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Catalunha já foi independente da Espanha (por 10 horas)

Em 6 de outubro de 1934, o presidente do governo autônomo da região proclamou independência; dez horas depois e dezenas de mortos ele se rendia

Independência da Catalunha (David Ramos/Getty Images)

Independência da Catalunha (David Ramos/Getty Images)

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AFP

Publicado em 10 de outubro de 2017 às 11h30.

Última atualização em 10 de outubro de 2017 às 16h16.

A Espanha viveu momentos de suspense à espera da declaração unilateral de independência pelo presidente regional da Catalunha, Carles Puigdemont. O líder catalão, porém, suspendeu os efeitos deste anúncio nesta terça-feira, 10, para abrir um processo de diálogo com o governo.

Há 83 anos, a região chegou a viver uma brevíssima proclamação como Estado.

Em 6 de outubro de 1934, tempos da II República, o presidente do governo autônomo da Catalunha, Lluís Companys, proclamou um "Estado Catalão da República Federal Espanhola". Dez horas e dezenas de mortos mais tarde, Companys se rendia.

No momento da proclamação, os partidos de esquerda haviam lançado uma "greve geral revolucionária" para protestar contra a entrada no governo de três ministros de uma coalizão de partidos conservadores: a Confederação Espanhola de Direitas Autônomas (Ceda).

"Nesta hora solene, em nome do povo e do Parlamento, o Governo que presido assume todas as faculdades do Poder na Catalunha, e proclama o Estado Catalão da República Federal Espanhola", alardeou Companys do balcão da Generalitat, sede do governo catalão no centro de Barcelona.

"Ao estabelecer e fortificar a relação com os dirigentes do protesto geral contra o fascismo, convida-lhes a estabelecer na Catalunha o governo provisório da República", completou.

Por um lado, aparentemente, Companys não havia consultado os líderes da greve geral. Por outro, a Segunda República espanhola não era federal.

Já antes, sem esperar a aprovação da Constituição em dezembro de 1931, a Catalunha, autoproclamada República, havia tentado adquirir um estatuto de autonomia compatível apenas com um modelo de Estado federal.

O governo de Madri teve de negociar duramente para que as competências catalãs fossem aceitáveis dentro de um Estado unitário.

Diante da declaração da Companys, a resposta de Madri não demorou.

O comandante militar da Catalunha, general Domingo Batet, recusou-se a ficar sob as ordens da Generalitat e, após consultar o chefe de governo em Madri, proclamou o Estado de guerra.

Um soldado de Infantaria foi morto por um miliciano, e o Exército respondeu com disparos de canhão.

Os confrontos à noite deixaram entre 46 e 80 mortos, segundo os historiadores. Às 6h de 7 de outubro, dez horas depois da proclamação, Companys comunicou sua rendição ao general Batet.

Foi detido junto com seu governo e vários deputados. Sua foto atrás das grades deu a volta ao mundo.

Em 14 de dezembro, uma lei suspendeu indefinidamente a autonomia da Catalunha.

Refugiado na França após a Guerra Civil (1936-1939), Companys foi preso pelos alemães em 1940 e entregue ao ditador Francisco Franco. Foi fuzilado em 15 de outubro no castelo de Montjuïc, em Barcelona.

Com o tempo, viria a se tornar um herói para os separatistas catalães e, hoje em dia, uma central avenida em Barcelona leva seu nome.

É justamente nessa avenida que se concentrarão os partidários da secessão, durante o discurso que Puigdemont fará hoje no Parlamento catalão, no Parque de la Ciutadella, a partir das 16h GMT (13h, horário de Brasília).

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