Polícia israelense em Hebron, na Palestina: a vigilância com câmeras tem o objetivo de reduzir os confrontos que deixaram vários mortos nos últimos dias (Reuters / Mussa Qawasma)
Da Redação
Publicado em 26 de outubro de 2015 às 12h56.
O acordo anunciado no sábado para reduzir a tensão entre israelenses e palestinos estava em perigo nesta segunda-feira, depois que a entidade que administra a Esplanada das Mesquitas acusou Israel de impedir a instalação de câmeras de segurança, como estava acordado.
A fundação islâmica Waqf que administra o local acusou a polícia israelense de ter impedido a instalação das câmeras.
A vigilância com câmeras tem o objetivo de reduzir os confrontos que deixaram vários mortos nos últimos dias. No geral, são ataques de jovens que não integram nenhuma organização e que atacam soldados, policiais e civis com facas.
O governo israelense se justificou, dizendo que a instalação de câmeras deve ocorrer em coordenação do Israel.
"Os dispositivos finais quanto a maneira e o local onde serão instaladas as câmeras no Monte do Templo, objeto de um acordo entre Israel, Jordânia e os Estados Unidos devem ser coordenados entre profissionais", afirmou o gabinete do primeiro-ministro Benjamin Netanyahu.
Nesta segunda-feira, um palestino de 19 anos foi morto a tiros em Hebron (sul da Cisjordânia), depois de atacar um israelense com uma faca e atingir o pescoço da vítima, que está gravemente ferida.
Desde 1º de outubro, os confrontos entre jovens palestinos e soldados israelenses, as agressões entre palestinos e colonos e uma série de ataques anti-israelenses com armar brancas deixaram 55 mortos entre os palestinos (54 palestinos e um árabe israelense), metade deles autores de ataques, e oito israelenses.
A origem do conflito é a Esplanada das Mesquitas, um local sagrado tanto para palestinos como para israelenses, que disputam o direito de rezar na área.
Para evitar um conflito generalizado, o governo dos Estados Unidos propôs no sábado um acordo entre Israel, que controla o acesso à Esplanada, e a Jordânia, responsável por supervisionar os locais sagrados de Jerusalém.
Segundo o acordo, Israel aceitou as câmaras para dissuadir as provocações dos dois lados e determinar responsabilidades.
"Mas quando começamos a instalar as câmeras esta manhã, a polícia (israelense) chegou e interrompeu o trabalho, afirmando que estava proibido", explicou à AFP o xeque Azam al-Jatib, diretor da fundação islâmica Waqf, que administra a esplanada sob a supervisão da Jordânia.
A fundação condenou "vigorosamente a interferência israelense" e afirmou que isto "prova que Israel deseja instalar câmeras que sirvam unicamente a seus interesses, e não aos da verdade e justiça".
A polícia israelense não comentou as acusações.
A Esplanada, terceiro local sagrado do islã e também venerado pelos judeus (que o chamam de Monte do Templo, por ser parte das ruínas de seu antigo templo), fica em Jerusalém Oriental, a parte palestina de Jerusalém anexada e ocupada por Israel.
A instalação das câmeras foi a única medida concreta anunciada no sábado pelo secretário de Estado americano, John Kerry, após uma reunião com o primeiro-ministro israelense Benjamin Netanyahu, o presidente palestino Mahmud Abbas e o rei Abdullah II da Jordânia.
A proposta de instalar câmeras preocupa os palestinos, pois acreditam que servirão apenas para que Israel prenda palestinos. Netanyahu disse que "demonstrarão de onde vem realmente as provocações e para preveni-las".
Os palestinos e a Jordânia acusam Israel de querer mudar as regras que vigoram na Esplanada (o chamado "status quo") para que os judeus também possam rezar no local, algo proibido atualmente, e para a longo prazo dividir a área em duas zonas, uma judaica e uma muçulmana.