O chanceler britânico, William Hague: "não posso detalhar as opções militares para o momento" (Robyn Beck/AFP)
Da Redação
Publicado em 26 de agosto de 2013 às 12h51.
Bruxelas - Forçados a reagir após um suposto uso de armas químicas na Síria, os países ocidentais podem decidir punir Damasco conduzindo uma breve operação de ataques cirúrgicos contra os interesses estratégicos, sem se envolverem em uma intervenção de longo prazo, consideram especialistas.
Em Washington, Londres ou Paris, as declarações dos últimos dias não deixam dúvidas: uma reação militar é agora considerada uma possibilidade.
"Nós tentamos os outros métodos, os métodos diplomáticos, e vamos continuar a tentá-los, mas eles fracassaram até agora (...) eu não posso detalhar as opções militares para o momento", declarou nesta segunda-feira William Hague, ministro das Relações Exteriores britânico.
Para Vivien Pertusot, diretor do Instituto de Relações Internacionais (IFRI), em Bruxelas, "a situação é simples: nenhum país ocidental quer intervir, mas o uso de armas químicas, se confirmado, irá forçá-los a reagir". Sob pena de "sugerir a Bashar al-Assad que ele pode continuar a usá-las".
Neste contexto, as capitais poderiam concordar com uma "operação limitada, cuja finalidade seria puramente punitiva, sem o objetivo de mudar o regime em Damasco, ou mudar o equilíbrio no terreno em favor das forças rebeldes", sugere Jonathan Paris, especialista do grupo de reflexão Atlantic Council.
"Lançar ataques direcionados com a ajuda de mísseis disparados a partir do mar contra depósitos de munições ou de infra-estruturas estratégicas sírias parece ser a única opção realista no momento", acredita Markus Kaim, do instituto alemão SWP. Tal operação pode ser muito curta, realizada em um ou dois dias.
"Seria mais lógico tomar medidas imediatas com uma coalizão limitada do que uma ação mais tardia, com uma coalizão ampla", explica Bruno Tertrais, da Fundação para a Pesquisa Estratégica em Paris.
Nesse caso, os Estados Unidos têm a sua disposição forças nesta região, incluindo navios de guerra armados com mísseis no Mediterrâneo.
"No momento, os únicos que se mobilizam publicamente e concretamente são os americanos", nota Vivien Pertusot. Mas eles poderiam ser assistidos pelos franceses, que "possuem meios disponíveis, tais como aviões Rafale, em suas bases de Abu Dhabi e Djibouti", e pelos britânicos, mesmo se o Parlamento der luz verde a qualquer intervenção.
Para os especialistas, é pouco provável que uma operação limitada envolva a Otan ou que seja conduzida em nome da União Europeia, devido à complexidade de obter rapidamente um consenso político entre os membros destas duas instituições. Alguns países europeus, como a Alemanha, têm tradicionalmente relutado em usar a força militar.
A operação poderia ser realizada por uns poucos países reunidos em uma "coalition of the willing" ("coalizão de voluntários"). Ela poderia incluir os Estados da região, como a Turquia, pronta a ignorar o Conselho de Segurança da ONU devido à oposição da Rússia e da China.
Neste caso, um precedente é frequentemente mencionado: os ataques aéreos do ocidente em 1999 contra as forças sérvias no Kosovo, apesar da ausência de um mandato da ONU, ao qual se opôs a Rússia. A secretária de Estado americano, Madeleine Albright, defendeu na ocasião o caráter "legítimo", se não "legal", da intervenção.
Se os ocidentais decidirem não lançar uma operação militar, eles poderiam simplesmente aumentar o seu apoio às forças rebeldes sírias, mas essa opção minimalista não enviaria uma forte mensagem a Bashar al-Assad, de acordo com especialistas.
A escola de uma outra opção -estabelecimento de uma zona de exclusão aérea ou de corredores humanitários, operações de destruição de estoques de armas químicas- é considerada pouco provável em razão da complexidade de sua implementação.
A reação ocidental "será decidida nos próximos dias", declarou nesta segunda-feira Laurent Fabius, chefe da diplomacia francesa.
Qualquer que seja a opção adotada, o regime sírio está pronto para "enfrentar qualquer cenário", advertiu um alto responsável dos serviços de segurança.