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Baixo nível de campanha é comparado ao pleito de 1989

Cientistas políticos consideraram campanha das eleições de 2010 como a mais fraca da redemocratização

Analistas lembram que, sempre que um candidato está em desvantagem, polêmicas surgem (AGÊNCIA BRASIL)

Analistas lembram que, sempre que um candidato está em desvantagem, polêmicas surgem (AGÊNCIA BRASIL)

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Da Redação

Publicado em 31 de outubro de 2010 às 21h21.

São Paulo - A falta de discussões programáticas e o baixo nível na campanha presidencial deste ano, recheada de muitas denúncias e envio de materiais apócrifos e pautada por temas como aborto, fará com que este pleito entre para a história como um dos mais fracos do período pós-redemocratização, comparável ao que elegeu Fernando Collor de Mello, em 1989. Essa é a avaliação de cientistas políticos ouvidos pela Agência Estado, que classificam o pleito disputado por Dilma Rousseff (PT) - eleita hoje a primeira mulher presidente do País - e José Serra (PSDB) como um dos que registraram o mais baixo nível.

"Seguramente (a disputa) foi feia. Não me lembro de ter visto nem um terço disso (campanha de baixo nível) antes", disse o cientista político Fábio Wanderley ao comentar a avaliação do teólogo Leonardo Boff, que classificou a campanha como a pior da história pela onda de difamação na internet e a troca de acusações entre os postulantes e seus correligionários. "Essa campanha está bem baixa, só perde para a de 1989", considerou o cientista político Humberto Dantas. A campanha presidencial de 1989, a primeira da redemocratização do País, teve como protagonistas o atual presidente Lula e o hoje senador por Alagoas Fernando Collor (filiado na época ao PRN e atualmente no PTB). Na época, Collor divulgou uma entrevista da ex-namorada de Lula, Mirian Cordeiro, acusando-o de propor o aborto de sua filha Lurian.

Os especialistas afirmam que toda vez que numa disputa há um candidato em desvantagem ou que as candidaturas se sentem ameaçadas uma pela outra, o nível das discussões tende a resvalar para assuntos polêmicos, muitas vezes fora do âmbito dos projetos para o País. "Para reverter uma situação precisa-se de algo de impacto", explicou o cientista político Rubens Figueiredo.

Oposição

Nesta eleição, a oposição - representada na campanha por José Serra (PSDB) - teve que procurar argumentos para tentar derrubar a ex-ministra Dilma Rousseff, ancorada por um presidente que é dono de mais de 80% de aprovação popular. Neste contexto, houve um acirramento do embate a partir da exploração de denúncias contra o governo, como a quebra do sigilo fiscal de pessoas ligadas ao PSDB, o escândalo do tráfico de influência patrocinado pela então ministra-chefe da Casa Civil Erenice Guerra e a questão da descriminalização do aborto sob o ponto de vista religioso. "Não foram temas postos pelo PSDB, mas o PSDB tentou explorar isso para reverter uma situação que não lhe é favorável", analisou Figueiredo. "É bom? Acho que não é, mas é perfeitamente compreensível", emendou. Este ano, os programas de governo ficaram em segundo plano e só a candidata do PV, a senadora Marina Silva, procurou apresentar à sociedade uma plataforma de projetos.


"O que está acontecendo no Brasil é previsível e lamentável", comentou o cientista político Roberto Romano, ao mencionar o episódio da agressão ao candidato José Serra na penúltima semana de campanha. O cientista político Fernando Abrucio avalia que jogo emocional das campanhas levou à radicalização das duas partes o que, em geral, não atrai quem está indeciso. "Eles (eleitores), no máximo, anulam o voto. Esse jogo de radicalização não agrada boa parte do eleitorado", disse. Por isso, Abrucio diz que não se surpreenderá se crescer a abstenção e o voto nulo. "Não me parece que os eleitores se convenceriam pelos argumentos atuais", concluiu.

"Terrorismo"

O fato de a internet ser um território livre e propício para discussões acaloradas aprofundaram o confronto entre petistas e tucanos, classificado por Humberto Dantas de"terrorismo apócrifo". "É problemático ficar dizendo coisas de baixo calão", exemplificou Dantas. "Na internet as coisas tendem a se acirrar, o nível tende a baixar", completou Wanderley.

Na lista dos temas explorados nesta campanha, a discussão religiosa em torno do aborto é considerada a mais exagerada pelos cientistas políticos. "Sem a menor dúvida foi a exploração religiosa do tema aborto. Nós tivemos uma aposta no fundamentalismo religioso que aparentemente funcionou", comentou Wanderley. Até o papa Bento XVI se pronunciou, na reta final da campanha brasileira, sobre o assunto, divulgando uma carta condenando o aborto e recomendando que os bispos brasileiros orientassem os fiéis neste sentido.

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