Briga entre EUA, China e Rússia é péssima para combate ao terror na África
EUA querem reduzir a ajuda às unidades militares africanas para lutar contra as ameaças mais tradicionais da China e da Rússia
Gabriela Ruic
Publicado em 12 de julho de 2018 às 06h00.
Última atualização em 12 de julho de 2018 às 06h00.
Os EUA deverão reduzir a ajuda às unidades militares africanas que combatem o terrorismo em um realinhamento de sua estratégia de defesa para lutar contra as ameaças mais tradicionais da China e da Rússia.
A mudança ocorre apesar de uma crescente ameaça terrorista no continente que levou a um aumento da presença americana, resultando em ataques às forças dos EUA no Níger e na Somália que deixaram seis membros do serviço dos EUA mortos desde o início de 2017. Os terroristas chegaram até a penetrar no quartel-general de uma força-tarefa militar no Mali no mês passado.
A ajuda americana ao contraterrorismo na África subsaariana -- categoria que abrange 46 países -- aumentou drasticamente nos últimos anos à medida que a ameaça terrorista se expandia no continente, aumentando de US$ 327 milhões nos anos fiscais de 2011 a 2014 para US$ 954 milhões nos anos fiscais de 2015 a 2018, segundo o Security Assistance Monitor, que analisa os gastos dos EUA com segurança.
Mas segundo a nova estratégia de defesa do governo de Donald Trump, tudo deve mudar.
“De acordo com a Estratégia Nacional de Defesa, vamos ver uma transferência de recursos, da priorização do combate a organizações extremistas violentas à capacitação de nossos aliados e parceiros para que lidem com algumas das novas ’antigas’ ameaças”, disse Greg Pollock, subsecretário adjunto interino de Defesa para a Cooperação em Segurança, em entrevista.
Pouca menção
O relatório mais recente da Estratégia Nacional de Defesa, divulgado no início de 2018 pelo secretário Jim Mattis, alerta sobre o retorno a uma era de conflito de “grandes potencias” com adversários como a China e a Rússia. A África é mencionada apenas uma vez no resumo não-confidencial da estratégia, em uma seção sobre o fortalecimento de alianças e a atração de novos parceiros.
Isso não significa que a campanha antiterrorista na África -- que engloba desde os terroristas do Boko Haram na Nigéria até ramificações do Estado Islâmico no Níger -- esteja sendo abandonada. Os militares americanos mantêm mais de 7.000 membros espalhados por toda a África, incluindo 800 soldados no Níger, onde quatro militares americanos foram mortos em uma emboscada no ano passado. Na região central do Níger, os EUA estão investindo mais de US$ 100 milhões em uma base de drones para ajudar a combater terroristas.
Separadamente, o Pentágono também enviará mais de US$ 100 milhões em ajuda a sete países da África como parte de um programa de apoio às forças que considera mais capazes de combater uma lista crescente de grupos terroristas, segundo um documento do Pentágono obtido pela Bloomberg. A maior parte do apoio, cerca de US$ 70 milhões, será destinada a Uganda, e países como Camarões, Quênia, Mauritânia e Nigéria ficarão com o restante. O dinheiro será usado para treinamento e material, incluindo veículos militares, armas e drones.
Mas, para alinhar os programas de ajuda militar de Washington com a visão enunciada na estratégia nacional de defesa, o Departamento de Defesa está se preparando para aumentar a ajuda a países da Europa e do domínio do recém-batizado Comando Indo-Pacífico. Parte disso será feita destinando menos recursos à África.
"Não há dúvida de que continuará havendo riscos associados a grupos terroristas na África", disse Pollock. "Precisamos equilibrar esses riscos com os riscos de uma perda estratégica de posição no Pacífico e na Europa a mais longo prazo."
Pollock disse que o Pentágono não iniciaria um "declínio vertiginoso" na ajuda aos países da África, mas que trabalhará para realinhar gradualmente seus gastos com a orientação da nova estratégia nacional de defesa.