Boris Johnson: premiê dará advertência de que se a oferta for rejeitada o Reino Unido abandonará o bloco sem acordo (Chris Ratcliffe/Bloomberg)
AFP
Publicado em 2 de outubro de 2019 às 07h00.
O primeiro-ministro britânico Boris Johnson apresentará nesta quarta-feira (2), durante o congresso do Partido Conservador, sua "proposta final" sobre o Brexit à União Europeia (UE), com a advertência de que se a oferta for rejeitada o Reino Unido abandonará o bloco sem um acordo no final do mês.
Downing Street afirmou que a proposta, que será detalhada durante o discurso de encerramento do congresso em Manchester, norte da Inglaterra, permitiria um acordo "justo e razoável".
"Mas se Bruxelas não iniciar o diálogo a respeito, este governo deixará de negociar até a saída da UE em 31 de outubro", advertiu em um comunicado.
O principal objetivo da proposta é substituir a controversa "salvaguarda irlandesa" por outro sistema que permita evitar uma fronteira dura entre a província britânica da Irlanda do Norte e a República da Irlanda – país membro da UE – para preservar o acordo de paz de 1998 que acabou com três décadas de conflito violento na região.
O plano de Johnson, que teve alguns trechos vazados e foi recebido com frieza em Dublin, foi chamado nesta quarta-feira de "ultimato" pelo jornal The Sun e de "ameaça" pelo The Guardian.
Mais de três anos depois do referendo de 2016, o complicado processo do Brexit levou o Reino Unido a uma profunda crise política, que inclui a ameaça de uma saída brutal da UE, o que teria consequências caóticas para a economia e a sociedade.
O acordo, negociado com dificuldades pela ex-primeira-ministra Theresa May, foi rejeitado três vezes pelo Parlamento britânico: os eurocéticos consideram que faz concessões "inaceitáveis" à UE, enquanto os pró-europeus afirmam que suas condições são piores que aquelas que o país tem atualmente como integrante do bloco.
O jornal Daily Telegraph informou que a proposta de Johnson consistiria em deixar a Irlanda do Norte no mercado único europeu até 2025, mas mantendo a região em uma união alfandegária com o Reino Unido.
Desta maneira existiriam duas fronteiras: controles alfandegárias entre as duas Irlandas e controles regulamentares entre as ilhas da Irlanda e da Grã-Bretanha.
"Isto não será aceitável para o governo irlandês, mas tampouco para a UE em seu conjunto", afirmou a ministra irlandesa de Assuntos Europeus, Helen McEntee.
A perspectiva de reinstaurar uma fronteira na ilha da Irlanda em caso de Brexit sem acordo preocupa particularmente o governo de Dublin, que considera a medida uma ameaça à frágil paz estabelecida há duas décadas entre os republicanos católicos – partidários da reunificação da ilha – e os unionistas protestantes, leais à coroa britânica.