Além de reduzir os impostos sobre a eletricidade, o governo pretende antecipar a renovação de algumas concessões (Fabio Luiz A. Silva/ Flickr Commons)
Da Redação
Publicado em 14 de agosto de 2012 às 20h15.
Rio de Janeiro - O Brasil poderá melhorar sua competitividade externa em plena crise internacional graças à redução do custo da energia - que será anunciado nesta quarta-feira pelo Governo - e à atual desvalorização do real, concordaram especialistas em um seminário realizado hoje no Rio de Janeiro.
A redução do custo de produção no Brasil com energia mais barata e o aumento da competitividade dos produtos brasileiros com o real menos valorizado em relação ao dólar permitirão que o Brasil mantenha suas exportações em uma conjuntura de restrição mundial, de acordo com autoridades, analistas e economistas que participaram do ''Bloomberg Brazilian Economic Summit''.
Os especialistas fizeram referências às medidas que o governo vai anunciar amanhã para fazer frente à crise internacional, destacando as que reduzirão o valor das tarifas de energia no país, consideradas entre as mais elevadas do mundo.
Segundo algumas versões da imprensa, além de reduzir os impostos sobre a eletricidade, o governo pretende antecipar a renovação de algumas concessões em troca do comprometimento das empresas beneficiárias de reduzir suas tarifas.
Para Welber Barral, ex-secretário de Comércio Exterior do país e diretor da Coalizão de Indústrias Brasileiras, o Brasil tem um custo de energia muito caro, especialmente por causa dos impostos, e uma redução da tarifa beneficiará todos os setores, especialmente a indústria.
Segundo o economista-chefe para mercados emergentes do Credit Suisse Brasil, Nilson Teixeira, entre as medidas que o governo anunciará para reduzir o custo dos negócios, a que reduz o preço da energia talvez seja a mais importante e a que mais elevará a competitividade do país no exterior.
Teixeira considera que outro efeito positivo da redução do custo da energia é que permitirá ao Banco Central continuar reduzindo as taxas de juros para incentivar o crescimento sem se preocupar com a perda do controle da inflação.
''Sem dúvida que a energia é um insumo básico para toda a economia e obviamente que uma redução do custo terá um efeito muito positivo na competitividade da indústria'', disse à Agência Efe o secretário de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda, Carlos Marcio Cozendey, outro participante do seminário.
Para Pedro Bastos, diretor para o Brasil do HSBC Global Asset Management, as medidas de incentivo, principalmente a redução do custo da energia, aumentará o interesse dos investidores estrangeiros no país.
Os analistas também concordaram que o câmbio dos últimos meses, que passou de cerca R$ 1,60 por dólar em meados de ano passado para os atuais R$ 2,02, também eleva significativamente a competitividade do Brasil.
O real está entre as moedas que mais se desvalorizou neste ano e, perante o efeito positivo dessa consequência na indústria, o governo parece satisfeito com o atual nível de câmbio.
''O Banco Central está confortável com o atual nível do dólar e o governo está disposto a pagar um prêmio para manter suas reservas elevadas e impedir que a moeda se valorize'', afirmou o diretor de Ratings Soberanos da Standard & Poor''s para a América Latina, Sebastián Briozzo.
''É possível que o nível de câmbio permaneça estável por enquanto a não ser que se produza um agravamento da crise. Isso vai permitir uma entrada de investimentos'', acrescentou Teixeira.
Apesar da desvalorização do real em relação ao dólar dos últimos meses, os especialistas consideram que a moeda brasileira ainda está muito acima do valor que deveria estar em condições reais.
Barral citou um estudo da Fundação Getulio Vargas (FGV) que informa que o real está supervalorizado entre 20 e 30% em relação ao dólar e ao yuan.
''Não posso dar uma percentagem específica. Há várias metodologias, mas todas as que conhecemos colocam o real supervalorizado em diferentes graus. Dependendo da metodologia, o valor é diferente, mas a situação melhorou e temos hoje um nível melhor que em meados do ano passado'', disse Cozendey à Efe.
Segundo o secretário, como consequência da crise mundial, quando as empresas dos países desenvolvidos saíram na busca de novos mercados para colocar seus produtos, o Brasil foi um dos alvos preferidos porque se beneficiava da taxa de câmbio do momento.