e 40 de contribuição poderia se aposentar.

Berlusconi, por sua vez, propôs a criação de um imposto único, que segundo economistas reduziria a carga tributária principalmente das empresas e dos mais ricos.

Primeiro-ministro quatro vezes, ele está inelegível até o ano que vem, por uma condenação por fraude fiscal. Na quinta-feira, Berlusconi indicou o presidente do Parlamento Europeu, Antonio Tajani, para ser o primeiro-ministro, caso a Força Itália fosse a mais votada e a centro-direita vencesse.

Já o M5S ofereceu um benefício de 780 euros para os 9 milhões de italianos mais pobres.

Pelos cálculos do Observatório das Contas Públicas Italianas (da Universidade Católica do Sagrado Coração, de Milão), as promessas da Liga e da Força Itália gerariam gastos de 136 bilhões de euros e receitas de apenas 82 bilhões, deixando um déficit de 54 bilhões.

No caso do M5S, seriam 103 bilhões de euros de gastos e 39 bilhões de receitas, criando um buraco de 64 bilhões. Isso, numa situação em que a Itália tem uma dívida pública de

131,5% e déficit de 1,5% do PIB. Esses dois números já representam ligeiras melhoras, frutos dos ajustes da centro-esquerda: 2016 havia fechado com 132% de dívida e 2,5% de déficit.

As reformas previdenciária, trabalhista e fiscal do governo do ex-primeiro-ministro Matteo Renzi, entre 2014 e 2016, vão na direção certa, segundo os economistas e o mercado. Mas não tiveram efeitos positivos na economia a tempo de darem dividendos políticos.

Renzi renunciou em dezembro de 2016, depois da derrota em um referendo sobre uma reforma que concentraria os poderes na Câmara e diminuiria os do Senado, para facilitar a votação de mais reformas. Ele voltou como líder do PD nessa eleição, mas agora deve ter de voltar para casa novamente.

Os eleitores italianos se cansaram do alto desemprego, de 11% (31% entre os jovens de 15 a 24 anos), e do baixo crescimento econômico, de 1,5% (embora subindo), somados à intensa imigração, que a centro-direita promete conter. É muita tentação.

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