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As duras lições que o novo presidente do Chile precisa aprender 

O movimento estudantil, por exemplo, está pronto para protestar diante de qualquer sinal de recuo na promessa de expandir o ensino superior gratuito

Presidente do Chile, Sebastian Piñera: corrida eleitoral dura trouxe lições valiosas para seu segundo mandato (Ivan Alvarado/Reuters)

Presidente do Chile, Sebastian Piñera: corrida eleitoral dura trouxe lições valiosas para seu segundo mandato (Ivan Alvarado/Reuters)

Gabriela Ruic

Gabriela Ruic

Publicado em 22 de dezembro de 2017 às 06h00.

Última atualização em 22 de dezembro de 2017 às 06h00.

O retorno do bilionário Sebastián Piñera à presidência do Chile foi recebido com euforia nos mercados em meio ao otimismo renovado em relação ao crescimento econômico. Mas o novo presidente terá que avançar com cuidado se quiser evitar os protestos de rua que mancharam seu primeiro mandato.

Sua vitória na eleição de domingo por uma margem maior que a esperada é um grande estímulo para a comunidade empresarial, afetada pelos impostos mais altos e pelo crescimento mais lento durante a presidência de Michelle Bachelet. No dia seguinte à eleição, o índice acionário de referência subiu 6,9 por cento, maior alta em nove anos, e o peso chileno registrou a maior valorização desde março de 2016. A expectativa é que esse otimismo se traduza em investimentos maiores, o que, juntamente com o aumento dos preços do cobre, deve ajudar Piñera a cumprir a promessa de mais que duplicar o crescimento econômico.

Nem tudo será fácil para Piñera. O movimento estudantil que fez boa parte do país parar durante o primeiro mandato dele, de 2010 a 2014, estará observando cada medida, pronto para ir às ruas a qualquer sinal de recuo frente à promessa de expandir o ensino superior gratuito. Um campo de batalha ainda maior será a reforma da previdência, setor em que Piñera quer expandir o papel dos fundos de pensão privados. O inimigo dele em tudo isso será a recém-criada aliança de esquerda Frente Ampla, que nasceu dos protestos de rua dos estudantes.

“Piñera muito provavelmente enfrentará um movimento de protesto de rua muito mais ativo”, disse Mauricio Morales, diretor do Centro de Analistas Políticos da Universidade de Talca. “Se a Frente Ampla quiser ganhar a próxima eleição, suas bandeiras precisarão estar nas ruas com os protestos e as marchas.”

Forte e estável

A Frente Ampla obteve um em cada cinco votos no primeiro turno das eleições presidenciais, em novembro, muito mais que o projetado por todas as empresas de pesquisa e menos de um ano após a criação de uma coalizão de 14 partidos. Enquanto aliança, os partidos não endossaram o candidato da base do governo, Alejandro Guillier, no segundo turno.

“Não quero que algo seja interpretado como ameaça, nem inculcar campanhas terroristas, mas obviamente Piñera tem mais dificuldades para lidar com conflitos sociais porque tem mais problemas para gerar empatia e para se conectar com as pessoas”, disse um dos fundadores da coalizão, Giorgio Jackson, em entrevista, na semana passada.

A reforma da previdência, da educação e da saúde são todos possíveis campos de batalha para o novo governo, disse ele na ocasião.

No entanto, a magnitude da vitória de Piñera pode tirar a confiança da Frente Ampla. Além de ele ter superado Guillier por uma margem de 9 pontos percentuais, maior que a esperada, votaram mais pessoas do que se previa. Para a surpresa de todos, Piñera recebeu mais votos que Bachelet em 2013.

O bilionário retorna ao poder após adotar algumas propostas às quais se opunha quando ocupou o cargo, incluindo o ensino superior gratuito para a maioria dos estudantes e a aceitação da criação de um fundo de pensão estatal. É um sinal de que ele aprendeu com a dura campanha eleitoral.

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