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Ban diz nunca mais a ruandeses em cerimônia do genocídio

Secretário-Geral da ONU disse que o mundo "nunca mais" vai deixar o genocídio destruir sua nação

Presidente do Quênia, Uhuru Kenyatta, e o secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, durante a cerimônia que marcou os 20 anos desde que 800.000 pessoas foram massacradas em Ruanda (Noor Khamis/Reuters)
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Da Redação

Publicado em 7 de abril de 2014 às 20h46.

Kigali - O secretário-geral da Organização das Nações Unidas , Ban Ki-moon, disse nesta segunda-feira a um estádio lotado de ruandeses chorando e com aparência sombria que o mundo "nunca mais" vai deixar o genocídio destruir sua nação, em uma cerimônia que marcou os 20 anos desde que 800.000 pessoas foram massacradas em Ruanda.

Vários líderes e doadores de ajuda participaram da comemoração, mas a França -- um aliado do governo de Ruanda antes do genocídio -- não participou porque o presidente ruandês, Paul Kagame, ex-líder rebelde, voltou a acusar o governo francês de ter tido "um papel direto" nos assassinatos.

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A França reconheceu erros em suas relações com Ruanda, mas rejeitou repetidamente as acusações de que treinou as milícias que participaram dos massacres. Os comentários de Kagame provocaram indignação em Paris nesta segunda-feira.

Algumas pessoas na multidão em Kigali foram tomadas pela emoção ao ouvir o relato de um sobrevivente e tiveram de ser levadas para fora do estádio. Muitos ruandeses perderam toda a família nos ataques das milícias armadas com pistolas, granadas, machados e coquetéis molotov.

O minuto de silêncio foi pontuado por gritos de dezenas de sobreviventes.

"Nós não devemos deixar de pronunciar as palavras ‘nunca mais', de novo e de novo", disse o secretário-geral da ONU à multidão.

"Muitas pessoas das Nações Unidas e outros mostraram notável bravura. Mas poderíamos ter feito muito mais. Devíamos ter feito muito mais", disse Ban, acrescentando que agora há novos desafios na região.

Conflitos se espalham pelo Sudão do Sul e a República Centro-Africana, enquanto o leste da República Democrática do Congo, país vizinho, permanece mergulhado na turbulência.


Ruanda se queixa há tempos de que as nações ficaram estáticas quando os massacres eclodiram em abril de 1994, tendo como alvo a minoria tutsi e também os moderados entre os hutus, grupo majoritário no país.

"Por trás das palavras ‘nunca mais' existe uma história cuja verdade deve ser dita plenamente", afirmou o presidente aos participantes, que assistiram a performances de pessoas vestidas de cinza, simbolicamente reencenando alguns dos horrores.

Os ruandeses cometeram o genocídio, disse ele, "mas a história e as raízes vão além deste belo país".

"Nenhum país é poderoso o bastante, mesmo quando eles pensam que são, para mudar os fatos", afirmou, em uma aparente referência à França. Ele pronunciou o discurso em inglês e no idioma kinyarwanda, mas acrescentou, em francês: "Os fatos são teimosos", atraindo aplausos.

Kagame, um tutsi que liderou um grupo armado até Kigali em 1994, pondo fim ao genocídio, no passado já havia acusado a França de ter treinado e armado extremistas hutus. Recentemente ele parecia ter deixado a questão de lado e as relações com a França estavam melhorando lentamente.

Mas em uma entrevista a um jornal semanal publicada neste mês, ele disse que a França e a antiga potência colonial em Ruanda, a Bélgica, tiveram um "papel direto" no genocídio. Em resposta, a França anunciou que não iria enviar uma delegação ministerial para a cerimônia.

Nesta segunda-feira, o ministro das Relações Exteriores da França em 1994, Alain Juppé, exigiu que o presidente François Hollande defenda a honra do país contra as acusações. "O regime de Ruanda tem o hábito de falsificar repetidamente a história", declarou Juppé a jornalistas.

Hollande tem evitado fazer referência ao desentendimento, tendo dito apenas, num comunicado: "Neste dia de recordação, a França está ao lado de todos os ruandeses para honrar a memória de todas as vítimas do genocídio".

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