Karman milita há anos pela liberdade de expressão e pelos direitos das mulheres (Mohammed Huwais/AFP)
Da Redação
Publicado em 7 de outubro de 2011 às 15h35.
Sana, Iemên - A iemenita Tawakkul Karman, primeira mulher árabe a ganhar o prêmio Nobel da Paz, é uma figura emblemática da mobilização opositora de seu país, uma das "revoluções" da primavera árabe.
Esta jornalista de 32 anos armou uma tenda de campanha na Praça da Mudança em Sana em março e vive ali desde então com seu marido, tentando assim sofrer menos pressões do regime do presidente Ali Abdullah Saleh, que havia enviado funcionários a sua casa para intimidá-la.
A Praça da Mudança, na qual milhares de jovens acampam, está protegida desde o mês de março por militares dissidentes.
Karman, que milita há anos pela liberdade de expressão e pelos direitos das mulheres, foi uma das principais líderes das manifestações estudantis que em janeiro iniciaram a revolta popular contra o regime.
Em um país no qual poucas mulheres ocupam lugares de protagonismo político, Karman convocou manifestações para expressar a solidariedade com a mobilização na Tunísia e no Egito e liderou protestos violentamente reprimidos pelo governo.
As manifestações se estenderam a outras cidades do país e partidos políticos, tribos e parte das forças armadas se somaram à mobilização.
Em janeiro, Karman havia sido detida por seu papel nas manifestações.
Mãe de três filhos, forma parte do Conselho da Shura (algo como o comitê central) do partido islamita de oposição Al Islah. Karman se opõe à corrente salafista dentro de seu partido.
Iniciou sua carreira jornalística usando um véu integral, como muitas outras mulheres iemenitas, mas posteriormente começou a cobrir apenas a cabeça com lenços coloridos.
Karman fundou em 2005 o movimento "Mulheres Jornalistas Sem Correntes".
Nasceu na localidade de Mejlaf, na província de Taez (sudeste de Sana). Graduada em Ciências Políticas na Universidade de Sana, Karman está se preparando para um mestrado.
Segundo pessoas próximas, seu pai sempre a considerou a única "rebelde" de seus muitos filhos. Após se opor à ação de sua filha no início da mobilização popular, o próprio pai acabou por unir-se a ela.
Tawakkul Karman declarou nesta sexta-feira à AFP que seu prêmio Nobel da Paz era "uma vitória para a revolução" iemenita.
"A atribuição deste prêmio é também um reconhecimento pela comunidade internacional de nossa revolução e de sua vitória inevitável", acrescentou.
Em declarações aos canais de televisão árabes Al Jazeera e Al Arabiya, Karman dedicou o prêmio aos militantes da "Primavera Árabe".
"Trata-se de uma honra para todos os árabes, muçulmanos e mulheres. Dedico este prêmio a todos os militantes da Primavera Árabe", disse.
"Estou muito feliz (...) não esperava receber este prêmio e nem sabia que minha candidatura havia sido apresentada", acrescentou.