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Boric anuncia "ajustes" em governo após nova Constituição ser negada por chilenos

Com a derrota contundente nas urnas do projeto de nova Constituição, o marco jurídico da ditadura continua vigente

Gabriel Boric: presidente anuncia "ajustes" em governo após nova Constituição ser negada por chilenos (Rodrigo Garrido/Reuters)

Gabriel Boric: presidente anuncia "ajustes" em governo após nova Constituição ser negada por chilenos (Rodrigo Garrido/Reuters)

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AFP

Publicado em 5 de setembro de 2022 às 07h13.

Última atualização em 5 de setembro de 2022 às 07h29.

A derrota contundente nas urnas do projeto de nova Constituição no Chile levou o presidente Gabriel Boric a anunciar "ajustes imediatos" em seu governo e a pedir a construção de pontes com a oposição no Congresso a partir desta segunda-feira, 5, quando o país desperta do choque eleitoral.

"Além das legítimas divergências, sei que prevalece a vontade de diálogo e encontro", disse Boric em um discurso à nação após a apuração dos votos do plebiscito, com vitória de 61,8% para a rejeição da nova Constituição, contra 38% a favor.

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Boric, de 36 anos e que assumiu a presidência em março apostando no triunfo do "Aprovo" por uma mudança constitucional, antecipou que para "enfrentar os importantes e urgentes desafios serão necessários ajustes imediatos em nossas equipes de governo, para enfrentar este novo período com brio renovado".

Na eventual mudança de gabinete um dos nomes mais citados é de Izkia Siches, ministra do Interior.

Mais de 13 milhões de eleitores de um total de 15,1 milhões participaram na consulta, que representou um duro revés para o governo e um novo impulso para a direita chilena, cuja liderança política reapareceu assim que os resultados foram anunciados.

Como havia antecipado há algumas semanas, Boric se comprometeu de imediato a estimular um novo processo constituinte que ficará nas mãos do Congresso.

"O povo chileno não ficou satisfeito com a proposta de Constituição que a Convenção apresentou ao Chile e, portanto, decidiu rejeitá-la de maneira clara nas urnas", disse Boric, que convocou todas as forças políticas para um diálogo, deixando para trás "maximalismos, violência e intolerância".

Apesar de terem ratificado a vontade de prosseguir com o processo constituinte, os líderes da coalizão de direita "Chile Vamos" se recusaram a comparecer à primeira reunião convocada pelo presidente, considerando que o resultado foi um "derrota do governo". E o grupo pretende condicionar qualquer negociação.

"Que não reste dúvida que este triunfo do 'Rejeito' é um fracasso do presidente Gabriel Boric e de todo seu governo. Presidente Gabriel Boric, esta derrota também é a sua derrota", afirmou o ex-candidato presidencial de extrema-direita José Antonio Kast.

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Processo mal avaliado

O resultado eleitoral chileno, antecipado pelas pesquisas, mas nunca por uma margem tão ampla, também representa algo raro na história dos processos constituintes organizados por representantes eleitos pelo voto popular, que geralmente são aprovados.

O voto contra a nova Constituição venceu em todo Chile, inclusive nas penitenciárias, e apenas entre os 100.000 chilenos registrados para votar no exterior a opção "Aprovo" foi vencedora.

Eleitores do "rechazo", que rejeitaram o projeto de nova Constituição no Chile, celebram o resultado do plebiscito em Santiago (Cristobal Olivares/Bloomberg/Getty Images)

Dos 346 distritos eleitorais do país, em apenas oito foram registradas vitórias do "Aprovo", que sofreu derrotas difíceis de assimilar nas regiões mais pobres do país, incluindo Araucanía, onde a população é majoritariamente indígena, e em locais afetados por problemas de abastecimento de água ou pela poluição das indústrias, temas que foram considerados entre normas e direitos no projeto constitucional.

"O processo constituinte pesou muito para os cidadãos. Mais do que o resultado, o texto em si, o que as pessoas vinham avaliando mal há várias semanas era a maneira como se desenvolveu o processo", explicou à AFP Marco Moreno, cientista político da Universidade Central do Chile.

De acordo com o professor, "os excessos, os posicionamentos de lógicas identitárias que tentavam ser impostos ao restante da sociedade e a própria conduta de muitos terminaram por gerar uma visão negativa nas pessoas de que se o processo foi ruim, na realidade o texto não poderia ser algo diferente".

A organização do referendo sobre uma nova Carta Magna, após a grande revolta social de 2019 para pedir mais justiça social, teve o apoio de quase 80% dos eleitores que votaram em um plebiscito em outubro de 2020 para iniciar o processo constituinte.

O projeto destacava a "plurinacionalidade" indígena e estabelecia uma nova série de direitos sociais na saúde, aborto, educação e Previdência, com uma ênfase para o meio ambiente e proteção de novos direitos, mas com a manutenção da economia de mercado.

"O presidente convocou uma reunião inicial e será preciso ver quem comparece a esta reunião e com que atitude chegam (...) Estamos diante de um cenário incerto no qual a direita está melhor posicionada", declarou à AFP Cecilia Osorio, professora na Faculdade de Governo da Universidade do Chile.

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