Ataque dos EUA puniria Assad, mas não definiria guerra
Eventual ataque dos EUA e aliados contra Síria provavelmente teria como objetivo dar uma lição ao presidente sírio e ao Irã sobre riscos de desafiar o Ocidente
Da Redação
Publicado em 27 de agosto de 2013 às 11h39.
Londres - Um eventual ataque dos EUA e aliados contra a Síria provavelmente teria como objetivo dar uma lição ao presidente sírio, Bashar al-Assad, e também ao Irã, sobre os riscos de desafiar o Ocidente, mas não bastaria para definir os rumos da guerra civil.
Autoridades dos EUA e da União Europeia dizem que um ataque curto e agressivo, possivelmente feito com mísseis de cruzeiro, seria a resposta preferida ao suposto ataque com armas químicas contra subúrbios rebeldes de Damasco, na semana passada, por ordem de Assad.
Se o ataque for adiante, o governo de Barack Obama terá de selecionar os alvos com extremo cuidado, pois seu objetivo será conter não só Assad como também o Irã, aliado da Síria envolvido em atritos com o Ocidente por causa do seu programa nuclear.
"O governo precisa decidir qual é seu objetivo: punição para mostrar que há um preço e para restabelecer uma dissuasão, ou mudar o equilíbrio de poder na Síria", disse Dennis Ross, que foi assessor graduado da Casa Branca para questões do Oriente Médio até o final de 2011. "Suspeito que irá inclinar-se para a primeira." Em 2011, bombardeios da Otan contribuíram para definir os destinos da guerra civil na Líbia, ao destruir as defesas antiaéreas do regime de Muammar Gaddafi e permitir que rebeldes tomassem o poder. Mas, no caso da Síria, é improvável que Obama opte por algo semelhante.
Autoridades dos EUA dizem que o Pentágono apresentou uma gama de planos possíveis à Casa Branca, e analistas acham que a margem de manobra é pequena.
"Acho que (o ataque) irá acontecer, mas será mínimo, suficiente apenas para mostrar ao mundo que fizemos alguma coisa", disse Hayat Alvi, conferencista de estudos do Oriente Médio no Colégio de Guerra Naval dos EUA. "O objetivo mais amplo é não deixar os EUA envolvidos demais, e especialmente não permitir nenhuma bota (soldado) no terreno." O secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, já disse que as Forças Armadas norte-americanas estão prontas para agirem imediatamente se receberem ordens de Obama.
Potências ocidentais avisaram a oposição síria para esperar um ataque contra as forças de Assad dentro de alguns dias, de acordo com fontes que participaram de uma reunião entre enviados dos EUA e seus aliados e a Coalizão Nacional Síria, em Istambul.
A oposição síria diz que centenas de pessoas morreram enquanto dormiam por causa de um ataque com gás realizado pelo governo contra subúrbios de Damasco dominados por rebeldes, na quarta-feira. Imagens das vítimas, inclusive crianças, rodaram o mundo na Internet, gerando indignação internacional.
Mas, mesmo antes desse fato, os EUA e seus aliados já estavam reforçando sua presença militar na região. A Síria atribuiu o ataque químico a rebeldes, mas EUA, Grã-Bretanha e França dizem haver pouquíssimas dúvidas de que a responsabilidade recai sobre as forças governamentais.
Algumas autoridades ocidentais temem que, sem uma reação imediata, Assad se sentirá livre para voltar a usar armas químicas impunemente.
Há um ano, Obama disse que o uso de armas químicas no conflito sírio seria um limite inaceitável para os EUA. Alguns temem que uma inação diante de um fato comprovado passe um sinal de que Obama também seria tolerante com relação a outros "limites intransponíveis" -- incluindo o programa nuclear iraniano, que o Ocidente diz estar associado ao desenvolvimento de armas, o que Teerã nega.
Além disso, a falta de uma ação agressiva contra o regime sírio poderá levar Israel a agir por contra própria, atacando instalações nucleares iranianas e causando ainda mais instabilidade na região.
Alvos delicados
A escolha dos alvos acarretaria riscos. O mais provável, dizem autoridades, seriam bombardeios a instalações de comando e controle de Assad, suas defesas aéreas e alguma parte do arsenal químico que, na avaliação dos especialistas, possa ser atacada sem o perigo de espalhar substâncias nocivas no ambiente.
Outra preocupação é não causar a morte de nenhum técnico militar da Rússia, país que é o principal aliado de Assad no cenário internacional. Tal incidente poderia inflamar as já frágeis relações do Ocidente com Moscou.
Fontes de defesa dizem que os comandantes dos EUA desejam contar com uma força esmagadora e com uma robusta coalizão regional para conter a eventual retaliação síria. O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, disse na terça-feira que o suposto ataque da quarta-feira foi "um crime contra a humanidade", que não pode ficar impune.
Autoridades ocidentais, incluindo algumas diretamente envolvidas nas decisões, dizem que as sofisticadas defesas antiaéreas da Síria e as preocupações com o risco de vítimas entre aviadores aliados faz com que os mísseis de cruzeiro sejam a opção mais provável.
Nesse cenário, navios e aviões dos EUA disparariam mísseis sem entrar no espaço aéreo sírio. Os EUA já anunciaram que elevaram para quatro o número de porta-aviões que estão no Mediterrâneo e são capazes de transportar mísseis de cruzeiro.
O mais poderoso navio dos EUA na região, o porta-aviões Harry S. Truman, deixou o Mediterrâneo em 18 de agosto, quando cruzou o canal de Suez para chegar ao mar Vermelho. Mas ele também pode estar em condições de atingir a Síria.
Fontes de defesa dizem que a Grã-Bretanha mantém há meses um submarino ofensivo no Mediterrâneo. Já a França acaba de reformar seu porta-aviões Charles de Gaulle, que em três dias teria condições de viajar de Toulon, seu porto atual, para o litoral da Síria.
Londres - Um eventual ataque dos EUA e aliados contra a Síria provavelmente teria como objetivo dar uma lição ao presidente sírio, Bashar al-Assad, e também ao Irã, sobre os riscos de desafiar o Ocidente, mas não bastaria para definir os rumos da guerra civil.
Autoridades dos EUA e da União Europeia dizem que um ataque curto e agressivo, possivelmente feito com mísseis de cruzeiro, seria a resposta preferida ao suposto ataque com armas químicas contra subúrbios rebeldes de Damasco, na semana passada, por ordem de Assad.
Se o ataque for adiante, o governo de Barack Obama terá de selecionar os alvos com extremo cuidado, pois seu objetivo será conter não só Assad como também o Irã, aliado da Síria envolvido em atritos com o Ocidente por causa do seu programa nuclear.
"O governo precisa decidir qual é seu objetivo: punição para mostrar que há um preço e para restabelecer uma dissuasão, ou mudar o equilíbrio de poder na Síria", disse Dennis Ross, que foi assessor graduado da Casa Branca para questões do Oriente Médio até o final de 2011. "Suspeito que irá inclinar-se para a primeira." Em 2011, bombardeios da Otan contribuíram para definir os destinos da guerra civil na Líbia, ao destruir as defesas antiaéreas do regime de Muammar Gaddafi e permitir que rebeldes tomassem o poder. Mas, no caso da Síria, é improvável que Obama opte por algo semelhante.
Autoridades dos EUA dizem que o Pentágono apresentou uma gama de planos possíveis à Casa Branca, e analistas acham que a margem de manobra é pequena.
"Acho que (o ataque) irá acontecer, mas será mínimo, suficiente apenas para mostrar ao mundo que fizemos alguma coisa", disse Hayat Alvi, conferencista de estudos do Oriente Médio no Colégio de Guerra Naval dos EUA. "O objetivo mais amplo é não deixar os EUA envolvidos demais, e especialmente não permitir nenhuma bota (soldado) no terreno." O secretário de Defesa dos EUA, Chuck Hagel, já disse que as Forças Armadas norte-americanas estão prontas para agirem imediatamente se receberem ordens de Obama.
Potências ocidentais avisaram a oposição síria para esperar um ataque contra as forças de Assad dentro de alguns dias, de acordo com fontes que participaram de uma reunião entre enviados dos EUA e seus aliados e a Coalizão Nacional Síria, em Istambul.
A oposição síria diz que centenas de pessoas morreram enquanto dormiam por causa de um ataque com gás realizado pelo governo contra subúrbios de Damasco dominados por rebeldes, na quarta-feira. Imagens das vítimas, inclusive crianças, rodaram o mundo na Internet, gerando indignação internacional.
Mas, mesmo antes desse fato, os EUA e seus aliados já estavam reforçando sua presença militar na região. A Síria atribuiu o ataque químico a rebeldes, mas EUA, Grã-Bretanha e França dizem haver pouquíssimas dúvidas de que a responsabilidade recai sobre as forças governamentais.
Algumas autoridades ocidentais temem que, sem uma reação imediata, Assad se sentirá livre para voltar a usar armas químicas impunemente.
Há um ano, Obama disse que o uso de armas químicas no conflito sírio seria um limite inaceitável para os EUA. Alguns temem que uma inação diante de um fato comprovado passe um sinal de que Obama também seria tolerante com relação a outros "limites intransponíveis" -- incluindo o programa nuclear iraniano, que o Ocidente diz estar associado ao desenvolvimento de armas, o que Teerã nega.
Além disso, a falta de uma ação agressiva contra o regime sírio poderá levar Israel a agir por contra própria, atacando instalações nucleares iranianas e causando ainda mais instabilidade na região.
Alvos delicados
A escolha dos alvos acarretaria riscos. O mais provável, dizem autoridades, seriam bombardeios a instalações de comando e controle de Assad, suas defesas aéreas e alguma parte do arsenal químico que, na avaliação dos especialistas, possa ser atacada sem o perigo de espalhar substâncias nocivas no ambiente.
Outra preocupação é não causar a morte de nenhum técnico militar da Rússia, país que é o principal aliado de Assad no cenário internacional. Tal incidente poderia inflamar as já frágeis relações do Ocidente com Moscou.
Fontes de defesa dizem que os comandantes dos EUA desejam contar com uma força esmagadora e com uma robusta coalizão regional para conter a eventual retaliação síria. O chanceler turco, Ahmet Davutoglu, disse na terça-feira que o suposto ataque da quarta-feira foi "um crime contra a humanidade", que não pode ficar impune.
Autoridades ocidentais, incluindo algumas diretamente envolvidas nas decisões, dizem que as sofisticadas defesas antiaéreas da Síria e as preocupações com o risco de vítimas entre aviadores aliados faz com que os mísseis de cruzeiro sejam a opção mais provável.
Nesse cenário, navios e aviões dos EUA disparariam mísseis sem entrar no espaço aéreo sírio. Os EUA já anunciaram que elevaram para quatro o número de porta-aviões que estão no Mediterrâneo e são capazes de transportar mísseis de cruzeiro.
O mais poderoso navio dos EUA na região, o porta-aviões Harry S. Truman, deixou o Mediterrâneo em 18 de agosto, quando cruzou o canal de Suez para chegar ao mar Vermelho. Mas ele também pode estar em condições de atingir a Síria.
Fontes de defesa dizem que a Grã-Bretanha mantém há meses um submarino ofensivo no Mediterrâneo. Já a França acaba de reformar seu porta-aviões Charles de Gaulle, que em três dias teria condições de viajar de Toulon, seu porto atual, para o litoral da Síria.