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Batalha por Kobane é estratégica para curdos e jihadistas

A batalha pela cidade perdida no mapa entre Síria e Turquia é crucial tanto para o Estado Islâmico quando para os curdos


	Fumaça é vista após ataque aéreo nos arredores da cidade síria de Kobane
 (Aris Messinis/AFP)

Fumaça é vista após ataque aéreo nos arredores da cidade síria de Kobane (Aris Messinis/AFP)

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Da Redação

Publicado em 14 de outubro de 2014 às 13h47.

Beirute - A batalha por Kobane, cidade perdida no mapa entre Síria e Turquia, é crucial para o grupo Estado Islâmico (EI), que deseja estender seu califado, e para os curdos, que não podem abrir mão dela para a sua sonhada autonomia.

Se os combates são tão intensos há semanas é porque nenhuma das duas partes pode se permitir fracassar.

Para os curdos sua perda seria uma tragédia para "o projeto ideal de um Curdistão autônomo na Síria", afirma Cyril Roussel, pesquisador do Instituto Francês de Oriente Médio (IFPO) em Amã.

Um fracasso impossibilitaria a criação de "um Rojava unido", o Curdistão sírio com o qual a maioria dos três milhões de curdos da Síria sonham, acrescenta um geógrafo especialista no país, Fabrice Balanche.

Kobane é a capital de um dos três cantões de uma região autônoma, junto com o de Afrine, a oeste, e Jaziré, a nordeste, cujas principais cidades são Qamichli e Hasaka.

A perda de Kobane, situada no centro, significaria a impossibilidade de unir as outras duas, afirma Balanche.

"Afrine se converteria no próximo alvo" dos jihadistas, e os curdos "ficariam então confinados em Hasaka, onde poderiam ser atacados", disse.

A queda da cidade seria um duro golpe para a legitimidade das Unidades de Proteção do Povo (YPG), a milícia curda que a defende há quase um mês.

"O grupo está sob pressão. Deve demonstrar que não abandona os curdos, que está disposto a travar uma batalha até o último homem e até a última mulher", explica Aron Lund, especialista da Síria no Centro Carnegie.

Grande alcance simbólico

Para Cyril Roussel, o projeto "ideológico-político-territorial" de Rojava tropeça frontalmente com o dos jihadistas. "É uma pedra no sapato" do EI, "que quer estender seu território para criar um grande califado".

A tomada de Kobane permitiria a este grupo radical sunita "se mover livremente de oeste a leste", explica Aron Lund. O EI já controla um terço da fronteira norte com a Turquia.

Mas, acima de tudo, uma vitória nesta cidade teria um caráter simbólico.

"Seria uma vitória contra os curdos, que sempre os derrotaram" em outros lugares, afirma Rusel.

Também daria publicidade, ao se tratar de um êxito diante da coalizão internacional que bombardeia as posições do grupo desde 23 de setembro. Poderá afirmar que nem mesmo a coalizão pode acabar com o grupo, porque, segundo eles, "é a vontade de Alá", afirma Balanche.

No Twitter, os jihadistas batizaram a localidade de"Ain al-Islã" (A fonte do Islã), em vez do nome árabe Ain al-Arab.

Desde o início da guerra na Síria, os curdos criaram uma autonomia mediante comitês locais que consideram uma experiência democrática em um país dirigido por uma autocracia há quase meio século.

Principal partido curdo da Síria, o PYD (Partido da União Democrática) é um grupo laico, de tendência socialista que concede um lugar de destaque à mulher, inclusive no braço armado, as YPG. De fato, um dos comandantes em Kobane é uma mulher.

O projeto curdo é o oposto do apresentado pelo EI, que defende uma versão extremista do Islã e a ressurreição do califado, desaparecido há um século. Por isso não hesita em decapitar, apedrejar e inclusive crucificar os que considera seus inimigos.

Os analistas também concordam que o enfraquecimento do projeto curdo beneficiaria a vizinha Turquia, onde o conflito curdo deixou 40.000 mortos desde 1984 e que é acusada de ter fechado os olhos diante da entrada dos jihadistas na Síria a partir de sua fronteira.

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