Primeiro-ministro britânico, Boris Johnson (centro), cumprimenta o presidente do Conselho Europeu (à esquerda) e a Presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen (AFP/AFP)
AFP
Publicado em 12 de junho de 2021 às 12h11.
O primeiro-ministro britânico, Boris Johnson, expressou neste sábado (12) sua disposição de suspender o acordo Brexit na Irlanda do Norte, apesar dos apelos dos europeus para cumpri-lo, jogando um balde de água fria sobre a alegada unidade do G7.
"Se o protocolo continuar a ser aplicado desta forma, não hesitaremos em invocar o artigo 16 do acordo da Irlanda do Norte, que permite a suspensão de certas disposições", disse Johnson à Sky News.
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As disposições especiais para esta região britânica, que faz fronteira com a República da Irlanda - país da União Europeia (UE) - dificultam a chegada de produtos do resto do Reino Unido e centram a enésima disputa entre Londres e os seus antigos parceiros.
O governo Johnson, assim como os unionistas da Irlanda do Norte fortemente apegados à sua filiação à coroa britânica, afirmam que elas colocam em risco a integridade e a soberania do país.
Mas os europeus consideram que ele deveria ter pensado nisso antes de assinar o chamado "protocolo da Irlanda do Norte" - tantas vezes rejeitado por sua antecessora Theresa May - no âmbito do acordo Brexit e agora ele deve cumprir o que foi acordado e ratificado.
Depois de um encontro com o primeiro-ministro britânico, em paralelo à cúpula do G7, o presidente francês Emmanuel Macron se dispôs a "redefinir" as relações franco-britânicas, mas ressaltou que isso exige "que os britânicos respeitem a palavra dada aos europeus."
"Ambas as partes devem aplicar o que foi acordado. A unidade da UE nisso é total", concordaram Ursula von der Leyen e Charles Michel, os líderes da Comissão Europeia e do Conselho Europeu, no Twitter.
Ambos asseguraram que as medidas acordadas para a Irlanda do Norte "preservam" a paz na região evitando o retorno de uma fronteira dura com a República da Irlanda.
Desde o Brexit, a difícil questão da Irlanda do Norte envenenou as relações entre as duas partes. As disposições especiais que mantêm a região dentro da união aduaneira europeia e do mercado único, e complicam o abastecimento do resto do Reino Unido, também causaram graves tensões na região.
E há temores de que os violentos distúrbios intercomunitários de abril se repitam durante as marchas unionistas de julho.
Na noite de quinta-feira, 3.000 pessoas se manifestaram em Belfast, apesar das restrições sanitárias contra o coronavírus, de acordo com a polícia local.
Nos últimos dias, as tensões envolveram as importações de carnes refrigeradas, descritas pela imprensa britânica como uma "guerra da linguiça", à medida que se aproxima o fim do período de carência para os controles aduaneiros.
Johnson pediu aos europeus que mostrassem "pragmatismo e concessões" na aplicação do chamado "protocolo da Irlanda do Norte".
E ele era a favor de encontrar "soluções práticas" para "minimizar" seu impacto na vida diária do povo da Irlanda do Norte, preservando o processo de paz.
O acordo da Sexta-feira Santa encerrou três décadas de conflito sangrento em 1998 entre partidários (unionistas protestantes) e opositores (republicanos católicos) de permanecer na coroa britânica.
Londres acusa Bruxelas de adotar uma "abordagem muito purista" na aplicação das disposições alfandegárias, e a UE indicou que não hesitará em retaliar com tarifas específicas em face das tentativas de modificar unilateralmente o que foi acordado.
Na quarta-feira, altos funcionários de Londres e Bruxelas se reuniram na capital britânica para discutir o assunto, mas sem sucesso.
Orgulhoso de sua ascendência irlandesa, o presidente dos EUA, Joe Biden, também reafirmou seu compromisso com o protocolo, que, segundo ele, garantirá a paz.
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