Logo da TV5 Monde, em Paris: o ataque, "sem precedentes na história da televisão", segundo a emissora, aconteceu às 22h de Paris (Franck Fife/AFP)
Da Redação
Publicado em 9 de abril de 2015 às 09h03.
Paris - O canal francês TV5Monde, alvo na quarta-feira à noite de um ataque cibernético "inédito e de grande envergadura" por parte de indivíduos que alegam pertencer ao grupo Estado Islâmico (EI), permanecia fora do ar nesta quinta-feira.
A ação de hackers contra a TV5 é um "atentado inaceitável à liberdade de informação e de expressão", escreveu o primeiro-ministro francês Manuel Valls no Twitter.
O ministro do Interior, Bernard Cazeneuve, a ministra da Cultura, Fleur Pellerin, e o chanceler Laurent Fabius compareceram na manhã desta quinta-feira à sede da TV5Monde em Paris.
"A investigação está em curso", disse Cazeneuve, antes de afirmar que está decidido a combater "os terroristas".
Fleur Pellerin anunciou que terá uma reunião com os diretores dos grandes meios de comunicação do país.
O ataque, "sem precedentes na história da televisão", segundo a emissora, aconteceu às 22H00 de Paris (17h00 de Brasília).
As transmissões foram interrompidas e substituídas por uma tela escura nos 11 canais da TV5Monde.
Ao mesmo tempo, o canal de televisão perdeu o controle de suas páginas no Facebook, de suas contas no Twitter e de seus portais de internet, nos quais os hackers publicaram reivindicações do Estado Islâmico.
"É um ciberataque extremamente preciso e potente", declarou à AFP Yves Bigot, diretor geral da TV5Monde.
"A partir das 5H00 (0H00 de Brasília), conseguimos exibir um programa único na totalidade de nossos canais. Até agora não podemos produzir nossos próprios noticiários e a situação não será restabelecida antes das 14H00" (9H00 de Brasília), completou.
"Exibimos um programa de emergência para não deixar a tela escura. Não temos e-mails. Todo o sistema de informática está bloqueado", afirmou Jean Corneil, diretor de recursos humanos da emissora.
O canal recuperou o controle do Facebook e Twitter durante a madrugada, mas o portal na internet permanecia "em manutenção".
Documentos apresentados como carteiras de identidade e currículos de parentes de soldados franceses envolvidos nas operações contra o EI foram postados na conta do Facebook da TV5 Monde.
"Soldados da França, fiquem longe do Estado Islâmico! Vocês têm a chance de salvar suas famílias, aproveitem", afirmava uma mensagem no Facebook.
"Em nome de Alá, o clemente, o todo misericordioso, o CyberCaliphate continua a liderar sua cyberjihad contra os inimigos do Estado Islâmico", completava a nota.
A mensagem acusa o presidente francês, François Hollande, de ter cometido "um erro imperdoável" travando "uma guerra que não serve para nada".
"Por isso que os franceses receberam o presente de janeiro na (revista) Charlie Hebdo e no (supermercado) Hyper Casher", completava o texto, em referência aos atentados contra a revista satírica e a loja de produtos judaicos que deixaram 17 mortos em Paris entre os dias 7 e 9 de janeiro.
O CyberCaliphate "ainda está procurando as famílias de militares que se venderam para os americanos", afirmam.
A França faz parte de uma coalizão internacional militar contra o Estado Islâmico liderada pelos Estados Unidos, que há vários meses realiza bombardeios aéreos no Iraque e na Síria, onde o EI assumiu o controle de vastas áreas e declarou um "califado".
O ato de pirataria ocorreu no dia do lançamento do novo canal da rede - o TV5Monde Style HD, dedicado à "arte de viver à francesa".
Com o apoio do ministro francês das Relações Exteriores, Laurent Fabius, o canal iniciou suas transmissões na quarta-feira na região Ásia-Pacífico, nos países do Magreb e do Oriente Médio.
"Não tem nenhum vínculo com o lançamento porque um ciberataque de tal potência exige semanas de preparação", afirmou Bigot.
Canal internacional de televisão em francês com sede em Paris, a TV5 Monde é transmitida em mais de 200 países ao redor do mundo.