Protesto: a Catalunha celebra hoje a Diada (Susana Vera/Reuters)
EFE
Publicado em 11 de setembro de 2017 às 16h14.
Barcelona - Milhares de pessoas se manifestaram nesta segunda-feira em Barcelona para exigir a realização de um referendo independentista no próximo dia 1º de outubro e assim votar pela secessão da Espanha, uma aspiração cancelada pelo Tribunal Constitucional e rejeitada pelo governo central e os principais partidos do país.
A Catalunha celebra hoje a Diada, a lembrança da derrota militar sofrida em 11 de setembro de 1714 pelas forças catalãs que apoiaram o arquiduque Carlos da Áustria durante a Guerra de Sucessão ao trono da Espanha.
As associações organizadoras do protesto asseguraram que na mobilização tinham se inscrito mais de meio milhão de pessoas, que encerraram a marcha com gritos de "Votaremos, queiram ou não queiram".
A Guarda Urbana de Barcelona elevou esse dado e cifrou em um milhão de pessoas o total de participantes da mobilização, enquanto a Delegação do Governo Espanhol na região o rebaixou até 350.000 e a entidade Sociedade Civil Catalã, que rejeita a consulta de outubro e a secessão, calculou que havia cerca de 225.000 pessoas.
A Diada deste ano é plenamente reivindicativa e acontece a 20 dias do referendo ilegal convocado pela coalizão de forças independentistas que governa a Catalunha e rejeitado pela Justiça espanhola.
Os participantes formaram uma grande cruz humana entre duas avenidas perpendiculares para simular a imagem da soma e simbolizar a união dos independentistas a favor da secessão dessa região de 7,5 milhões de habitantes em relação à Espanha.
Os separatistas, que são maioria no parlamento regional, mas nas eleições autonômicas do final de 2015 não chegaram a 48% do voto popular, se mostram decididos a manter a convocação, vista como um desafio pelo governo espanhol.
A resposta do Executivo de Mariano Rajoy, com o respaldo dos socialistas e dos liberais, foi a de recorrer à Justiça, que anulou o referendo e apresentou ações contra membros do gabinete catalão e a presidenta do parlamento regional pelos delitos de desobediência, prevaricação e malversação em relação com a convocação do referendo.
Contra essas ações judiciais os separatistas recorrem às ruas e a manifestação de hoje pretende ser uma demonstração do apoio popular ao soberanismo.
Os soberanistas transferiram assim seu desafio às ruas, e o presidente regional catalão, Carles Puigdemont, encorajou seus seguidores a se dirigirem aos prefeitos dos municípios que não querem participar na organização do referendo para exigirem sua colaboração.
A maioria desses prefeitos são socialistas, já que o conservador PP, que governa a Espanha, é minoritário na Catalunha, e as palavras de Puigdemont foram interpretadas por líderes do PSOE como uma tentativa de pressão inaceitável.
Rajoy garantiu o respaldo aos prefeitos opostos a facilitar a votação de 1º de outubro.
A incógnita é a posição da prefeita de Barcelona, a esquerdista Ada Colau, que está à frente de um município de 1,6 milhão de pessoas e cuja decisão parece crucial, pela importância da cidade.
Colau navega entre duas águas, sem decidir-se claramente, e hoje disse que fará "todo o possível" para que haja a votação, mas sem pôr em perigo os funcionários, aos quais a Justiça poderia sancionar se colaborarem com um referendo ilegal.
O governo espanhol enviou instruções a funcionários municipais da Catalunha para informar-lhes de como devem proceder para manter-se na legalidade, circunstância que também afeta outro setor destacado, os Mossos d'Esquadra, a polícia regional que deveria agir contra os impulsores da consulta ilegal se assim exigir a Justiça.
Além disso, o Executivo de Rajoy apresentou hoje mesmo perante o Tribunal Constitucional um recurso contra a lei de transitoriedade aprovada no último dia 7 pelo parlamento catalão e que pretende ser a norma provisória para articular a transição para a independência, caso seja realizado o referendo de 1º de outubro e o "sim" se imponha como vencedor.