Bolívia sanciona lei que aceita pedidos de trabalho infantil
Concessão seria dada caso menores de idade peçam para trabalhar
Da Redação
Publicado em 17 de julho de 2014 às 16h28.
La Paz - O governo da Bolívia promulgou nesta quinta-feira o novo código de proteção a criança e ao adolescentes que permite o trabalho por conta própria a partir dos dez anos de idade, como o exigiram as associações de menores trabalhadores às autoridades.
O vice-presidente do país, Álvaro García Linera, que exerce a presidência interina enquanto o Evo Morales está no Brasil, promulgou a lei que também castiga com 30 anos de prisão o infanticídio, sanciona o assédio escolar e regula as adoções.
Em seu discurso, Linera disse que demorou muito para elaborar o novo "Código Niño, Niña e Adolescente" porque queria encontrar um "justo equilíbrio" entre a realidade boliviana e o estabelecido nos tratados internacionais de proteção infantil.
Após um longo debate entre autoridades, organizações de crianças e adolescentes e instituições defensoras da infância ficou decidido reconhecer 'excepcionalmente' o trabalho por conta própria a partir dos dez anos de idade, informou o vice-presidente.
No final do ano passado, organizações de crianças e adolescentes trabalhadores protestaram contra projeto aprovado inicialmente na Câmara dos Deputados que estabelecia como idade mínima para trabalhar os 14 anos. Os menores exigiam aos parlamentares que fosse respeitado o 'direito ao trabalho', ao alegar que é sua forma de subsistência e que devem ajudar seus pais porque vivem na pobreza.
Eddy Dávalos, que defende o trabalho das crianças, criticou hoje no ato de promulgação à Organização Internacional do Trabalho (OIT) que, segundo disse, "impôs aos países latino-americanos a idade mínima do trabalho infantil" e a erradicação dele 'sem levar em conta a realidade de cada país'.
"Eles lançam a lei e dizem para nós cumprirmos, mas olhem esta realidade: crianças de dez anos estão presentes aqui. A OIT não pensa nisso?", disse Dávalos que acrescentou que o desafio agora será conseguir que o novo código de proteção seja cumprido.
A norma também permite o trabalho infantil a partir dos 14 anos quando exista uma relação de dependência com um empregador, apesar dos menores terem que pedir uma autorização especial dos pais ou de tutores e de uma entidade do Ministério do Trabalho.
Os menores trabalhadores terão os mesmos benefícios sociais e trabalhistas que um adulto e seus empregadores deverão conceder duas horas diárias remuneradas para que estudem.
O presidente do Senado, o governista Eugenio Rojas, explicou que foi estabelecida uma lista de trabalhos vetados para crianças com idade entre 12 e 14 anos, entre eles mineração, colheita, fabricação de tijolos e venda de bebidas alcoólicas.
Segundo Linera, 'a formação da criança é parte da construção dos conhecimentos, os saberes familiares e a disciplina da família', por isso a norma também reconhece pela primeira vez o trabalho formativo no núcleo familiar.
Além de legislar o trabalho infantil, o vice-presidente ressaltou que o novo código pune o infanticídio com 30 anos de prisão sem direito a indulto e inclui sanções para o assédio escolar ou 'bullying' e a violência sexual contra crianças e adolescentes.
A norma diminui ainda de 16 para 14 anos a idade para a responsabilidade penal, apesar de neste último ponto, as autoridades ressaltarem que os adolescentes que cometam crimes terão tratamento diferenciado dos adultos.
"É uma boa lei que apoia a realidade com transformação, que apoia os convênios internacionais com a situação atual e como se articulam para ir transformando de maneira viável e palpável as condições de vida das crianças", disse Linera.