Bento XVI fará no Líbano uma viagem delicada
Aos 85 anos, o papa decidiu fazer esta viagem, talvez a mais difícil de seu pontificado, por causa da situação de muitos cristãos no Oriente Médio
Da Redação
Publicado em 13 de setembro de 2012 às 17h19.
Vaticano - Bento XVI viajará ao Líbano de sexta-feira a domingo, em meio a violentas manifestações em todo o mundo árabe provocadas por um filme ofensivo ao Islã, além do fato de visitar um país envolvido na crise síria, onde suas palavras serão acompanhadas com atenção.
Aos 85 anos, o papa decidiu fazer esta viagem, talvez a mais difícil de seu pontificado, por causa da situação de muitos cristãos no Oriente Médio, berço do cristianismo, em particular devido à ascensão do islamismo radical.
"Minha viagem apostólica ao Líbano e, por extensão, a todo o Oriente Médio está sob o signo da paz", assegurou o papa, pedindo que a "comunidade internacional" apoie ainda mais a "reconciliação".
A viagem coincide com a tensão dos últimos dias na região provocada por um filme ofensivo ao Islã. Manifestações, por vezes violentas, foram realizadas diante das missões diplomáticas americanas em vários países. Na Líbia, a violência causou a morte do embaixador americano e de outros três funcionários.
Bento XVI fará nada menos que sete discursos durante esta primeira visita ao Líbano, onde os cristãos representam 34,9% e os muçulmanos, 64,6% de uma população total de 4,6 milhões.
Os muçulmanos do Líbano devem acolher calorosamente o Papa, mesmo que alguns imãs radicais no mundo árabe tenham afirmado que ele não é bem-vindo.
Ele se reunirá no sábado no palácio presidencial de Baabda com líderes políticos e religiosos, incluindo líderes das comunidades muçulmanas (sunitas, xiitas, alauitas e drusos), e participará de uma missa solene no Waterfront City Center, em Beirute, no domingo.
Os atentados são cada vez mais comuns contra comunidades cristãs, profundamente inseguras devido ao conflito sírio.
Elas esperam que suas palavras acalmem e não dificultem ainda mais a situação tensa vivida por entre 13 e 15 milhões de cristãos do Oriente Médio.
Bento XVI pode, no entanto, decepcionar os libaneses que esperam respostas políticas.
Ao chegar ao Líbano, o Papa dará "um sinal de participação e incentivo" aos moradores de uma região problemática "sem se deixar levar pelas circunstâncias", declarou seu porta-voz, o padre Federico Lombardi.
"O Papa não se apresenta como um poderoso líder político" e não devem esperar "grandes discursos políticos" sobre a Síria ou outras questões, acrescentou Lombardi.
O patriarca Gregório III Laham chegou a pedir que ele reconheça o Estado palestino, afirmando que este assunto fundamental tem uma "grande influência" sobre os cristãos da região. Implicitamente, isso significa que tal reconhecimento, vai melhorar a percepção dos cristãos e ajudar a estabilizar a sua presença.
Bento XVI deve pedir que os cristãos trabalhem pela paz e pela democracia em harmonia com o Islã. Ele deve exaltar um modelo de secularismo que garanta a diversidade religiosa, e pode adotar um tom mais firme para pedir que os muçulmanos respeitem a identidade cristã.
Esta mensagem deve ser combinada com um apelo para que os cristãos superem suas muitas divisões.
Ele deve levar a mensagem de seu popular antecessor, João Paulo II, afirmando que o Líbano multirreligioso, com 34% de cristãos, é uma "mensagem" para toda a região.
Bento XVI deve ainda fazer um forte apelo aos cristãos para que resistam à tentação de exílio. Este exílio tem aumentado desde o início em 2011, com a "Primavera Árabe".
O Papa deve defender os refugiados no Líbano, em sua maioria palestinos, iraquianos, e agora sírios (55.000 registrados, mas um número que pode chegar a 150.000, de acordo com a Caritas), mas também deve se pronunciar contra as situações de escravidão moderna que atingem os imigrantes.
Sobre a Síria, Bento XVI já lançou apelos urgentes por uma solução política e pelo fim dos massacres.
O padre Miguel Angel Ayuso Guixot, secretário do Conselho Pontifício para o Diálogo Inter-religioso, apresentou na semana passada, em uma reunião em Istambul, alguns elementos da posição da Santa Sé. Segundo ele, as aspirações do povo sírio são "legítimas" e não podem ser consideradas apenas o resultado de influências externas.