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Biden já está melhor nas pesquisas do que Hillary Clinton em seu auge

O candidato democrata tenta não repetir o susto de 2016, quando Hillary Clinton estava na frente, mas as pesquisas falharam em prever a vitória de Trump

Joe Biden e Hillary Clinton na campanha presidencial de 2016: a candidata democrata liderava as pesquisas, mas perdeu estados decisivos na eleição (Mark Makela/Getty Images/Getty Images)

Joe Biden e Hillary Clinton na campanha presidencial de 2016: a candidata democrata liderava as pesquisas, mas perdeu estados decisivos na eleição (Mark Makela/Getty Images/Getty Images)

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Carolina Riveira

Publicado em 9 de agosto de 2020 às 08h00.

Os americanos já viram esse filme antes. A menos de três meses da eleição presidencial nos Estados Unidos, Joe Biden lidera as pesquisas na disputa pela Casa Branca contra o presidente Donald Trump, que tenta a reeleição.

A esta altura da última eleição presidencial, em 2016, a candidata do Partido Democrata, Hillary Clinton, também vencia nas sondagens (e vencia com certa folga). No fim, as pesquisas falharam em prever a vitória de Trump, que venceu o pleito pelo Partido Republicano e conquistou seu primeiro cargo público.

Desta vez, Biden não só lidera as pesquisas como tem mais margem em relação a Trump do que Clinton jamais teve em 2016. No começo de agosto daquele ano, Trump estava cerca de 7,5 pontos atrás de Clinton. Foi o auge da candidata, que, depois, passou a ter uma margem menor. Agora, Biden vence nas pesquisas por margem ainda maior, e está 7,8 pontos à frente, segundo as pesquisas da última sexta-feira, 7.

Em várias semanas de julho deste ano, auge da impopularidade de Trump em meio aos protestos antirracistas nos EUA e o impacto do coronavírus, a vantagem de Biden chegou a passar de oito ou mesmo nove pontos. Foi uma margem de vitória à qual a própria Clinton nunca chegou em 2016 em nenhum momento de sua campanha.

Os números são das médias das pesquisas nacionais, segundo levantamento do histórico do site FiveThirtyEight, referência em estatísticas nos EUA.

Em visita ao Brasil no ano passado, o estatístico Nate Silver, fundador do FiveThirtyEight e que ficou conhecido em 2012 ao acertar o candidato vitorioso em 49 dos 50 estados americanos, disse que as eleições americanas estavam se tornando mais previsíveis nesta corrida eleitoral.

O motivo era o alto nível de partidarismo, com menos pessoas inclinadas a mudar de opinião. No geral, Silver aponta que elites, pessoas com maior escolaridade e grandes metrópoles seguem votando nos democratas, e grande parte da classe trabalhadora e menos escolarizada está votando nos republicanos.

Mas a pandemia fez a campanha eleitoral deste ano ter uma reviravolta. Em março, Biden estava somente quatro pontos à frente. Agora, entre protestos, desemprego, recessão causada pelo coronavírus e as próprias críticas a Trump pela gestão da pandemia, novas surpresas podem continuar surgindo no processo eleitoral americano até novembro.

Estados decisivos

Embora a vantagem de Clinton tenha diminuído nos meses seguintes a agosto naquele 2016, a ex-secretária de Estado continuou à frente de Trump nas sondagens nacionais até o dia da eleição. Ela também vencia Trump nos principais estados, o que lhe garantia vitória no colégio eleitoral -- pelo sistema eleitoral dos EUA, vale mais a vitória em cada estado do que o número absoluto de votos (leia mais sobre o modelo eleitoral americano abaixo).

No pleito deste ano, Biden também vem mostrando vantagem nos principais estados americanos. O democrata, que foi vice do ex-presidente Barack Obama em seus mandatos entre 2009 e 2016, ganha de Trump em vários dos "estados-pêndulo". Esses estados (pela contagem do FiveThirtyEight, são 12 atualmente) não são fiéis nem a republicanos nem a democratas, o que os tornam alvos das campanhas e essenciais para o candidato vitorioso.

Pelas pesquisas, Biden pode vencer justamente em estados-pêndulo onde Clinton perdeu em 2016. Um dos principais é a Flórida, onde Biden tem sete pontos de vantagem. Outro é a Carolina do Norte, onde lidera de forma mais apertada, por dois pontos. 

Nos estados-pêndulo do chamado “Cinturão da Ferrugem”, cuja economia é altamente dependente da indústria pesada, em declínio na economia americana, Biden também vence na maioria. Essa região vem se mostrando decisiva nos últimos pleitos: na década passada, foi uma das responsáveis pelas vitórias do ex-presidente democrata Barack Obama. Mas, em 2016, deu vitória a Trump, com a promessa do republicano de trazer mais empregos da indústria para os EUA.

Cinco estados-pêndulo do Cinturão da Ferrugem, em especial, mudaram o voto de Obama para Trump em 2016, sendo considerados decisivos na eleição do republicano. Dessa vez, eles parecem estar inclinados a Biden, que vence em Michigan (cerca de oito pontos), Pensilvânia (seis pontos) e Wisconsin (sete pontos).

Em Ohio, outro estado que mudou de Obama para Trump em 2016, a vantagem de Biden já foi de 2 pontos, mas hoje as intenções de voto estão empatadas. Em Iowa, Trump vence por 1.4 ponto nas pesquisas de 7 de agosto. Sua vantagem já foi maior, de até 5 pontos em abril e março.

Por fim, Biden ainda vence nos estados-pêndulo em que Clinton já venceu em 2016, como Colorado (quase 13 pontos à frente de Trump), Nevada (seis pontos) e New Hampshire (nove pontos).

Por fim, o Texas, um dos estados que não é considerado pêndulo mas têm grande número de votos no colégio eleitoral pode ser outro decisivo nesta eleição. A partir da década de 1980, todos os candidatos republicanos ganharam no Texas, incluindo Trump. Mas, neste ano, a briga está mais apertada do que de costume, com só um ponto de diferença entre os candidatos. A explica de analistas políticos é que o Texas vem recebendo um grande fluxo de imigrantes e a adição de jovens do estado que atingem idade para votar, ambos inclinados aos democratas nos últimos anos em todo o país.

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Votos absolutos vs. colégio eleitoral

Clinton terminou sendo uma das raras candidatas a ganhar em votos absolutos, mas a perder no colégio eleitoral, o que lhe custou a eleição.

A democrata teve quase 2,9 milhões de votos a mais do que Trump nacionalmente, com 48,2% dos votos, ante 46,1% de Trump (o restante ficou com candidatos que não são dos dois partidos principais). Ainda assim, devido à distribuição dos estados em que cada um venceu, Trump ficou com 304 votos no colégio eleitoral, ante 227 de Clinton.

Pelo modelo americano, há ao todo 538 votos no colégio eleitoral, e um candidato precisa de ao menos 270 votos para chegar à presidência. Cada estado tem um número de votos a depender de sua população -- o número mínimo são três votos, e a maioria dos estados têm menos de dez votos.

Na maioria dos estados, todos os votos do colégio eleitoral ficam para o candidato que tiver a maioria dos votos. Na Califórnia, que tem 55 votos no colégio eleitoral (o maior número do país) e que historicamente vota nos democratas, a minoria que vota nos republicanos termina por não influenciar a eleição nacionalmente.

Mais de 4 milhões de eleitores votaram em Trump na Califórnia (cerca de um terço do total), mas Clinton ainda assim ficou com os 55 votos do colégio eleitoral. No Texas, por sua vez, Clinton também teve cerca de 4 milhões de votos (43% do total), mas 36 dos 38 delegados ficaram com Trump.

Seja como for, a vitória surpreendente de Trump em 2016 deixou os americanos com uma desconfiança nas pesquisas que será difícil de superar por ora. Afinal, a maior parte das pesquisas dava probabilidade de vitória para Clinton acima de 70%, mas as urnas mostraram o contrário. Para os democratas, o objetivo é que o mesmo não se repita em 2020.

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