Seguindo uma linha de confrontação e de demonstrações de força, Capriles teria obtido 7,2 milhões de votos, conquistando até mesmo cerca de 700 mil eleitores chavistas, afirmam analistas (REUTERS/Carlos Garcia Rawlins)
Da Redação
Publicado em 15 de abril de 2013 às 20h10.
O líder da oposição Henrique Capriles passou para a ofensiva com uma curta, porém agressiva, campanha contra um chavismo enfraquecido pela morte de seu líder Hugo Chávez.
Apenas 40 dias depois do enterro de Chávez, Capriles pulverizou a vantagem histórica do "comandante" registrada ao longo dos seus 14 anos de governo.
Analistas consultados pela AFP destacam que Capriles, de 40, soube aproveitar os erros de seu adversário e herdeiro político de Chávez, Nicolás Maduro, de 50, conseguindo se conectar com o eleitorado.
Em poucos dias, Capriles passou de um candidato que - segundo pesquisas - perderia por 15% a 20% para aquele que foi derrotado por uma apertada margem de 1,5%. O candidato da oposição se nega a reconhecer o resultado oficial enquanto não houver recontagem de votos.
Em outubro passado, Capriles já havia registrado a maior votação de um representante da oposição desde 1999 (com 6,5 milhões de votos, 11 pontos atrás de Chávez). Agora, seguindo uma linha de confrontação e de demonstrações de força, ele teria obtido 7,2 milhões de votos, conquistando até mesmo cerca de 700 mil eleitores chavistas, afirmam analistas.
"Houve uma mudança na organização e no conteúdo da campanha de Capriles em relação à de outubro. Teve uma grande capacidade de aprendizado, assumiu uma série de críticas, incorporou a visão de outros fatores da oposição e assumiu uma conduta de confrontação ao governo nesta campanha, o que, claramente, os eleitores também queriam", disse o cientista político Carlos Romero à AFP.
Para Romero, professor da Universidade Central da Venezuela, o crescimento da robustez eleitoral de Capriles é multifatorial e se apoiou em outros dois eixos: "São as primeiras eleições sem Chávez, o principal motivador oficialista" e "houve uma deterioração econômica e um aumento da violência no país nos últimos meses.
"Capriles teve a capacidade de capitalizar, além disso, os erros e a falta de vigor da campanha de Maduro. Enquanto o candidato governista fazia curto-circuito com as massas, ele estabeleceu uma relação muito orgânica e em sintonia com o povo", acrescentou Romero.
O representante da oposição protagonizava sozinho seus comícios, pontuados por referências religiosas e críticas a Maduro, por "se esconder" atrás da imagem de Chávez, enquanto que o herdeiro do chavismo oferecia novas obras em cada região visitada, cercado por animadores e atores.
Ao mesmo tempo em que chamava Maduro de "frouxo" e denunciava o uso de recursos públicos na campanha do rival, Capriles também fez questão de apresentar sua candidatura como uma "luta espiritual".
"Essa luta se tornou uma luta espiritual de caráter divino" para "derrubar um muro do mal", disse Capriles, durante a campanha, ao se referir a Maduro e se colocando ao lado do "bem".
Após a divulgação dos resultados de domingo, Capriles manteve a estratégia agressiva de campanha, rejeitando os números das urnas e garantindo que "essa luta não terminou".
"O derrotado no dia de hoje é você, e digo isso com toda firmeza", atacou o opositor, no discurso feito após a divulgação dos resultados oficiais por parte do Conselho Nacional Eleitoral.
Para a analista Carmen Beatriz Fernández, o "vigor" de Capriles lhe permitiu "se conectar com os eleitores porque é autêntico e há uma grande credibilidade associada a sua autenticidade".
"Capriles fez uma campanha com uma dimensão épica, na qual introduziu o dilema moral entre a verdade e a mentira, concentrando-o especialmente nas circunstâncias da morte de Chávez e no que o governo deixou de dizer para o povo. Com isso, começou a conseguir que a manipulação emocional do governo com esse tema chegasse a um nível de saturação rápido e o ajudasse a captar o voto chavista", explicou Carmen.
Nesse sentido, Capriles questionou até mesmo a data da morte de Chávez, quando aceitou se candidatar em 10 de março, apenas cinco dias após o falecimento do "comandante".
"Quem sabe quando o presidente Chávez morreu?", disse Capriles no evento, acusando Maduro de mentir para o povo venezuelano.
Sua nova estratégia, muito mais desafiadora, marcava uma clara diferença em relação a seu discurso mais neutro, com o qual enfrentou Chávez em outubro.
"A sensibilidade política de Capriles, sua garra e sua nova base eleitoral dão à oposição um ativo-chave e um candidato presidencial para o futuro", concluiu Fernández.