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Biden anuncia plano de infraestrutura e aumento de impostos para empresas

O presidente americano, Joe Biden, detalhou investimentos em infraestrutura e defendeu aumento de impostos para bancar o plano. "Wall Street não construiu esse país", disse

Biden: aceno a sindicatos, indústria e setor de energia limpa em discurso na Pensilvânia (Tom Brenner/Reuters)

Biden: aceno a sindicatos, indústria e setor de energia limpa em discurso na Pensilvânia (Tom Brenner/Reuters)

CR

Carolina Riveira

Publicado em 31 de março de 2021 às 18h12.

Última atualização em 31 de março de 2021 às 19h00.

Como previsto, o governo Joe Biden está abrindo a carteira nos Estados Unidos. O presidente americano anunciou nesta quarta-feira, 31, um pacote de investimento em infraestrutura ao custo de 2,25 trilhões de dólares.

O investimento já havia sido antecipado nos últimos dias pela imprensa americana e era uma das promessas de campanha de Biden.

O objetivo é criar milhões de empregos no curto prazo e incentivar a recuperação da economia americana, que recuou 3,5% no ano passado.

No discurso desta quarta-feira, Biden reforçou a frente industrial e de energia limpa do novo pacote e o potencial de geração de empregos. O governo tem chamado o plano de American Jobs Plan (plano de empregos americano, ou AJP), afirmando que este é "o maior investimento em empregos americanos desde a Segunda Guerra Mundial".

Biden disse também que o investimento tornará a economia mais forte no longo prazo e "em posição para ganhar a competição global com a China nos próximos anos". "Em 50 anos, as pessoas olharão para trás e dirão que este é o momento em que a América venceu", disse.

O novo plano vem semanas após Biden já ter conseguido passar no Congresso um pacote de estímulo econômico de 1,9 trilhão de dólares. Parte do recurso já vem sendo usada para o "auxílio emergencial" americano, parcela única de 1.400 dólares enviada a famílias de renda média e baixa.

Se aprovado no Congresso, o novo plano de infraestrutura incluirá obras em todo o país, como reformas em mais de 32.000 quilômetros de estradas, reparos nas dez principais pontes, reforma em aeroportos, melhoria da estrutura de internet, entre outros.

Para pagar os custos, o governo propõe também aumentar de 21% para 28% a carga tributária das empresas nos Estados Unidos.

Biden criticou o corte de impostos feito no governo Donald Trump, por boa parte do subsídio ter ido para grandes empresas. "Esse não é nosso alvo", disse.

A carga tributária corporativa havia sido cortada de 38% para os atuais 21% por Trump, uma das primeiras medidas do mandato do ex-presidente, ainda em 2017. Já era esperado que Biden fizesse algum tipo de mudança na reforma da era Trump, que foi criticada por democratas na ocasião.

"É hora de construir nossa economia de baixo para cima, do meio para cima", disse. "Wall Street não construiu esse país."

Biden defendeu a proposta de aumentar impostos para bancar o investimento em infraestrutura, dizendo que nenhum americano ganhando menos de 400.000 dólares por ano terá aumento de impostos federais. "Isso não tem nada a ver com penalizar milionários. Eu não tenho nada contra bilionários e milionários", disse.

Made in America

No discurso desta quarta-feira, feito em Pittsburgh, na Pensilvânia (estado que confirmou a vitória democrata no ano passado), Biden também acenou ao passado industrial do estado. A fala teve muitos pontos parecidos aos que costumavam ser mencionados por Trump, como incentivo a produtos feitos internamente nos Estados Unidos.

Biden disse que os EUA são referência na fabricação de veículos, mas que as fábricas farão a transição para carros elétricos e de hidrogênio. "Feitos bem aqui, nos Estados Unidos da América, por trabalhadores americanos, com produtos americanos", disse.

A abertura do evento teve discurso de um trabalhador da cidade, frisando que Biden "apoia os sindicatos", um "salário digno" e "negociação coletiva" com as empresas. "Eu sou um cara dos sindicatos. Os sindicatos construíram a classe média", disse Biden.

O pacote de infraestrutura faz parte do plano Build Back Better ("construir de volta e melhor", numa tradução livre), que Biden anunciou ainda durante a campanha.

No papel, soa como uma espécie de New Deal renovado, o plano econômico do ex-presidente democrata Franklin Delano Roosevelt a partir de 1933. Naquela época, o objetivo era auxiliar na retomada após a crise de 1929.

Além dos hoje comuns investimentos em obras para gerar empregos rápidos, dentre os pontos do New Deal de Roosevelt estiveram medidas como fixação de um salário-mínimo, seguro-desemprego e redução da jornada de trabalho. O mundo vivia outra fase, mas a política econômica foi vista como um sucesso e é relembrada desde então.

Em todos os cantos do mundo — incluindo na rival China —, governos têm se apoiado em planos de infraestrutura para gerar empregos e investir no país, embora não sem críticas de economistas ao modelo.

Biden, no entanto, promete que seu "novo New Deal" será também verde, e frisou repetidas vezes os investimentos que pretende fazer em carros elétricos e energia limpa.

A iniciativa pretende oferecer, por exemplo, uma extensão de dez anos para créditos tributários que beneficiem projetos de energia eólica, solar e outras fontes renováveis. Biden também pede ao Congresso que destine recursos para oferecer descontos em veículos elétricos e pontos der recarga.

Biden prometeu que o novo plano de investimentos não aumentará significativamente o déficit americano. No entanto, o desafio será grande. A estimativa é que seria necessário que o aumento de impostos durasse por 15 anos para pagar oito anos do investimento prometido, segundo o jornal The New York Times. 

Passar a nova proposta no Congresso americano também será difícil. O pacote de estímulo anterior foi aprovado por maioria simples e com a maioria dos republicanos votando contra o texto.

No discurso de hoje, Biden acenou à oposição e disse esperar que os republicanos apoiem as medidas. Congressistas republicanos já se manifestaram nesta quarta-feira contra o aumento de impostos a empresas.

 

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