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Assombrado pela crise, Evo assume 3º mandato na Bolívia

O presidente boliviano assumiu hoje um terceiro mandato até 2020 com o compromisso de reduzir a pobreza, impulsionar reformas na justiça e industrializar o país

O presidente da Bolívia, Evo Morales, durante cerimônia de posse do seu terceiro mandato (Manuel Claure/Reuters)

O presidente da Bolívia, Evo Morales, durante cerimônia de posse do seu terceiro mandato (Manuel Claure/Reuters)

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Da Redação

Publicado em 22 de janeiro de 2015 às 17h12.

La Paz - O presidente da Bolívia, Evo Morales, assumiu nesta quinta-feira um terceiro mandato até 2020 com um importante apoio popular e o compromisso de reduzir a pobreza, impulsionar reformas na justiça e intensificar a industrialização do país.

Em uma mensagem inequívoca de sua ideologia, o líder boliviano (2006-2010 e 2010-2015) prestou juramento com o punho esquerdo erguido "pelo povo boliviano e pela igualdade de todos os seres humanos" para ocupar o cargo para o qual foi reeleito em outubro passado com 61% dos votos.

Assistiram à cerimônia de posse a presidente Dilma Rousseff e seus colegas da Venezuela, Nicolás Maduro; do Equador, Rafael Correa; do Paraguai, Horacio Cartes; da Costa Rica, Luis Guillermo Solíz Solís; e de Trinidad e Tobago, Anthony Carmona, além de delegações de 40 países.

Em discurso na Assembleia Legislativa, Morales resumiu em uma frase seus dois mandatos anteriores: "em pouco tempo, deixamos o Estado colonial, mendigo, pedinte, e agora temos um Estado digno, que só se pode conseguir com a unidade".

A Bolívia, um dos países mais pobres da América Latina, possui um dos maiores índices de crescimento da região, com US$ 30 bilhões em 2014, e uma projeção de desenvolvimento de 5,9% para este ano, além de reservas líquidas de US$ 15 bilhões, segundo cifras oficiais.

Poder indígena e popular

Morales recebeu das mãos do presidente da Assembleia, Álvaro García, também vice-presidente da Bolívia, as insígnias da pátria: um medalhão e a faixa presidencial, que desde 2010 tem junto do escudo nacional uma bandeira "whipala", símbolo da forte presença dos indígenas e camponeses no poder.

Segundo Morales, "aqui, agora, não mandam os gringos, mandam os índios", em alusão à dependência histórica do país às políticas americanas, especialmente no campo do combate às drogas.

Morales, que desde que assumiu o primeiro mandato, em 2006, implementou políticas de inclusão social, comemorou porque "pela primeira vez as mulheres têm na Assembleia 50,09 [por cento] de representação e a maioria são (sic) Bartolinas (camponesas sindicalizadas)".

Nesta perspectiva de domínio dos movimentos populares, Morales prometeu que "até 2020 nos comprometemos e estamos convencidos de que vamos reduzir a extrema pobreza em apenas um dígito, a 8% ou 9% da extrema pobreza", que beira 20% atualmente.

Vacas magras

Segundo analistas locais, Morales se viu favorecido em seus primeiros nove anos de governo pelos altos preços internacionais das commodities, que deram destaque à nacionalização das riquezas naturais, entre elas os hidrocarbonetos, medida que tomou em 2006.

Favorecido pelo preço do gás - que exporta para Brasil e Argentina -, o Estado boliviano recebeu valiosos recursos que permitiram melhorar a distribuição da renda em benefício dos setores populares.

No entanto, na época das vacas magras, "terá que governar em um contexto de queda [do preço] do petróleo e, por isso, de diminuição dos preços do gás, ou seja, terá que fazê-lo já não mais em condições do boom econômico dos nove anos anteriores", afirmou o analista independente Carlos Toranzo.

'A Internacional' com poncho

A festa popular, concentrada na praça de armas de La Paz, onde fica o Palácio Quemado, foi marcada por música folclórica aimara, quéchua e guarani, mas chamou a atenção as centenas de indígenas, com poncho e 'ojota' (tipo de calçado) cantando 'A Internacional', canção símbolo do movimento operário.

Ao lado de Maduro e Cartes no terraço da casa de governo, Morales acompanhou o hino com o punho esquerdo erguido.

Tudo isso, apesar ter afirmado em sua entronização como líder indígena em um rito ancestral no centro pré-colombiano de Tiwanaku, que "o liberalismo e o socialismo europeu não nos servem" para apontar "o mundo onde viver bem seja nossa filosofia".

O mar e o Chile

Em meio a todos estes simbolismos, um coro entoou no ato de posse o Hino ao Mar, assim que Morales disse que "nossa demanda está bem encaminhada", em alusão ao litígio contra o Chile na Corte Internacional de Justiça (CIJ) para obrigá-lo a negociar uma saída soberana para o Pacífico.

As duas nações são as únicas da América Latina que não têm relações diplomáticas.

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