Baghdadi, o líder à frente do Estado Islâmico
O autoproclamado novo califa do mundo islâmico, Abu Bakr Al-Baghdadi, é um homem ambicioso e impiedoso que conseguiu estabelecer um Estado Islâmico
Da Redação
Publicado em 8 de julho de 2014 às 09h31.
Bagdá - O autoproclamado novo califa do mundo islâmico, Abu Bakr Al-Baghdadi, é um homem ambicioso e impiedoso que conseguiu o sonho do extremismo islamita, algo que nem sequer alcançou Bin Laden : estabelecer um Estado Islâmico, embora seja sobre o papel.
Baghdadi se transformou no pior pesadelo dos governos do Iraque e Síria , em cujo território criou seu califado graças ao avanço de um "Exército" com milhares ou dezenas de milhares de jihadistas procedentes de todas as partes do mundo.
Esse número é difícil de se estabelecer, da mesma forma que muitos dos detalhes da vida do novo califa, um personagem que utilizou com astúcia a "invisibilidade" para chegar desde o nada até o mais alto lugar do extremismo islâmico.
O "homem mais perigoso do mundo" ou o "novo Osama bin Laden", como foi batizado pela "Time" e "Le Monde", respectivamente, se chama na realidade Ibrahim Awad Ali al-Badri Al Samarrai.
O novo califa nasceu no seio de uma família religiosa de Samarra, no Iraque, em 1971 e estudou História Islâmica na Universidade de Bagdá, onde fez doutorado no final dos anos 90.
Esses são os únicos dados biográficos conhecidos de Baghdadi, cuja cabeça os EUA fixaram um preço de US$ 10 milhões em 2011, quando Washington confirmou sua liderança, conhecido como Abu Dua, à frente da Al Qaeda no Iraque, o grupo que, transformado anos mais tarde no Estado Islâmico do Iraque e do Levante (EIIL), está sacudindo os alicerces do Oriente Médio.
Em um documento intitulado "Esta é a promessa de Alá", o EIIL ou ÍSIS, como é conhecido por sua sigla em inglês, informou ontem que seus líderes "resolveram anunciar o estabelecimento do califado islâmico e a designação de um califa para todos os muçulmanos".
"É imperativo para todos os muçulmanos jurar lealdade ao califa Ibrahim e apoiá-lo", assinalou o EIIL, que eliminou "do Iraque e do Levante" de seu nome e agora só se chama "Estado Islâmico" (EI).
Para chegar ao califado, Baghdadi foi escalando posições como membro de um dos muitos grupos armados surgidos contra a ocupação dos EUA em 2003 até se transformar, em abril de 2010, no líder da Al Qaeda no Iraque, o terceiro após as mortes de Abu Musab al-Zarqawi, considerado seu mentor por alguns, e Abu Omar al-Baghdadi.
No trajeto passou quatro anos em Camp Bucca, a principal prisão dos EUA no Iraque quando foi detido, em 2006, e onde, segundo os especialistas, se envolveu mais profundamente com a luta da Al Qaeda.
Obsessivo por sua segurança, quase não circulam duas confusas fotografias "confirmadas" pelas autoridades de Bagdá e Washington do rosto de Baghdadi, um homem que, no entanto, conhecem bem seus "soldados".
Ao contrário de Bin Laden, um "xeque" longe da frente, o novo califa é um "combatente" que lutou junto a seus homens em alguns momentos do caminho rumo à tomada da segunda cidade do Iraque, Mossul, em 10 de junho, quando o mundo abriu os olhos sobre o EIIL.
Seus brutais métodos, como matar os inimigos capturados e divulgar na internet decapitações ou mutilações, não agradam a todos. Outros grupos armados atacaram o EIIL na Síria e alguns de seus aliados na ofensiva no Iraque começam a mostrar rejeição.
A Al Qaeda chegou a exigir, em vão, que se retirasse da Síria, mas, encorajado por seus sucessos nas batalhas, Baghdadi preferiu desafiar seus líderes, assegurando que ele é o verdadeiro herdeiro do legado de Bin Laden, um argumento que parece ter calado entre os membros europeus do EIIL.
Seu carisma para formar um grupo "transnacional" de jihadistas, que o seguem desde qualquer parte do mundo, e sua brutalidade parecem ser a causa de seu êxito, segundo os especialistas.
"Baghdadi se apresenta como o líder jihadista do século XXI e, com isso, como um concorrente e rival do (atual líder da Al Qaeda, Ayman Al) Zawahiri", segundo um especialista citado pela "Al Jazeera", enquanto o jornal britânico "The Guardian" assegura que "hoje os analistas estão surpreendidos que, após os sucessos do EIIL no Iraque, Baghdadi tenha ofuscado Al-Zawahiri na Al Qaeda".