Brasil, Europa e Ásia se recusam a pagar recuperação dos EUA
Medidas do Fed foi alvo de críticas de diversos países; emergentes temem formação de uma bolha especulativa
Da Redação
Publicado em 5 de novembro de 2010 às 15h24.
Paris - A decisão do Fed (Federal Reserve, banco central americano) de injetar 600 bilhões de dólares nos mercados para favorecer a recuperação nos Estados Unidos provocou uma enxurrada de críticas, na sexta-feira, da Europa e da Ásia, que se somaram ao Brasil em seu temor de ter que pagar o preço da convalescença da primeira economia mundial.
Se as praças bursáteis reagiram com entusiasmo, os governos não demonstraram a mesma simpatia, já que vários países veem, por trás desta injeção de liquidez, o risco de um declínio do dólar, o que prejudicará suas exportações.
A decisão do Fed ocorre em pleno debate sobre a guerra cambial, com trocas de acusações entre vários países por intervirem para fragilizar suas moedas e favorecer as exportações e o crescimento individuais em detrimento dos outros.
Os países asiáticos, liderados pela China, temem em particular se tornar o principal alvo dos especuladores, em busca de rendimentos financeiros mais elevados dos mercados emergentes, em comparação com as economias desenvolvidas.
O governador do Banco Central chinês, Zhou Xiaochuan, considerou que a medida adotada pelo Fed poderia ser a melhor para os Estados Unidos, mas "não necessariamente a ideal para o mundo", pois corre o risco de acarretar "muitos efeitos negativos para a economia mundial".
A possibilidade de que os novos recursos disponíveis com a decisão do Fed vão para os mercados emergentes, uma ameaça que afeta também a América Latina, traz o risco de que se formem bolhas especulativas.
A partir desta medida "desleal", "um volume enorme de capitais vai dirigir-se, provavelmente, para as economias emergentes", disse, por sua vez, um conselheiro da instituição, Xia Bin.
A China espera que os Estados Unidos deem "uma explicação", já que a "confiança internacional na reativação e no crescimento da economia mundial poderia ser afetada", disse, por sua vez, o vice-chanceler chinês Cui Tiankai.
Foi o ministro da Fazenda brasileiro, Guido Mantega, que fez os primeiros ataques na quinta-feira, ao assegurar que "de nada serve que andem atirando dinheiro de um helicóptero sobre a economia porque isto não fará o crescimento brotar".
"O único resultado que tem esta medida é uma depreciação do dólar para que os Estados Unidos tenham uma competitividade maior no comércio internacional, tanto é assim que nós hoje temos um déficit comercial com os Estados Unidos e isto nos afeta", acrescentou.
Muito crítico também, o ministro alemão das Finanças, Wolfgang Schauble, assegurou que os americanos não vão resolver seus problemas, ao contrário, vão criar "problemas adicionais" ao mundo.
"Certamente desejo que os americanos resolvam rápido e bem seus grandes problemas, mas se virem os êxitos da Alemanha, perceberão que não conseguirão criando mais déficits", disse o ministro conservador.
A ministra francesa da Economia também lamentou que o euro "arque com o peso" desta medida.