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Argentinos fazem vigília para acompanhar votação da Lei do Aborto

No fim da sessão de ontem havia um empate entre os deputados a favor e contra a legalização do aborto, enquanto manifestantes se reuniram do lado de fora

DE acordo com as estimativas, cerca de 500 mil abortos clandestinos são feitos todos os anos na Argentina (Martin Acosta/Reuters)

DE acordo com as estimativas, cerca de 500 mil abortos clandestinos são feitos todos os anos na Argentina (Martin Acosta/Reuters)

AB

Agência Brasil

Publicado em 14 de junho de 2018 às 09h52.

Milhares de argentinos viraram a noite na praça em frente ao Congresso, para acompanhar a votação, na Câmara dos Deputados, do projeto de lei que legaliza o aborto. Todos estavam preparados para enfrentar o frio de 5 graus: fizeram fogueiras, montaram barracas e dançaram, ao som de tambores, pedindo aos legisladores o direito a um "aborto livre, gratuito e seguro".

A sessão começou nessa quarta-feira (13) e, até o fim da noite, havia um empate entre os deputados que discursaram a favor e contra a legalização do aborto. Do lado de fora do Congresso, ativistas dos dois lados ocuparam a praça e defendiam sua posição.

Em um canto da praça, um grupo erguia bandeiras argentinas para mostrar que defendiam a vida - tanto da mãe quanto do feto. "A legalização do aborto viola os direitos humanos da criança que está por nascer", disse a estudante universitária Simone Beltrami, em entrevista à Agência Brasil. Segundo ela, o governo deveria investir em educação sexual, em programas sociais de apoio às grávidas e em leis que facilitem o processo de adoção, em vez de legalizar o aborto.

Do outro lado da praça, uma multidão maior acenava com lenços verdes - o símbolo da campanha pela legalização do aborto.Uma das manifestantes, a médica Amparo Lopez, diz que o aborto - apesar de ilegal - sempre foi e sempre será praticado. "Ao legalizá-lo evitaremos muitas mortes", argumentou, em entrevista à Agencia Brasil. "As mulheres que não querem ou não podem ter filhos poderão interromper a gravidez num hospital, em vez de recorrer a curandeiros ou clínicas clandestinas".

Segundo as estimativas, 500 mil abortos clandestinos são feitos todos os anos na Argentina. Cerca de 60 mil resultam em complicações e hospitalizações. E muitas mulheres - a maioria pobres ou do interior - morrem por causa de abortos mal feitos. Atualmente, a legislação argentina só permite o aborto em casos de estupro ou se a vida e a saúde da mãe correrem risco.

Desde 2007, sete projetos de lei legalizando o aborto foram apresentados. Este é o primeiro que foi votado. Se for aprovado, as mulheres terão o direito a abortar livremente até completar 14 semanas de gestação. Depois disso, somente em casos de estupro, se a vida e saúde da mãe estiverem em risco ou se o feto sofrer uma malformação incompatível com a vida fora do útero.

Independentemente do resultado, o projeto abriu um debate que, segundo o presidente Mauricio Macri, foi "postergado durante 35 anos". Apesar de apoiar uma discussão "madura" sobre um assunto polêmico, Macri é pessoalmente contra o aborto. Os antecessores dele também.

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