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Bancos viram armas de policiais na luta contra pedófilos

Vários pedófilos foram presos como resultado da união entre bancos e policiais para seguir rastro de dinheiro


	Computador usado em operação policial contra a pedofilia na internet
 (Thomas Coex/AFP)

Computador usado em operação policial contra a pedofilia na internet (Thomas Coex/AFP)

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Da Redação

Publicado em 29 de julho de 2014 às 18h48.

Londres - Depois que a polícia prendeu Timothy Ford, um agressor sexual que já tinha sido condenado duas vezes, foram encontradas inúmeras fotos de meninos nus no computador dele.

Mas, ao ampliar a investigação, os policiais não se concentraram apenas nas imagens.

Eles também seguiram o rastro de dinheiro que Ford deixou ao pagar pelo material, que acabou por fechar um círculo que incluía dezenas de pessoas em quatro continentes.

Ao seguir uma pista em que Ford, 53, se comunicava com outros pedófilos, os policiais invadiram seu bangalô em Northamptonshire, a 113 quilômetros ao norte de Londres.

Enquanto avançavam entre roupas sujas e lixo acumulado até a altura da cama, eles desenterraram um laptop com centenas de fotos e vídeos que Ford dirigia desde seu teclado, digitando as instruções – “Brinquem uns com os outros” ou “Mais perto, por favor” – para meninos de apenas seis anos, de acordo com os documentos da polícia.

Igualmente importante para os investigadores foram os detalhes das transferências de dinheiro pela Western Union aos adultos que abusavam das crianças ao vivo e transmitiam as imagens por streaming nas Filipinas.

“A dificuldade é que vemos apenas os valores das transações” sem saber o que foi comprado, disse Peter Barnes, principal investigador da Western Union no norte da Europa.

“Por isso é tão importante compartilhar informações com a polícia”.

Depois que a Western Union analisou os dados de pagamento encontrados no computador de Ford, a investigação se expandiu em 2012 e finalmente conduziu à prisão de 29 pessoas em todo o mundo envolvidas no círculo de pornografia infantil, e 15 vítimas foram resgatadas.

Os conspiradores que cometeram o abuso nas Filipinas, entre eles parentes das crianças, lucraram 37.500 libras (US$ 64.000) em um país onde uma família média ganhou cerca de US$ 5.400 em 2012.

Parceria crescente

Quando a polícia ativou a cooperação com companhias financeiras como Western Union, PayPal, Visa e MasterCard para bloquear o dinheiro que alimenta o comércio on-line de pornografia infantil, obteve-se muito sucesso.

A Coalizão Financeira contra a Pornografia Infantil, que reúne policiais e empresas, disse que desde 2006 a receita da venda comercial de pornografia infantil na internet pública caiu de vários bilhões de dólares por ano para “quase zero”.

No entanto, o sucesso é ilusório. Embora os pagamentos por pornografia infantil com cartões de crédito na internet pública tenham diminuído, grandes quantidades de material passaram para o mercado negro e ele geralmente é adquirido usando transferências eletrônicas anônimas ou a moeda virtual bitcoin.

Passagem para o mercado negro

Uma preocupação especial é o canto escuro da internet chamado The Onion Router, ou Tor.

O serviço, fundado pelo Laboratório de Pesquisa Naval dos EUA para ajudar pessoas em países com governos autoritários a permanecerem no anonimato, mascara identidades on-line fazendo com que o sinal rebote em até 5.000 pontos de transmissão.

O problema é que ele tem sido utilizado por predadores sexuais, pessoas que fazem lavagem de dinheiro e traficantes de drogas.

“Depois que desativamos os sites, eles aparecem on-line novamente em outro lugar”, disse Sarah Smith, pesquisadora técnica na Internet Watch Foundation no Reino Unido, que segue pistas recebidas e trabalha com provedores de serviços web e empresas como Google e Microsoft para eliminar a pornografia infantil na internet.

À medida que mais materiais passam para zonas ocultas da internet fica mais difícil rastrear os pagamentos.

Na maioria dos países, a regulação protege a identidade das pessoas que realizam transações com cartões de crédito, a menos que a polícia tenha um motivo razoável para suspeitar de que se trate de uma atividade ilegal.

“O sigilo bancário e a privacidade costumam ser as preocupações que escutamos de um grande número de empresas de pagamento financeiro quando as abordamos”, disse Bindu Sharma, diretor da Coalizão Financeira da Ásia e do Pacífico contra a Pornografia Infantil em Cingapura.

Corredores de alto risco

As preocupações com as leis de sigilo levaram as companhias financeiras a buscar modos criativos de combater o problema.

A Western Union, que registra 29 transações por segundo, desenvolveu programas de computador que sinalizam atividades potencialmente ilícitas ao redor de transações repetidas em pequenas quantias provenientes dos “corredores de alto risco”, como do Reino Unido às Filipinas.

Barnes, um veterano que trabalha há 18 anos na Polícia Metropolitana de Londres, se uniu há dois anos à iniciativa da Western Union, com sede em Englewood, Colorado, para combater as transferências de dinheiro que financiam atividades criminosas.

No ano passado, ele obteve provas em pelo menos uma dezena de casos relacionados ao pagamento por pornografia infantil.

Trabalhar com a polícia “é essencial”, disse Barnes, 43, integrante da equipe com 25 investigadores na Rússia, na Austrália, em Dubai e nas Filipinas. “Tentamos aprender a metodologia com os casos e ensinar os nossos computadores a identificá-la”.

A Western Union disse que está planejando trabalhar com a Internet Watch Foundation para que seu logotipo seja retirado dos sites que recomendam seu serviço para efetuar o pagamento por pornografia infantil.

A fundação notificaria a empresa quando o serviço fosse usado para tais pagamentos. Se o site também contiver um link para o site da Western Union, a empresa trabalhará para identificar quem solicitou a transação.

Grande parte do progresso na utilização de ferramentas financeiras para combater a pornografia infantil on-line deve-se a Ernie Allen.

Como diretor do Centro Nacional para Crianças Desaparecidas e Exploradas, um grupo sem fins lucrativos que atua como uma central nos EUA para imagens e vídeos de abuso sexual, Allen reuniu há oito anos a polícia e a comunidade financeira.

Ele foi motivado por um caso ocorrido no Texas, em que um casal dirigia um site com categorias como “Estupro infantil” e “Crianças forçadas a fazer pornô”, que contava com 250.000 membros, cada um deles pagando US$ 29,95 por mês.

Clientes secretos

O caso inspirou Allen a fundar, em 2007, a Coalizão Financeira contra a Pornografia Infantil. Allen convenceu os bancos a dispor funcionários, munidos de cartões de crédito, a se passarem por assinantes em sites de pornografia infantil.

À medida que as transações eram processadas, revelava-se a identidade dos comerciantes e a polícia podia fechar os sites e prender as pessoas responsáveis por eles. Centenas de sites foram retirados do ar nos anos seguintes.

Allen reconhece que “não acabou com o problema, só o deslocamos”.

Allen também é um dos presidentes do conselho da Digital Economy Task Force, uma força-tarefa que inclui membros do governo e do setor que se concentra na atividade ilegal, particularmente na exploração infantil em redes anônimas.

Em maio, ele reuniu em Londres representantes da Visa, da Internet Watch Foundation no Reino Unido, das operadoras de telefonia celular e de outras empresas.

Os funcionários discutiram o crescente comércio em sites com títulos como PedoEmpire, Lolita City, Jail Bait and The Love Zone.

Juntos, esses sites têm centenas de milhares de usuários, que pagam pelo acesso com bitcoins, cartões pré-pagos e serviços anônimos de transferência eletrônica.

Moedas virtuais

A força-tarefa recomendou que os governos regulassem as moedas virtuais e aplicassem regras contra a lavagem de dinheiro para as transações que fossem realizadas com elas. O grupo pediu restrições da privacidade e do anonimato em serviços como o Tor.

Além disso, sugeriu que a polícia se empenhasse mais para aplicar as leis existentes sobre as transferências de dinheiro para investigar suspeitas de abuso sexual de crianças.

Em abril, a Grã-Bretanha tomou medidas para aderir a algumas dessas diretrizes.

O Crown Prosecution Service permitiu que a Internet Watch Foundation busque e pesquise ativamente para encontrar pornografia on-line, ao invés de limitar-se a seguir as pistas recebidas, como fazia antes.

O grupo é a única organização não policial em todo o mundo dotada de tais poderes, de acordo com a InHope, uma rede com 51 linhas de denúncia de abuso infantil em 45 países.

Ford, o agressor sexual de Northamptonshire, se declarou culpado em março de 2013, foi sentenciado a 8 anos e meio de prisão e receberá visitas da polícia durante o resto de sua vida.

“Pagar por algo faz a pessoa se sentir um membro legítimo da sociedade”, disse Gan Thayanithy, sargento da polícia de Northamptonshire.

"Se ficar mais difícil obter essa gratificação e se os dados de uma transação bancária comprovarem a culpa, os agressores de menor nível acabariam".

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